Apoio a perna ruim nos degraus da escada de casa, sentindo a dor voltar com força para destroça-la um pouco mais desde a queda.
Olho para a varanda da casa vizinha, a porta entreaberta. Além da dor, minha mente grita pela expectativa de vê-la saindo pela porta novamente. Durante os meses que se passaram, tudo que vi foi relances de um cabelo escuro e longo, andando pelas janelas da casa vizinha.
No primeiro mês ela não se deu ao trabalho de sair de casa, as luzes do quarto estavam sempre apagadas como se não quisesse receber visita. Karen comentava a todo instante o quanto ela estava mal, e em todas as vezes me senti extremamente culpado por aquilo.
Não podia simplesmente voltar e falar com ela como se nada tivesse acontecido, como se tudo que eu disse, como a forma que menti, não tivesse a magoado tão profundamente ao ponto de não sair da cama. Eu estava irritado. Confuso. Pensei que poderia continuar brigando com ela, porque ela voltaria. Me enganei. Reese não voltou.
Mas ela está ali. A passos de distância. Entrou em casa apenas para pegar alguma coisa. Talvez um taco de beisebol, e ao invés de acertar a lixeira na rua, o destino do taco será a minha cabeça burra.
Reese me chamou de idiota tantas vezes, porém só vim me acostumar com essa ideia agora. De que sou um idiota por ter mentido tantas vezes para ela por medo. Eu tenho medo e só agora consigo admitir isso para mim mesmo.
Eu tenho medo. Eu tenho medo. Eu tenho medo. Eu tenho medo.
Eu ficaria bem vestindo uma camiseta com essa frase. Deixando que outras pessoas soubessem que não sou, não completamente, o cara invencível. Também não sei se as pessoas me acham invencível, mas sei que algumas delas me acham idiota.
Karen desde que colocou os pés dentro dessa casa.
Meu pai desde que eu nasci.
Reese em seus dezessete anos de vida.
E Dylan nos últimos três meses.
Estaria sendo ingrato se dissesse que ela não moveu um músculo para me ajudar. Minha irmã me ajudou a andar até o banheiro, me vestiu como se eu fosse um bebê, fez comida e me entregou coisas dia e noite. Ela não cansou. Ela não reclamou. Ela me ajudou. Porém fez tudo isso em um completo silêncio.
Tudo que recebi de sua parte foi comandos. Fique assim. Deite ali. Sente dessa forma. Não pegue isso. Pegue aquilo. Como se eu fosse um cachorro e ela a minha adestradora.
Os Lockwood não gostam muito da verdade, mas a verdade é que Dylan está com raiva. Com raiva de mim. Da Reese. De Daniel, seja lá o motivo. De todo o mundo. Ela se apressaria no início do verão para estudar artes em Nova York, contudo ainda está aqui, cuidando do seu irmão porque carregamos o mesmo sangue.
Eu sei o motivo da sua raiva. Eu sei. Ela sabe. Exceto a Reese.
A porta atrás de mim se abre, o cabelo platinado da minha irmã que já começa a mostrar a raiz escura aparece na varanda.
"Vamos entrar." Outro de seus comandos.
Olho para a casa ao lado, ainda não há nenhum sinal dela, "Não posso."
"Adam, vamos."
"Estou esperando uma pessoa."
Ela se aproxima, estreita os olhos grandes demais para serem estreitados, observa a porta entreaberta da casa ao lado e abre um sorriso amargo.
"Não deveria, mas ainda estou surpresa com isso."
"Eu só quero conversar com ela." Respondo. "Ou eu acho que é isso que quero."
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Polos Opostos
RomancePela primeira vez em anos, o time de futebol da Hill Davis School foi classificado para o Campeonato Anual de Futebol Americano da Carolina do Sul. A competição reúne escolas de toda a costa como uma tentativa de incentivar os alunos a seguirem o es...