Capítulo 3

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— ...
— Quantos anos vc tem? -perguntei só pra descontrair, já que sua mãe já havia me dito.-
— Você é surdo? minha mãe lhe disse, tenho 7.
— Tem razão. Perguntei somente para ouvir tua voz, já que não parece uma tarefa fácil.
— ...
— Quer fazer o que?
— Nada.
Ficamos em um completo silêncio. Peguei algumas pedras e comecei a tacar no lago que estava a nossa frente, quando olhei para o lado, lá estava ela fazendo a mesma coisa. Criamos nossos intervalos, ora tacando pedra, ora nos encarando sem nada a dizer. Não era um silêncio desconfortável como a maioria dos silêncios, era somente, silêncio. Sensação de paz e não agonia, por algum motivo seus olhos me puxavam completamente.
Depois da conversa de nossos pais eles praticamente nos obrigaram a "brincar" juntos, ela estava assustada, parecia um ratinho medroso, levei-a para o lado mais silencioso do lado de fora de nossa casa para que ela pudesse se acalmar. Ela quase não falou durante todo o percurso e muito menos quando chegamos lá. Eu fingi não me importar, mas eu estava doido por um pingo sequer de qualquer palavra que ela pudesse dizer.
Depois de muito tempo sem dizer uma única palavra, somente ouvindo o som da água sendo acertada com uma das pedrinhas ela começa a falar
— Não queria ter vindo. Fui forçada a vir pelos meus pais que não podiam me deixar sozinha. -disse ela, aparentemente querendo justificar seu modo rude de me responder anteriormente.-
— Eu também não. Não gosto de festas, são barulhentas, mas também não tive opção já que a festa é na minha casa.
— Me chamo Katie.
— Me chamo Miguel.
E seguimos em silêncio por algumas horas até seus pais a chamá-la para irem embora. Éramos crianças nada convencionais, deveríamos estar brincando ou algo assim, como as outras crianças que estavam do outro lado da casa correndo como um bando de vira-latas, mas nem eu e nem ela éramos assim. E nos entendemos talvez justamente por isso.

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