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|| Maya Guimarães ||

📍Espanha, Madrid, Segunda-feira, 15:00.

É fato que eu na vida eu apanhei mais que bati. Porém a fé deu vários golpes pude absolver. Me esquivei de vários, por um momento caí. Verdadeiramente clamei ao pai e pude me erguer.

Desço do uber, agradecendo ao motorista pela gentileza de descer minhas malas e caminho calmamente até a entrada do aeroporto, ajustando o terninho rosa no meu corpo e o óculos no meu rosto.

Encaro o relógio no meu pulso enquanto bato meu salto no chão inúmeras vezes, tentando controlar a ansiedade.

Faltam exatos sessenta minutos, pra que eu embarque no meu jatinho com destino a São Paulo, e levando em consideração que fazem vinte anos que não piso em solo brasileiro, digamos que meu nervosismo é notável há metros de distância.

Quando dá o horário meu segurança vem me avisar que já está tudo preparado me esperando, e caminhamos juntos até a área reservada para os aviões particulares. Guardo meu óculos na bolsa e respiro fundo.

Embarco no meu jatinho deixando minha bolsa numa poltrona e pegando meu iPad conferindo os e-mails da minha secretária me avisando que o carro da empresa já está me esperando pra me levar até a sede brasileira.

Me chamo Maya Fernandez Guimarães, atualmente tenho 36 anos e moro na Espanha. Tenho um filho lindo de 20 aninhos que é o amor da minha vida, e também o principal motivo de eu estar nessa viagem.

Mas minha história nem de perto começa aqui, pra entender tudo que rolou precisamos voltar pra quando eu ainda tinha só treze aninhos de idade e morava em paraisópolis com meus pais.

Sempre fomos muito humildes, meus pais sempre batalharam muito pra me dar a melhor educação possível, e por mais que nós tivéssemos pouco, sempre fomos muito unidos e rodeados de amor.

Quando nos mudamos pra paraisópolis, meu pai acabou se envolvendo no crime, segundo ele, tava cansado de viver de migalhas, e a partir daí que tudo começou a mudar.

Minha mãe enfrentou uma depressão muito complicada pós parto, meu irmãozinho nasceu sem vida, e isso destruiu todos nós. Ela passou vários meses de cama, somente respondendo o que perguntávamos.

Depois disso não via mais sentido pra muita coisa, e comecei a viver no automático. Meu pai passava mais tempo na rua, nos seus "corres" enquanto eu me virava sozinha pra tudo e ele apenas sustentava a casa.

Me encontrei na moda desde essa época, aprendi a gostar de desenhar cada mínimo detalhe de uma peça, isso me trazia tranquilidade. Mas eu não estava preparada para o que estava por vir.

Conheci o Daniel, ou Maldonado como eu costumava chamar. Ele tinha dezesseis anos na época, e era o sonho de consumo de qualquer menina da minha idade, o herdeiro de toda aquela gestão, bonito, cheiroso, carinha fechada e nunca foi de muitas amizades.

Diferente de mim, que sempre fui extrovertida e simpática ao ponto de ter amizade com as tias da padaria até os soldados do tráfico. O que me fez acabar enfiada em muita confusão, eu admito.

E num dia andando de bicicleta acabei batendo do lado dele que me encarou já pronto pra armar um barraco, isso até ver o bico enorme que eu criei na cara, já que sempre odiei brigas.

Aquela foi a primeira vez que eu vi aquele homem sorrir. Quero dizer, dar um projeto de sorriso, porque acho que nem se ele quisesse conseguiria sorrir genuinamente. Era o que eu pensava.

Se tem algo de marcante no Daniel, sempre vai ser os olhos dele, e mais, a forma que ele me encara quando vai falar qualquer coisinha. Nunca vou esquecer dos seus olhares.

Corações InterligadosOnde histórias criam vida. Descubra agora