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011.





Remus sentia a sua cabeça doer. 

 Todo o tempo e o tempo todo, na verdade. Parecia uma maldição que tinha se instalado há doze anos atrás e não parado nunca mais. Diminuído? Sim. Com o tempo foi ficando menor e até mesmo, quase ignorável. Mas então Harry e desaparecimentos e Sirius e, de repente-

 O telefone tocou e ardeu no fundo de sua alma. 

 Se Remus, em algum momento tivesse escolhido aquele emprego pela paz e tranquilidade que ele sabia que iria ter, estava profundamente arrependido. 

 Ele arrastou a cadeira para trás, deixando a impressora fazer seu papel sozinha enquanto fotos e mais fotos de Harry caiam em sua mesa. O caminho até o telefone parecia longo, a porta para a recepção sendo um próprio portal para outro mundo. 

 Quando Remus atravessou, seus olhos arregalaram e sua respiração travou. 

 Quando Remus se sentou, tudo o que se lembrava era de um horário marcado e um endereço. 

 18:18, Cabeça de Javali. 






 Remus odiava com todas as suas forças horários quebrados. Pareciam atrasados demais e, com um segundo a mais ou a menos, adiantados demais. 

 Era bem errado. Ele fez questão de chegar ao endereço às 18:20.

 Seus olhos pararam em um comprimento de cabelo que ele conhecia muito bem:

 "Sirius?" 

 "Ah, Lupin, você veio mesmo." Sirius parecia quase feliz com isso, quase como se Remus não fosse correndo atrás dele no mesmo instante em que ele o chamasse. 

 "Porque eu não viria?" perguntou com neutralidade, tentando disfarçar seu pequeno lapso de memória durante a ligação. 

 Sirius tinha ligado. Foi muito choque para a cabeça de Remus aguentar, certeza. 

 "Está atrasado."

 "Dois minutos."

 "Ainda assim atrasado."

 "Melhor do que chegar às dezoito e quinze."

 "Você e sua mania de números da tabuada do cinco."

 "Você e sua mania de números feios."

 Eles se encararam, por um momento tudo parecendo quente e calmo e bom de um jeito que não podia ser. De um jeito que não era e que fazia tudo ser péssimo. 

 Sirius era péssimo. Ele pigarreou:

 "Eu queria falar sobre a busca na floresta." 

 Remus assentiu, sentindo sua cabeça voltar a doer só com o pensamento de que Hogsmeade não parecia mais o lar de adolescentes rebeldes que entravam naquela floresta a qualquer hora do dia porque não havia perigo. Hogsmeade e a floresta pareciam tudo agora, menos inofensivas. 

 "Eu, bem, não sei se, talvez. Se a senhoria aprovar. Podemos mobilizar uma busca junto com os moradores?" Sirius parecia muito na defensiva. Remus ergueu as sobrancelhas. "Mais gente é igual a mais espaços cobertos e mais rapidez, sabe, talvez-" 

 "A polícia é capaz de fazer seu trabalho sozinha."

 Sirius fechou a cara. 

 "Não foram vocês que salvaram a menina Weasley." 

 Doeu. Remus sentiu como se aquilo fosse uma indireta muito mais direta do que parecia. Mas fui eu que encontrei Harry a primeiro instante, uma voz ácida quis rebater, jogar toda a raiva que ele sentia e guardava e acumulava pra fora toda em cima de Sirius, eu fiz o que eu disse que faria. 

 Ele contraiu o maxilar, abaixando os olhos. 

 Harry tinha sido encontrado na floresta e desaparecido pela segunda vez na mesma. Era coincidência?

 "Foram os moradores." Sirius tentou, sem sucesso, consertar o que tinha falado. "O menino Weasley e a menina Granger. Foram eles que a acharam. Talvez, se a gente juntar mais pessoas, talvez-, ele pode aparecer mais rápido? Não pode? Ele vai se a gente-" 

 "Black," Remus respirou fundo. "E se houver um sequestrador? O que a gente faz? Dá uma arma pra cada morador? Dá uma arma pra alguém que pode ser o sequestrador?" 

 Os olhos de Sirius se quebraram, rachando aos poucos e perdendo toda a determinação exaustiva que ele estava tentando manter. 

 Remus era péssimo também, céus. 

 "Eu não sei?" ele sussurrou desafinado. "Não tem, como, sei lá, colocar alguém da equipe de busca com cada grupo de morador? Alguém mais treinado para ir nos guiando e…" 

 Ele mesmo se parou, desviando os olhos para o sol se pondo do outro lado da janela. 

 Sem saber quando as canecas de bebidas chegaram, Remus deu um enorme gole na sua cerveja sem álcool porque ele, querendo ou não, ainda estava no horário de trabalho. 

 Aquilo era uma péssima ideia. Tinha tudo para dar errado e ao invés deles acharem Harry, eles o perderem de vez. Mas também tinha tudo para dar certo, o pensamento de Sirius era lógico até certo ponto e Harry seria encontrado de novo caso fosse só mais uma pessoa perdida entre as árvores. 

 Havia algo se retorcendo no fundo de sua alma que fazia sua cabeça doer de preocupação e seu estômago se revirar como se tudo o que houvesse dentro de si fosse ácido corroendo toda a sua esperança dizendo que não. Tudo errado. Tudo estava errado. 

 "Você vai ter que me ajudar cada detalhezinho desta busca, Sirius Black. Porque se qualquer coisa der errado eu te prendo por," ele parou sua ameaça no meio, pensando em algum motivo para algemar Sirius. "Colocar minhocas na cabeça de autoridade."

 Sirius o olhou, o pequeno sorriso no canto de sua boca deixando tudo, um pouco só, menos pior. 

 "Isso não é um crime, Remus Lupin." 

 "Você quer apostar, Sirius Black?" 

 Sirius sorriu e, Remus quase pode se sentir um adolescente rebelde que adentrava a floresta a qualquer momento porque não era nada perigoso de novo. Mas aquele tempo não voltaria mais, e ele que lidasse com isso. 






 Quando seu carro voltava para a delegacia para agora imprimir o comunicado da busca coletiva, ele vislumbrou Ronald e Hermione pregando algo num poste.

 Espiando pelo retrovisor e assistindo o menino Weasley levar um tapa na nuca da menina dos Granger, ele leu com pressa o que estava escrito no papel. 

'Procura-se Harry Potter.

Entrar em contato diretamente com o delegado, 

número telefônico: 190. 

Recompensa:

50 balas de iogurte, 10 pacotes de bala-fini, 5 tortinhas de abóbora e 35 babalu' s.'


Remus prendeu o sorriso no rosto. 

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