Polos Opostos

Capítulo 18 - Encenação

Quando recebi o vestido no hotel, me perguntei o motivo de não recorrer a Lockwood mais nova para tentar resolver as minhas questões. Dylan é esperta e tem um dom surpreendente de saber das coisas antes mesmo que elas estejam acontecendo. Ela é a minha melhor amiga, a conheço muito bem e sei que moveria montanhas para descobrir algo sobre o meu pai. Ela certamente é o caminho mais fácil.

Seria necessário apenas uma pergunta olhando para seus olhos esbugalhados e curiosos naquele tom brilhante de azul. Não seria necessário passar uma noite com Adam Lockwood e a sua babaquice. Não seria necessário fingir por horas ser a sua namorada. Ser a sua pesca. Esse termo está tamborilando na minha cabeça desde o City Market, juntamente com o olhar estranho de Tracy Vellack rainha da simpatia.

"Tracy Vellack, chame-a assim."

Reviro os olhos ao lembrar da frase dita em um tom tão sério para alguém que não gosta de seriedade. Alguma coisa me diz que Tracy Vellack não foi apenas um lance de verão que não deu certo. Até mesmo Adam e o seu nervosismo ao vê-la entregou o fato de que a garota não foi apenas algo casual. Bom, estar indo para um baile beneficente fingindo ser algo que não sou também deixou isso bem explícito.

Aceitei ajudar Adam nessa enrascada, mas basta uma ligação para Dylan (que saiu com Daniel e Cal para uma sessão de cinema) que ela virá correndo com as respostas para a minha pergunta. E claro, eu não precisaria continuar fingindo que peguei um resfriado. Eu poderia fazer isso, poderia ficar no quarto de hotel indecisa entre responder ou não os anseios da minha mãe ou madrugar vídeos de dicas de líderes de torcida no youtube para o jogo de amanhã.

Porém, quando terminei um elaborado rabo de cavalo e coloquei duas mechas encaracoladas para frente, percebi que realmente iria fazer isso. Percebi que estava perdendo um tempo de qualidade com os meus amigos para ir em uma festa e ajudar Adam. Eu nunca o ajudaria. Eu nunca o ajudaria sabendo que conversar com Dylan também é uma opção. Mas por algum motivo eu estou aqui, saindo descontente de um carro por aplicativo.

Carros de luxo estão estacionados na grandíssima entrada, uma fonte cheia de estátuas de anjos jorra a água mais límpida que já vi enquanto algumas poucas pessoas de trajes deslumbrantes passam. A mansão cor de creme tem três andares e não consigo determinar onde ela acaba. Lá dentro, as enormes janelas mostram as luzes em um tom profundo de amarelo, juntamente com uma música calma ultrapassando as paredes. A alta sociedade de Charleston está toda aqui, e por alguns instantes, me sinto uma intrusa.

Suspiro ao observar Adam perto da escadaria que leva até a casa. Ele encara o relógio no pulso e respira fundo, como se não aguentasse mais esperar. Adam está de terno, e nenhuma das peças escapou do tom de preto fosco, tão escuro que quase chega a ser um azul marinho. Os fios do cabelo estão puxados para trás e nunca o vi tão arrumado. Eu nunca o vi tão...

Ele finalmente parece notar a minha presença quando paro a alguns metros, ficando mais reto, parecendo surpreso. Confesso que, quando pedi o vestido, nunca pensei que ele levaria a exigência a sério. O tom de lilás claríssimo com o brilho discreto combina com o meu tom de pele, o vestido de alças finas e decote reto desce até os tornozelos em um modelo reto e com uma fenda lateral discreta. Ele é levemente justo na minha cintura, o que certamente me deixou contente por ter valorizado as curvas extravagantes do meu corpo. A estola de cetim branca cai dos meus ombros quando começo a andar na sua direção, mostrando que cada peça dessa roupa foi uma boa escolha.

Ele suspira quando finalmente me olha nos olhos, "Você está...terrível."

"E você é um...babaca." Dou um sorriso vendo-o sorrir também. "Sobre o vestido, você tem bom gosto. Então, obrigada."

"Eu sei que tenho, ou você não estaria aqui." Semicerro os olhos, tentando direcionar a resposta para uma explicação que faça sentido. Não consigo.