𝑮𝒂𝒓𝒐𝒕𝒂 𝒊𝒎𝒐𝒓𝒕𝒂𝒍

Cap. II - The Lover

~𝐉𝐀𝐌𝐄𝐒 𝐃𝐑𝐀𝐂𝐎~
[1660s]

A milênios atrás, o Marquês do inferno, nosso deus Amom, conseguiu sua forma humana após ir de encontro com um mago que o tornou um homem demônio. Metade homem, metade humano. Amom tinha o poder de escolha para se transformar em um homem quando bem entendia.

Em uma de suas vindas para a terra, ele se apaixonou por uma feiticeira do caos, Samantha Levine. Após ter se relacionado com uma bruxa, Amom criou uma nova espécie no ventre de sua esposa. Que nem ao mesmo ele sabia que poderia ser tão forte como é.

À partir disso, da relação de uma bruxa com um deus demônio, os vampiros surgiram no mundo. Seres grandiosos, com asas enormes e negras, presas afiadas, pele pálida e olhos tão vermelhos quanto as paredes do inferno, surgiram. Nós evoluímos juntamente com a humanidade, se alimentando deles e os assombrando onde passamos.

Ser criação de uma relação entre uma feiticeira e um demônio nos trouxe diversos benefícios, como a imortalidade que temos. Nossa raça se multiplicou cada vez mas quando descobrimos que dava para transformar humanos em vampiros.

Mas nem tudo são flores. Os deuses, irados com o feito de Amom, nos condenaram. Qualquer vampiro, nascido no berço de sangue com sua linhagem pura, está fadado à passar o resto de sua vida procurando sua alma gêmea. Sendo ela imortal, ou não.

Em minha família, todos nascemos assim. Quando eu ainda estava em processo de formação, eu e minha família vivíamos na cidade de Northfell. Eles viveram séculos naquele palácio até nos descobrirem. Agora, muito de meus parentes estão espalhados por aí, as escondidas na escuridão, para que ninguém os encontre.

Mas eu fiz diferente, consegui subir a corte maior sem ninguém perceber que sou um deles. Consegui me manter por anos sem que reparassem que sou um vampiro. Sempre fiz diferente para que nunca notassem o que realmente sou. Mas sempre senti que algo estava faltando.

E eu sinto, sinto que é ela que falta. A mulher dos meus sonhos. Estou atrás dela há dezoito anos, desde que senti a sua presença e virtude. Quando penso nela, rosas vem em minha mente, tão vermelhas como o sangue que corre em suas veias. Sinto sua existência humana e farei de tudo para encontra-lá o mais rápido possível.

Eu preciso encontrá-la. Preciso tê-la. E ela precisa de mim. Sinto seu cheiro ficar cada vez mais forte quando estou no Norte, e é para lá que estou voltando. Voltando para aquilo que o destino intitulou meu.

— Milorde — Escuto a voz de Corcell me
arrancar de meus pensamentos.

— Sim? — Volto minha atenção para ele.

— Estamos chegando no Palácio Hollow. Estamos voltando para casa — Ele sorri. A notícia me anima.

— Corcell, ninguém pode saber que eu já morei lá. Temos que fingir que nunca estivemos por aqui e que não conhecemos nada.

— Me certificarei disso — Ele faz uma breve pausa em suas palavras. — Tem certeza de que sua alma gêmea está em Northfell?

— Tenho quase certeza. Sinto sua presença mais forte do que nunca. Seu cheiro, sua alma e existência, me deixam alucinado.

— Que assim seja então, senhor.

— Vamos torcer pra que ela esteja aqui — Observo a floresta densa e viva ao lado de fora.

A floresta é rapidamente substituída pela enorme entrada de pedra bruta da cidade, guardas liberam nossa passagem após Corcell ter uma breve conversa com eles.

Atravessamos a cidade por completo para chegar até o palácio, que é mais perto da floresta do que da própria cidade. A entrada continua a mesma, enormes portas de madeira e pilares de pedra escura. A casa Hollow é conhecida por suas torres altas e de aparência macabra, assim como minha mãe e minha avó gostavam.

Quando entro as mudanças já estão organizadas, a casa já não está mais empoeirada e os serviçais já estavam arrumando tudo. Tudo parecia tão organizado quanto da ultima vez que vi. Entro e observo tudo maravilhado com o ambiente aconchegante.

— Corcell — Trago à atenção de meu escudeiro para mim. — Me faça um favor.

— Claro milorde, o que deseja?

— Prepare a sala de ritos e a mantenha organizada para mim, estou confiante de que ela está aqui.

— Senhor. Você tem certeza? - Ele diz apreensivo.

— Faça o que eu lhe peço — O olho por cima de meus ombros. — Tenho certeza que é aqui que irei encontra-lá.

— Ok Milorde — Ele diz se afastando e indo até a enorme porta que leva a debaixo da casa.

Subo e vou até meu quarto, ele continua o mesmo, ao tirar o fato de que todos os meus antigos brinquedos de criança já não estão mais aqui. Minhas tintas e pinturas já estão organizadas, ao lado de um enorme quadro em branco.

Abro os botões de minha camisa e ergo as mangas. Me sento e começo a pintar o que vêm em minha mente. Apenas sinto e o pincel se move.

— Senhor, já está tudo pronto e... — Corcell diz enquanto abre a porta e olha em minha direção. — Está pintando?

— Noite passada eu sonhei com ela.

— Viu seu rosto?

— Não. Não consigo me lembrar de seu rosto, ela tinha enormes cabelos negros e uma pele pálida. Ela estava usando um belo vestido vermelho com bordados dourados. Era perfeita. — Continuo pintando sem parar. — Em um momento no sonho, observei seus olhos. Castanhos avermelhados. É apenas de seu olhar que eu me lembro.

— Ela parece ser muito bonita — Ele diz.

— Ela deve ser a mulher mais linda que vou ver em toda minha vida

— Sabe milorde — Corcell diz enquanto se aproxima. — Ouvi as empregadas comentarem de uma jovem, aqui da cidade, que é tão bela quanto à moça que você sonha.

— Como assim?

— Elas disseram um nome, acho que Lucy, Lucy Silver. Dizem que é a mais bela jovem de toda a região Norte.

— Sabe me dizer como ela é?

— Não escutei, mais acho que se a ver, saberá se é ela.

— Certo, preciso conhece-lá então.

Observo o esboço de minha pintura, e está pronto. A jovem que vem aparecendo em meus sonhos agora está na tela. Seu rosto está borrado, mas suas vestes aparentemente caras e seu cabelo bem arrumado ainda estão ali. Ela continua sendo a mais bela jovem que eu já vi em toda minha vida, mesmo com o rosto borrado.

Com a ajuda de Corcell pego a enorme pintura e à enquadro. Levo-a até o corredor principal e penduro no meio do corredor. Uma pequena mesinha está abaixo da pintura junto com uma jarra de água e rosas dentro.

A admiro com clareza e meus olhos se iluminam. Preciso encontrá-la, preciso te-lá.

— Você ainda será minha querida. Nem que eu queime essa cidade inteira.

[...]