Cheguei do trabalho apressado, minha mãe havia ligado para o mercado dizendo que uma infelicidade havia acontecido, logo imaginei do que se tratava.
Ao chegar em casa recebo a notícia que meu pai já não fazia mais parte desse mundo, ele faleceu durante a manhã, o que eu pensei estava correto.
Meu pai estava doente nas duas últimas semanas, chamamos muitíssimos médicos e todos eles afirmaram que não tinha mais nada a fazer, ele estava morrendo, se degradando aos poucos, e com tanta baixa tecnologia que existia naquela época, o motivo por sua morte, o tipo de doença, nunca foi descoberto.
Agora eu era o homem da casa, com apenas 16 anos as responsabilidades foram passadas todas a mim e eu tinha que estar pronto para esse "cargo".
Toda a família foi reunida novamente em minha casa, o velório seria feito aqui, como uma esperança irreal de que seria uma despedida à ele (irônico, já que deveriam fazer isso enquanto ainda estava em vida).
E foram chegando tantas pessoas que se duvidar nem o meu pai conheciam, entraram só de penetra por pura curiosidade, funeral nessa vizinhança é como se fosse o evento do ano, por Deus!
Precisava de um tempo, não aguentava mais ficar ao redor de pessoas o tempo todo, além de ter que ficar ouvindo milhões de "meus pêsames" de pessoas que não me lembravam quem era, a última vez que os vi foi a 8 anos atrás e depois daquele dia não mantive contato com nenhum deles.
Fui para o lado de fora da casa, o lugar em frente ao laguinho onde fiquei na última festa, fiz a exata mesma coisa, comecei a tacar várias pedras na água e vi elas lentamente se afundando.
É estranho pensar que vida é literalmente como uma pedra jogada no lago? A água sou eu, as pedras é o "caos", o inesperado assim digamos, todos esperam problemas na vida, mas nunca pensam que o problema pode estar próximo, colocamos como algo futuro, tão longe de acontecer que quando finalmente acontece, somos pegos de surpresa e os problemas só vão se afundando em nós cada vez mais, assim como as pedras que jogo nessa água.
Vejo de relance alguém se aproximando, finjo estar perdido nos meus pensamentos para ignorar a presença que se aproxima cada vez mais. Era uma garota, não olhei diretamente pra ela, mas deveria ter uma idade próxima a minha.
Ela senta do meu lado em completo silêncio, pega pedras e começa a arremessa-las em direção ao lago assim como eu, tive leves colapsos de memória como um deja vu de quando era criança, uma imagem semelhante a essa veio em minha mente, comigo mais novo com aquela menina que nunca mais vi, mas que lembro perfeitamente dos olhos, eu nunca esqueci aqueles olhos cor de mel que me prendiam.
— Eu sinto muito pela sua perda. - disse a garota.-
— Obrigado por suas condolências.
— Imagino que você tenha ouvido frases assim o dia todo.
— Sim, é como se não tivesse mais significado.
— Te entendo perfeitamente, quando minha tia morreu eu ouvia isso o tempo todo e não mudava absolutamente nada no vazio que eu sentia.
— Acho que prestar minhas condolências a ti agora não fará muita diferença ne? -eu disparei e finalmente tomei coragem o suficiente para lhe olhar cara a cara.
— Não. -ela respondeu-
Aqueles olhos, é claro que eu reconheceria aqueles olhos, não me eram estranhos, na verdade me era mais claro do que nunca.
— Sinto que já te conheço -menti, eu tinha -certeza- que já a conhecia.-
— Talvez isso aqui te ajude, "Não queria ter vindo. Fui forçada a vir pelos meus pais que não podiam me deixar sozinha." -disparou ela-
— Katie. Você ainda lembra disso?
— Claro, como eu poderia esquecer a curvatura de seus cabelos e seus olhos esverdeados?
— Achei que só eu tinha ficado marcado por aquele mínimo e rápido encontro que tivemos quando crianças.
— Não esqueceria do sobrinho de minha madrinha, toda vez a mesma coisa, Miguel pra cá, Miguel pra lá, o dia todo sou recheada de soltas informações sobre você. Não esqueceria de ti nem se eu quisesse.
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amor imprescindível
RomanceUma história de amor verdadeiro, um romance de amor inalcançável e impossível. Cartas de amor que nunca foram entregues. A história que moverá seu coração e mostrará que o amanhã pode ser tarde demais.