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 Sirius foi atrás de Remus, mais uma vez. Às vezes ele achava que era uma vingança pelo passado, por ter sido tão recluso ao ponto de fazê-lo correr uma corrida sem fim, e desistir porque já não havia mais forças. 

 Ele bateu na porta. Draco o atendeu. 

 Sem um cumprimento nem nada, ele o dissecou de cima a baixo com o olhar e então viu Harry lá atrás, encostado na moto. Draco lhe cedeu espaço na porta, o deixando passar:

 “Ele tá lá em cima.”

 Sirius foi. 

 Ele ouviu a porta bater e teve a impressão que Draco foi atrás de Harry. Ele subiu as escadas em silêncio mórbido e quando encostou na porta do quarto de Remus, esperou.

 Remus soltou um suspiro mais que dramático, roubando por um momento o papel de Sirius nessa relação. Ele o olhou cansado, os papéis jogados ao longe na cama. Sirius pensava no que tanto Remus queria descobrir para estar trabalhando de home-office e não perder tempo se deslocando de casa até o trabalho. Devia ser algo importante. Algo impulsionado pelo desmaio/acidente estranho que Remus não queria comentar – algo, Sirius retorcia esse pensamento em sua mente, que estava ligado ao laboratório.

 Eles ficaram se encarando por um tempo, antes de Remus desistir e abrir a boca para resmungar:

 “O que é?” ele perguntou sem se levantar, suas costas apoiadas na cabeceira. 

 “Você precisa sair um pouco.” Sirius comentou, os braços cruzados.

 “Não quero.” Remus respondeu quase sem mecher os lábios, os olhos se perdendo um pouco. Parecia uma criança birrenta.

 “Não perguntei se você quer. Disse o que você precisa. E vai ser amanhã, às oito da noite eu venho te pegar.” Sirius falou, se a linguagem passiva não estava funcionando, ele partiria sim pra agressão – era sempre a melhor opção.

 Remus franziu as sobrancelhas numa careta feia.

 “Eu não quero conversar,” ele falou, os dois sabendo muito bem ao que ele estava se referindo. “Com você.” completou por fim, fazendo o coração de Sirius saltar num pulo doloroso.

 “Eu não quero ouvir,” parecia meio errado e falta de noção falar isso pra alguém no estado de Remus. Mas era a verdade, ele não se importava se Remus queria ou não falar sobre o que estava acontecendo, se ele não queria dizer, Sirius respeitaria e não ouviria. Porém, ele queria que Remus melhorasse, e isso ele faria nem que tivesse que amarrar Remus no banco de sua moto.

 “O que eu quero,” Sirius silabou, atraindo a atenção de Remus. “É que você saia, comigo, amanhã.”

 Remus encarou seus olhos tentando buscar a sua alma, ele já havia achado outras vezes e não era difícil conseguir de novo. Ele perguntou mesmo assim:

 “Por que?”

 Por que; você não me deixa em paz? você quer sair comigo? você se importa? você não me abandona igual eu fiz com você? você não me enche de perguntas sobre o que aconteceu?

 “Porque eu confio em você.”

 Os olhos de Remus brilharam em lucidez, por alguns segundos, se enchendo de reconhecimento, enxergando Sirius como Sirius e não como alguém intrometido e irritante – mesmo que ele fosse tudo isso também. Ele piscou. Desviou o olhar.

 E assentiu de leve com a cabeça.

 Sirius jura que tentou segurar o sorriso, fingir que não estava pulando e saltitando e fazendo dancinha por dentro. Ele jura. Falhou, claro.

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