Capitulo 9

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Os próximos dias foram praticamente iguais, ficamos jogando conversa fora, não queria admitir, mas ela realmente teve o papel de me distrair de tudo o que tinha acontecido. Não é como se minha cabeça tivesse sido apagada e o sofrimento pela morte de meu pai passou a ser inexistente, mas, posso dizer que com ela, minha vida ficou um pouco menos insuportável. Ela jamais me deixava sozinho, me seguia para todos os lugares e sempre cantarolava alguma música antiga quando ficávamos em completo silêncio, isso não me incomodava, me alegrava, mas eu tentava não demonstrar.
   Jogávamos conversa fora o dia inteiro, não falávamos nada de útil. Infelizmente minhas noites não eram tão boas quanto meus dias, quando ela ia embora eu começava a ficar ansioso com as perguntas que tinha sobre as mudanças na minha vida a partir de agora. Mas, quando ficava difícil demais de aguentar as vozes da minha cabeça, o que as silenciava era a lembrança de que em algumas horas ela voltaria.
   Acho que nunca me abri completamente com ela sobre o que estava sentindo, não somente em relação a ela (não sabia o que sentia sobre isso ainda), mas também à grande tristeza que me possuía durante a noites. Porém, seria estranho demais se eu dissesse que mesmo sem lhe falar nada sobre isso, eu sentia que ela já sabia? E que inconscientemente estava me ajudando a superar isso, mesmo sem eu abrir a boca pra falar nada a ela.
Nunca fomos de conversar muito sobre coisas mais sérias, mas teve um dia em específico...
— O que você acha de fazermos um jogo?
— Ah não sei não, que tipo de jogo seria?
— Uma pergunta e uma resposta. Temos que ser 100% sinceros, não pode mentir ou omitir nada.
— O que ganharíamos com isso?
— Conheceríamos um ao outro melhor, vamos Miguel por favor!!
— Tá, Você começa então.
— Você já se apaixonou por alguém?
— Katie isso é sério?
— Eu nunca. -ela disse-
— O que?
— Eu nunca me apaixonei por ninguém.
— Eu não acredito em você.
— Estou falando sério Mi.
— Mi? Vai me chamar assim agora?
— Sim. E eu quis dizer nunca me apaixonei -de verdade- por alguém. Sempre foi algo platônico, e você?
— Pra mim também -respondi-, — Nunca tive algo que me fissurou de verdade ou que deu em algo.
— E beijo? Você já beijou alguém?
— Também não e você?
— Não também, tenho curiosidade pra saber como é.
— Já pensei sobre isso, sou curioso.
— E se... Não, deixa pra lá.
— O que? -perguntei-
— Não era nada demais.
— Fala.
— Não era nada. Era só que, não sei, talvez tivesse um jeito de matar essa curiosidade.
— Como assim? O que você sugere? -disse eu, ja imaginando o que ela pensou-.
— Eu e você, dois curiosos que nunca beijaram, talvez, só talvez a gente pudesse se ajudar nisso, amigos se ajudam não é?
— Acho que sim -nesse momento eu já estava com uma espécie de tornado na minha barriga, achei que ia explodir de tanto nervosismo.-
Ela se aproximou de mim, viramos frente a frente (estávamos sentados na grama do nosso lugar secreto), fechei os olhos e ela também, pude sentir sua respiração quente se aproximando do meu rosto. Era uma respiração calma, deixei o nervosismo de lado e me concentrei somente no calor que surgiu entre a gente. Eu não pensava em mais nada, só naquele momento que eu talvez já tenha desejado antes.
Nossos narizes se encostaram, senti sua pele fina e macia se encontrar com a minha e aos poucos o toque de sua boca na minha. Seus lábios eram aveludados, carnudos, minha boca se afundando na dela. Seus lábios, aqueles lábios. O toque dela em mim provocava um efeito que eu nunca havia sentido antes, me pergunto se ela também sentiu.
Não foi um beijo longo, mas aqueles poucos segundos pareceram uma eternidade enquanto estávamos grudados um ao outro. Senti tantas coisas inexplicáveis, eu queria que aquele momento durasse pra sempre. Foi como se fogos de artifícios estivesse explodindo acima de nós e dentro de mim, como se minha explosão estivesse conectada com a dela e estivesse em uma grande festa com a mistura delas. Fogos de artifício fora, dentro e no meio da gente.
Nossa boca se descolocou uma da outra, de pouco a pouco senti sua pele saindo da minha e foi como se uma parte de mim estivesse indo também e o resto que ficou ficasse gritando e estando em eterno sofrimento pedindo para que aquela parte, que por um momento completou a minha, voltasse.
Abrimos os olhos, o que foi aquilo tudo?
Olhei no fundo de seus olhos castanhos, que novamente me atravessavam e olhavam através de minha alma como se pudesse sentir e ouvir tudo o que ela falava. Eu a vi, era aparente que ela também estava perdida em meu olhar, estávamos tão perto e por um momento pensei em puxa-la de volta pra mim de novo, não queria que fosse embora. Talvez ela seja minha cara metade, mas se não for, com certeza será o motivo para o meu delírio todas as vezes que fechar os olhos. Talvez eu tenha encontrado uma razão para a vida, ao menos para a minha.
— Eu preciso ir, voltarei amanhã. -disse Katie.-
— Até.

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