Capítulo 28 - Flamejante

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A última imagem que vejo antes das portas fecharem é o sorriso falso de Penellaphe. A escuridão nos toma dentro do armário de madeira estreito. Estou paralisada e ao mesmo tempo inquieta. Não consigo respirar mesmo que minha respiração esteja acelerada demais. E acima de tudo e de todos, estou extremamente confusa.

Se eu encontrasse a Reese Ransom de dias atrás e dissesse que estaria dentro de um armário pequeno demais para não ser de brinquedo com Adam Lockwood; vizinho, capitão do time e arqui-inimigo, ela não acreditaria. Ela riria da minha cara e me ignoraria, não sem antes revirar os olhos e sair como se o seu eu do futuro não significasse nada. Mas eu significo alguma coisa. A minha opinião importa neste jogo que prometi que não iria jogar.

Não no jogo idiota de Penellaphe, e sim no meu jogo com o Adam. Nós temos um jogo de cão e gato, e às vezes é até divertido jogar, mas na maior parte do tempo tudo o que sinto é uma extrema confusão de quem nós somos e do que estamos fazendo. O que eu senti quando estava lá fora ainda está aqui, brincando com a minha mente e bagunçado as funções do meu corpo.

Foi uma sensação diferente, uma sensação intocada e quase morta em meu corpo. Eu sei o que foi, não sou tão ingênua apesar de ter sentindo pouquíssimas vezes. Porém não ouso falar em voz alta. Não posso. Seria como assinar a minha carta de suicídio.

Após um tempo de silêncio, ouço Adam suspirar atrás do meu corpo, ele está tão incrivelmente perto que quase me faz derreter como manteiga no piso.

"Pode parar?" Peço, incomodada com tudo à minha volta. Por mais que essa volta seja pequena demais para caber duas pessoas.

"Não já concordamos que você precisa esperar que eu te insulte um pouco mais para começar a revidar?" A voz baixa e sarcástica está próxima demais da minha orelha, ele está perto demais.

Que diabos está acontecendo!?

"Até a sua respiração é um insulto para mim, Adam." Retruco.

"Está incomodada com a minha respiração?" Ele questiona, levemente incrédulo.

"Sim! E você está perto demais."

"Estamos, literalmente, em um cubículo. Estar perto demais é inevitável." Esclarece, mas ainda não é o suficiente para acalmar os meus ânimos.

"Ainda estou incomodada."

"Foi você quem escolheu consequência."

"Fui idiota." Resmungo.

"Podemos tirar uma vantagem disso." O tom insinuante me faz estremecer.

Decido cortar o que ele pretende fazer antes mesmo que comece, "Ainda não gosto disso, então pode calar a boca?"

"Você não parecia incomodada antes." Adam diz, e sinto seus dedos nas pontas dos meus fios escuros. "Não parecia nenhum pouco incomodada em me olhar enquanto Penellaphe deixava a sua marca em meu pescoço."

Estremeço quando sua voz fica cada vez mais baixa e mais perto. Só consigo suspirar de forma idiota ao mesmo tempo em que percebo que ele está desfazendo a minha trança.

"Todos estavam olhando." Argumento, encarando a fresta das portas de madeira que me oferece um rastro de luz que não é o suficiente para clarear o armário.

"Mas você estava olhando de uma forma diferente." Há algo estranho na sua voz, não um estranho ruim, e sim um estranho bom. Uma sensação inquietante volta para me dá rondar e agora não posso negar o que estou sentindo. "Você gostou?"

A minha trança se torna apenas um borrão do que já fora nas ondas que devem ter sido formadas no meu cabelo. Quero protestar, quero perguntar o motivo dele ter feito isso, mas não consigo.

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