Corações Interligados

13

|| Maya Guimarães ||

📍 São Paulo, Paraisopolis, Sexta-feira, 20:00.

Distância nunca foi capaz. De enfrentar amor. Se o sentimento é verdadeiro. Ele supera o que for. Então que venham os desafios. Eu tô pronta pra lutar. Você nunca vai ta sozinho. Ainda vou te buscar.

Observo o Daniel igual uma barata tonta andando de um lado pro outro de forma frenética me deixando com certa ansiedade pela sua reação exagerada, não é como se eu fosse levar a Yasmin embora, só vamos ficar duas semanas lá, pra ela desfilar, tirar as fotos, e eu resolver questões burocráticas da marca.

Yasmin não para de falar um segundo tentando convencer o pai do porque a ideia é a melhor pra carreira dela, e que ela nunca pediria algo assim se não fosse tão importante pra ela, me deixando inquieta com toda a situação a minha frente.

Levanto nervosa já pela confusão que esses dois começaram e seguro seus ombros deixando o homem enorme na minha frente e encarando seu rosto, que tem uma expressão magoada e assustada, que faz meu coração apertar.

Nunca fui de me comover por olhares, porque durante a minha vida, muitos tentaram me fazer de boba, pela pouca idade, por ser mulher, sozinha no mundo, mas com certeza, eu nunca vi tanta dor em um olhar, e a coisa que eu sempre admirei no Daniel foi sua confiança inabalável no olhar.

— Maya: você poderia buscar umas coisas na mercearia pra mim Yas? - pergunto cortando seu monólogo enquanto engulo em seco o nó que se formou na minha garganta e apesar de não entender ela concorda.

Tiro meu cartão da capinha do meu celular e entrego pra ela, pedindo pra que traga algumas coisas pra aperitivo e umas cervejas, vendo ela sair ainda sem entender minha intenção e quando ela atravessa a porta, me permito soltar um suspiro enquanto sento no sofá e puxo homem grande e mal encarado pro meu lado.

— Maya: prontinho meu céu, agora fala - ele ri baixinho entendendo o que eu fiz e me puxa pra um abraço necessitado, deixando algumas lágrimas caírem no meu ombro, e eu respiro fundo entendendo o quanto isso o abalou, e faço um leve cafuné nos seus cabelos, respeitando seus limites.

— Daniel: quero ideia contigo não loira, tá me afastando, e olha a cota que já ficamos separados, fora que agora o quê? vai voltar pra aquela porra de país e ainda vai levar minha joia contigo pô - sua fala tem uma pitada de humor ácido, mas o ressentimento na sua voz me faz perder o ar por um momento.

— Maya: eu não consigo acreditar que estamos mesmo tendo essa situação por algo mal interpretado Daniel, não estamos na adolescência mais, porque você não conversa antes de ir atropelando tudo igual um trator desgovernado? - levanto rápido fazendo ele me encarar envergonhado, mas confirmando com a cabeça em seguida, e ficando em pé enquanto começa a falar freneticamente.

— Daniel: tu quer que eu pense o que Maya? Porra, vivi todos esses anos longe de tu na miséria, emocional mermo, aí por algum milagre algo bom colou no meu caminho, e tô falando da minha cria, agora tu vai embora de novo, e vai levar contigo o que eu tenho de mais precioso porra, MAYA CARALHO, ELA É A MINHA VIDA - a voz embargada com a forma que ele passa as mãos pelo cabelo demonstrando nervosismo me deixam a ponto de surtar.

— Maya: PELO AMOR DE DEUS HOMEM - grito fazendo ele me encarar assustado por minha atitude e levanto ficando de frente pra ele - para de agir como criança e conversa comigo como adulto, por acaso você me permitiu te apresentar a proposta? - ele nega com a cabeça e eu suspiro - senta aí - ele me encara confuso mas não retruca sentando na minha frente.