Son não fala com Richarlison em nenhum momento, desde que o brasileiro explica como tudo aconteceu ao conhecer Love, até quando eles chegam no carro. Ao longe, o barulho da festa é algo tão distante que parece ser uma memória, embora ainda esteja acontecendo enquanto o coreano liga o carro e dá à partida. Claire e Triz os acompanham logo atrás, mas o brasileiro mal as nota. Ele tem seus olhos fixos em Son, que não olha para ele, o rosto virado para a estrada.
— Son... — Richarlison o chama. Ele sabe que o coreano está chateado, mas isso não o impede de ficar preocupado. Logo quando as coisas estavam se acertando. — Olha pra mim.
O coreano não o responde, exatamente como as outras vezes em que Richarlison fez o mesmo pedido, antes que chegassem no carro. Son dirige com uma das mãos no volante e a outra mão no queixo, a expressão séria. Ele transborda de raiva, o que faz o jogador lembrar de quando eles discutiram sobre Becker e os homens mascarados.
Ah, é verdade. Eles sim são os culpados de tudo.
Richarlison mal consegue respirar – seu coração bate tão rápido que parece estar prestes a saltar para fora. A voz de Love no telefone, pedindo ajuda, é como um eco dentro de sua cabeça, repetindo várias e várias vezes. Ele quer não se sentir culpado, Love provavelmente está investigando sozinha muito tempo antes de se juntar a ele e Claire. Mesmo assim, a sensação cortante de culpa perfura sua garganta com tanta violência que a única coisa que ele consegue dizer é:
— Son. Olha pra mim.
O brasileiro quer tocá-lo. De uma hora para outra, sentir a pele de Son entre seus dedos parece ser a coisa mais reconfortante do mundo. Ele não consegue parar de lembrar do toque do coreano minutos atrás, da sensação de euforia percorrendo seu corpo, da eletricidade latejando irradiando seu peito... Mas a voz de Love volta em sua cabeça e tudo se desfaz. Após isso, a sensação de culpa corta seu pescoço mais uma vez e o ciclo recomeça. E, no fim de tudo, Son ainda não olha para ele.
O caminho do prédio abandonado até o dormitório norte não devia ser tão longe, mas a ansiedade, a preocupação e a tensão faz com que todo o percurso seja atravessado como em uma espécie de labirinto. Richarlison se vê em uma quantidade infinita de árvores, estrada e silêncio, a falta de notícias de Love deixando tudo ainda pior. Ela está sozinha com eles agora.
O telefone de Richarlison toca e é a única vez em que Son vira o rosto, mas o nome de Claire aparece no visor.
— Não conseguimos falar com ela. — A voz de Claire é transtornada e parece óbvio que ela estava chorando. Richarlison não consegue ouvir a voz de Triz, embora ela esteja ali, dirigindo. — Fica calmo, Richie. Ela está bem.
Richarlison quer gritar que não tem como saber se Love está bem. Ele quer lembrá-la que os homens mascarados são prováveis psicopatas e que estão destruindo o quarto de Son nesse momento. O brasileiro consegue imaginar Love, sozinha, escondida embaixo da cama, com a mão na boca e os lábios tremendo. As lágrimas manchando sua maquiagem e rezando para que não a descubram. Richarlison vê a máscara dos homens em sua lembrança: o objeto sem rosto, como o véu de uma feira assustadora, sombrio, mal sendo capaz de ver os olhos. Seu corpo se arrepia.
— Estamos chegando. — Son diz, mas não em um tom que faça Richarlison se sentir melhor. É mais como um: se prepare para sair do meu carro.
O brasileiro observa a entrada do dormitório norte enquanto eles se aproximam. O lugar deveria ser bem monitorado e ter algum segurança na porta, sem contar ser impossível que ninguém tenha escutado toda a barulheira. Tudo parece a mesma coisa: a grama escura, a entrada vitoriana e o prédio alto. É apenas quando os dois saem do carro, mal parando para esperar Triz e Claire, que eles podem ver o que real aconteceu. As pernas de Richarlison tremem.
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The Tottenham Court (2son)
Fiksi PenggemarRicharlison é o novo integrante do time de futebol da Universidade de Tottenham, famosa pelo seus talentosos atletas e por ser a chance de ouro para qualquer um que queira entrar em um time importante em todo o continente europeu. No entanto, o bras...