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|| Maya Guimarães ||

📍São Paulo, Paraisopolis, Sexta-feira, 19:30.

Seu olhar, tudo que eu preciso a luz que me aquece. Entre becos e vielas, entre a paz e o perigo. E você ali sorrindo de mãos dadas comigo. A gente se abraça, minha mão no seu cabelo eu ponho. Mas adivinha, eu acordei e era só um sonho.

Encaro o homem que olha pro Paolo parecendo assombrado, e quase bufo de raiva prestes a pular na cara desse desgraçado que ousou ameaçar meu bebê.

Finalmente seu olhar vem de encontro ao meu, e no mesmo instante sinto meu corpo todo fraquejar quando aqueles olhos encaram minhas íris. Seu brilho intenso, a dor que reflete neles, e a intensidade que eu não esqueceria nem com um milhão de anos.

Os olhos do homem que me fez viver o melhor ano da minha vida. Que mesmo sendo apenas dois adolescentes me mostrou o amor, o cuidado, a proteção que chegava a ser obsessiva.

Os olhos do meu Daniel, daquele que foi meu refúgio, meu ponto de paz, meu sossego em meio a minha guerra interna. Os olhos que ficaram gravados na minha mente em todo esse tempo.

Minha respiração descompassa no mesmo instante que meus olhos começam a marejar. Retiro minhas mãos dos braços do Paolo e do Giovani e ando com calma até o homem que eu jamais pensei que poderia reencontrar.

O espaço entre nós parece imenso, e quando finalmente me encontro na sua frente, seu olhar abaixa conforme é necessário pra ficarmos na mesma altura, já que ele sempre foi mais alto.

Levo calmamente minha mão trêmula até a pele do seu rosto, contornando a barba rala, bem preenchida e recém feita que desenha seu maxilar. Os olhos dele vacilam e fecham por um instante, sentindo meu toque com mais precisão.

Sinto minha garganta secar e novamente aqueles olhos me encaram, me tomando todo o ar que já existiu nos meus pulmões. Faço carinho na pele quente dele que deixa um sorriso emocionado escapar, me fazendo arfar por ter sentido tanta falta desse sorriso.

Ele deixa a arma que antes apontava pro outro homem mais importante da minha vida na mesa atrás do seu corpo, e passa seu braço pela minha cintura, me puxando pra um abraço..

Entrelaço seu pescoço e seus braços me prensam contra seu corpo forte, me segurando firme ali no lugar. Deixo minha cabeça pender contra seu pescoço e inalo o mesmo perfume que eu lembro dele usar há 20 anos.

Suspiro emocionada deixando as primeiras lágrimas caírem pelos meus olhos e ele suspira com a testa encostada no topo da minha cabeça. Sinto a paz que é estar em seus braços, o acolhimento que seu corpo traz pro meu, e por um momento só existe nós dois no mundo.

Nos afastamos contragosto sabendo que devemos algumas explicações, o que na verdade eu consideraria desnecessário da minha parte, já que os outros três homens presentes, devem entender muito bem a situação.

Nunca escondi quem o Daniel foi pra mim, em todos esses anos. Esclareci primeiramente pro Paolo. Que uma vez me questionou porque nunca ter entrado numa relação. E a verdade é que meu coração já tinha um dono.

Depois foi a vez do meu filho, que com quinze anos me perguntou sobre amor, e se eu já havia sentido aquela paixão avassaladora por alguém. E ele ficou tão penalizado com a história, que me prometeu rodar o mundo pra encontrar o Maldonado. Chega ser engraçado a ideia de que a filha dele é minha nora.

Corações InterligadosOnde histórias criam vida. Descubra agora