De primeira o fogo me assustou, mas quando percebi que ele não passava de apenas uma chama que não tinha lugar algum para ir, puxei uma cadeira e me sentei ao seu lado.
Savannah é como qualquer outra cidade na costa ou perto dela. É bonita, pacata, as luzes que vem dos prédios e das ruas são amigáveis, o som das pessoas ou das buzinas dos carros não são estressantes e o cheiro de comida dos diversos restaurantes que movimentam o turismo na cidade se misturam e me faz querer ir em cada um deles. Savannah é meio Savannah, é como olhar para mais uma ruiva dando de ombros na rua. Não é nada tão novo.
Penso se queimar o quadro, o meu quadro, pintado por Matt foi uma boa escolha. Penso que talvez eu queira alguma recordação em seu nome. Penso que algum dia irei pensar em motivos para não ter queimado o quadro e me arrependerei da forma mais amarga por isso. Porém nada de bom surge quando olho para ele. É como olhar para uma Savannah da forma mais depreciativa que existe.
Foi cruel da parte de Matt pintar pedaços deploráveis de uma história que não era dele. Eu poderia ter gritado na frente de todas aquelas pessoas, poderia tê-lo envergonhado e dito que tudo o que havia naquelas paredes não era fruto da sua criatividade, dos seus sentimentos. E sim dos meus e da minha mãe. O homenzinho era uma mulher caída no meio do mar de sofrimento. Toda aquela angústia não era dele, e isso me assustou um pouco.
Eu poderia ter feito tanta coisa além de chorar e rir naquela galeria de artes que nem ao menos me importei de dar uma olhadinha no nome, ou fiz isso, mas esqueci. Finalmente meu cérebro está começando a funcionar direito, está começando a eliminar as memória que eu quero que sejam eliminadas. Agora gosto dessa função, ela está me deixando menos triste.
Queimar esse maldito quadro foi, com toda a certeza que tudo o que aconteceu naquela galeria e antes dela, a melhor decisão a ser tomada. Ver aquela mulher, Meredith, e Jake, seu filho com o Matt, doeu. Ele quis ter uma criança com ela, ele quis criar aquele garoto e amá-lo e dar uma galeria cheia de quadros tristes. Ele quer fazer de tudo por Jake e pude notar pela forma que pediu para que eu saísse de lá. Ele não queria que o menino visse o possível escândalo que nem era tão possível assim.
Ele me esqueceu mais rápido do que pensei que esqueceria. Matt só me esqueceu como se não estivesse um pedaço de mim nele também. Porém, ao lembrar de Jake, de ver como o menino é crescido, penso se Matt não teve participação no nascimento do menino. Ou se ele e Meredith já estavam enrolados a um bom tempo antes que ele tomasse coragem de seguir o seu maldito caminho de felicidade. Isso me conforta. Saber que existe uma possibilidade de Jake não ser filho biológico de Matt me deixa menos triste. Mas o fato dele estar disposto a criar o menino anula qualquer resquício de felicidade.
O fogo se apaga, um buraco está aberto no meio do quarto e o chão da varanda do hotel está um pouco sujo. Não sei se essa foi uma boa ideia.
"No que está pensando?" Adam pergunta, quase realmente ao meu lado.
"No Matt." Respondo de prontidão mesmo que eu esteja devaneando.
No meu pai...
Pai...
Essa é uma palavra tão confusa.
"Filho da puta...eu posso bater nele se você quiser."
A sugestão me faz abrir um sorriso sincero, "Não precisa."
"Tem certeza?"
Olho para ele, na sacada do quarto ao lado escorado na grade de proteção, "Tenho, obrigada. Estou bem, mas preciso esquecer dele assim como ele me esqueceu."
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Polos Opostos
RomancePela primeira vez em anos, o time de futebol da Hill Davis School foi classificado para o Campeonato Anual de Futebol Americano da Carolina do Sul. A competição reúne escolas de toda a costa como uma tentativa de incentivar os alunos a seguirem o es...