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|| Daniel Maldonado ||

📍São Paulo, Paraisopolis, Sexta-feira, 19:00.

E hoje mesmo separados sinto, que o seu corpo ainda é meu. Às vezes me escondo, e faço de tudo pra ninguém notar que eu. Vivo e morro por ti. Tem semana que as vezes sofro e vem as recaídas.

Termino de vestir o "look" escolhido pela Yasmin, e bufo irritado em ter que fazer parte dessa palhaçada. Ela chegou quarta-feira toda feliz e sorridente me dizendo que a sogra é um doce de mulher. Bem sucedida, educada, e que ela pediu pra escolher um lugar pra jantar hoje, e as famílias se conhecerem.

Quero só ver a madame nariz empinado e seu respectivo marido me olhando de cara feia por ter escolhido o paraíso na laje, e pior, por ser favelado e trabalhar com o tráfico.

Desço as escadas pra sala enquanto ajusto meu Rolex no pulso, e as correntes no pescoço. Parando no banheiro apenas pra reforçar o perfume.

Pego minhas chaves, carteira, glock e radinho. Conferindo as mensagens dos meus soldados no meu celular, avisando que minha área vip já tá reservada no restaurante.

Ignoro as mensagens das inúmeras mulheres me chamando pra um programa mais reservado, e abro meu Instagram, procurando minha dose diária de endorfina.

Antes que eu consiga abrir o storie da loira, escuto um grito vindo do alto das escadas e no mesmo instante a maluca da minha filha aparece toda afobada com pressa.

Yasmin: essa roupa ficou boa pai? - pergunta ansiosa e analiso seu corpo dos pés a cabeça sorrindo em ver o vestido tubinho preto marcando suas curvas e a sandália de amarrar na panturrilha branca destacando suas pernas.

Digamos que ser pai solteiro de uma das mulheres mais vaidosas que eu já conheci na minha vida, me ensinou principalmente a admirar os mínimos detalhes da beleza feminina. Mas só uso esse meu "dom" com minha bonequinha, nenhuma outra foi merecedora.

Os cabelos negros soltos e lisos pelos ombros, e uma maquiagem leve apenas destacando os detalhes do seu rosto, acompanhado pelo batom vermelho.

Maldonado: tá impecável bonequinha - digo pra mesma que sorri toda boba me abraçando animada - bora? Tô apresentável pros narizes empinados do teu noivo? - ela ri baixinho negando com a cabeça com meu jeito emburrado de murmurar desanimado.

A maluquinha pega minha mão, me puxando porta fora, e entrando na minha audi, colocando o cinto no banco do passageiro, como se fosse a dona do carro, me arrancando um riso.

Faço um sinal discreto pra minha contenção, que entende de imediato me mandando um joinha como resposta. Entro no carro ligando o rádio na playlist que ela salvou já tem um tempo.

Começamos a cantar "oitavo anjo" que começa a tocar, e quando estaciono na vaga reservada pra mim em frente ao restaurante, desço do carro e espero ela sair também.

Passo minha mão pela sua cintura, trazendo seu corpo pra minha frente, e caminhamos no mesmo ritmo até subir até o reservado. Faço um sinal de cabeça cumprimentando quem me cumprimenta, mantendo minha expressão séria.

Yasmin demorou entender que eu quero apenas a proteção e segurança dela, quando era mais nova, dava cada surto dizendo que eu não podia ter ciúme até de olhares. Mas quando um assediador de merda subiu da pista e tentou pegar ela a força, ela entendeu minhas paranóias.

Corações InterligadosOnde histórias criam vida. Descubra agora