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|| Daniel Maldonado ||

📍São Paulo, Paraisopolis, Terça-feira, 16:00.

Tem amor que a gente não esquece. Que a gente cumpre tudo que promete. Que não tem hora e não tem lugar. Que não conhece a palavra acabar. Mas tem o amor. Que nós leva pra casa e mostra pra família. Que rouba minha alma e rouba minha brisa. Que me faz chorar e depois me excita.

Acho que se tem algo nesses meus quase quarenta anos de vida que eu realmente me arrependo, pode ter certeza que foi o dia que minha mulher partiu e eu nem tentei brigar pra saber seu destino.

Meu coroa tava sem vida no meio da rua, com sangue espalhado por tudo que era lado, e um buraco de bala no meio da testa. E só o que passava na minha mente era ir ver se ela tava bem.

Aquela foi a primeira vez que eu entendi que o crime nos tira mais do que deveria, quando nos faz escolher entre o corre, e quem a gente ama.

Puxo a fumaça do meu cigarro enquanto abro os stories da loira, babando na imagem dela rindo de algo que o filho "oculto" fala e de repente o próximo mostra o parque Ibirapuera. Ela tá em SP, caralho, achei que esse dia só existia nos meus sonhos.

No dia que perdi o controle da minha vida, prometi colocar o mundo aos pés da Maya se nos reencontrássemos, mas parece que a vida se encarregou disso sozinha.

Já que hoje em dia minha mulher é dona de uma marca famosa pra caralho, só anda acompanhada de umas muralhas em forma de segurança, e montada nas grifes.

Sinto minha respiração ficar ofegante e preciso controlar a mesma pra não acabar entrando em surto. Escuto passos subindo a laje e quando encaro minha pretinha, disfarço meu estado anterior com um sorriso torto.

Yasmin sabe toda minha obsessão pela Maya, convive comigo desde sempre, e desde sempre me disse pra eu ter calma e seguir minha vida, porque segundo ela "tudo que é pra ser seu, volta pra você".

Eu já sou mais da teoria de fazer acontecer agora e não perder a oportunidade, mas a minha filha é tão maluca, que se eu tivesse ido atrás da Maya em Madrid, ela me buscava a socos.

Yasmin: oi bebezinho - da um beijo no meu rosto me fazendo rir de leve pelo apelido ridículo - passei pra ver como o meu paizinho está, e também pra avisar que vou jantar com o Heitor e a mãe dele hoje, tudo bem?! - ela pergunta se sentando do meu lado e dando um tapa no meu baseado, me fazendo encarar ela serinho - velho desse jeito, fumando essas porcarias, qualquer dia morre - murmura irritada e eu reviro os olhos pela ousadia da maluca.

Maldonado: quero saber quando esse moleque vai ter cara de se apresentar pô, quase um ano juntos e até agora não deu nem cheiro por aqui - murmuro irritado ascendendo outro cigarro enquanto me refiro ao "noivo" da Yasmin.

Os dois se envolveram há quase um ano, ela não teve nem a cara de me contar, descobri porque a contenção da bonita me passou um radinho, e só não desci a bala no playboy porque minha filha é toda boba pelo moleque.

Tem que ver, sorri pro vento quando fala do cara, sem falar no jeito que ele trata ela, manda flores toda semana, chocolate na tpm, só nesse ano que tão juntos, minha filha já mudou o guarda roupa de tanto presente que ele dá.

No começo achei que fosse um lance passageiro, só diversão, tudo que a maioria desses desgraçado procura, mas o moleque mostrou que não tá pra brincadeira quando colocou um anel de brilhante na mão da minha piveta.

Só não coloquei o marmanjo pra correr ainda, porque ele me ligou explicando que ainda não marcou de me conhecer porque a rotina da carreira é corrida sendo produtor e tendo que viajar toda semana.

Se não. Juro pela minha vida, que já teria castrado o bastardo com minhas próprias mãos.

Yasmin: vou conversar com ele hoje paizinho, ver se ele concorda em a gente fazer um jantar de noivado essa semana ainda, tudo bem?! - sorrio contente por ter essa maluca como filha e ela deixa um beijo no meu rosto.

Maldonado: pode passar lá no teu padrinho e buscar meus whisky? Maya tá em sp, e pra eu não pegar o rumo dela agorinha, só ficando muito alto de bebida e droga - ela ri baixo revirando os olhos e concorda com a cabeça - pega aqui pô - alcanço um malote de 1500,00 pra mesma que me olha assustada - vai pro salão ficar mais gata, não é todo dia que a gente conhece a sogra né - digo despretensioso fazendo ela gargalhar e me encher de beijos me agradecendo.

Vejo a mesma levantar saindo dali e descendo novamente a laje enquanto eu fumo meu cigarro encerando o céu azul é bonito que se instalou na cidade da garoa hoje.

Efeito que a loira trouxe diretamente de Madrid, certeza, até meu peito tá limpo depois de ver que ela tá em solo paulista.

Namoral, acho que ninguém entenderia o que a Maya traz pra minha vida, minha menina, minha mulher, minha luz pô.

Eu já tive tempos difíceis, já comi literalmente o pão que o diabo amassou pra me manter vivo, e o que manteve minha sanidade intacta nesses momentos, era lembrar daquele sorriso, dos nossos momentos de grude.

Eu odeio qualquer demonstração de afeto, mas se ela vier das duas mulheres mais importantes que já tive, não tenho caô nenhum.

Meu maior problema nessa porra é saber que ela nem deve lembrar de mim, nunca vi nada dela direcionado da onde ela saiu. Em algumas entrevistas ela falou apenas o básico, que saiu de um lugar humilde, que passou muita dificuldade com os familiares, e que perdeu a mãe em uma tragédia.

Namoral, nem tiraria a razão da mina de não querer ver minha cara, devo lembrar o pior momento da vida dela, onde o pai matou a mãe a sangue frio.

Mas pra falar bem a verdade, sou egoísta demais pra deixar ela partir sem tentar ter algo. Podem se passar cinquenta anos, toda vez que eu ver aquele sorriso e escutar aquela risada, os efeitos no meu corpo serão os mesmos.

Respiração ofegante, coração prestes a sair pela boca, mãos suando. Ela é minha droga, meu maior vício. E eu só queria ser honrado de ter seu amor.

Mas sou um fodido. Todo errado mermo. Ladrão, traficante, assassino. Chefe de uma das maiores gestões do PPC.

Queria ter um emprego digno, poder dar a cara e ser visto do lado dela. Reconhecido como marido da mulher mais gostosa que a internet já viu.

Mas mermo que a gente se acerte, nunca vou poder dar uma vida normal pra ela, sempre na camufla pra não ser preso.

Me deixo viajar enquanto entro num transe de bebida e droga ali, tentando esquecer as paranóias e inseguranças que me tomam.

Me deixo viajar enquanto entro num transe de bebida e droga ali, tentando esquecer as paranóias e inseguranças que me tomam

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Corações InterligadosOnde histórias criam vida. Descubra agora