Capítulo 5

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Bruce acordou aquela manhã, havia dormido sobre um livro de matemática, ele tinha passado várias horas estudando na noite anterior já que não estava indo muito bem na matéria.
Ele se arrumou para ir a escola e tomou seu café da manhã. Seu dia não começava sem tomar seu sagrado chá verde matinal. Depois, saiu de casa e foi andando de bicicleta todo o caminho até a escola
Seu tradicional sorriso monumental que espunha a quase todo momento de sua vida, não era mais falso como meses antes.
Ele tinha um motivo agora para sorrir que nem uma criança tola brincando na chuva.
Ele chegou uma meia hora adiantado, não tinha quase ninguém em frente a escola. Colocou seus fones de ouvido e esperou.
Ele revisou na sua cabeça as tarefas que teria que fazer.
1- Ir para revisão de matemática depois do intervalo;
2- Ir para o treino de baseball;
3- Lavar o carro de seu pai;
4- Pedir a Finney que devolva meu uniforme de baseball que esqueci na casa dele;
5- Comprar ração para o gato da minha mãe.
Ele não percebeu quando um estranho o agarrou por trás. Se fosse meses teria jogado ele no chão, mas sabia quem era.
-Você é muito traiçoeiro, eu nem mesmo vi você chegar- disse Bruce com um sorriso.
-Tenho pés caçador- brincou seu namorado.
Ele se vira para encara seu namorado.
Por Deus, pensou Bruce, como ele estava lindo hoje.
Sua pele cor de pêssego, seus lábios muito vermelhos, seu belo cabelo tom de chocolate e seus olhos pretos como um carvão.
Eles compartilham um rápido beijo de bom dia.
-Como foi a noite de estudo?- perguntou o cacheado.
Bruce fez uma careta que faz o outro rir.
-Não muito boa, você podia me ajudar, é o melhor da sua sala.
-Bruce- ele abre um sorriso saliente e se aproxima do ouvido do outro garoto- Você sabe que quando estamos à sós eu só quero estudar anatomia.
Ele sabia.
Um mês atrás haviam estudado para uma prova de linguagem, mas a noite acabou com Finney enfiando a lingua na boca do asiático.
Bruce não fazia ideia antes de namorar Finney o quão lascivo aquele baixinho conseguia ser. Estranho, pois o mesmo é vergonhoso com assunto sobre amor antes de namorarem, mas agora é quando o assunto é sexo, Finney era quase um Deus da promiscuidade.
Bruce amava isso nele.
-Vou pedir a meu professor para receber aulas de reforço.
-Certo. Acho que se tiver outras pessoas consigo te ensinar.
Bruce riu envolvendo seu braço em volta do cacheado.
Quando se assumiram como um casal as reações no colégio foram as mais diversas. Os Bullies que perseguiam Finney, passaram a apenas fazer piadas de mal gosto, eles não queriam se meter com Bruce Yamada, já Donna ficou feliz ao saber da notícia, ela passou a falar com Finney sobre seu relacionamento, ela gostava de ouvir sobre os mínimos detalhes por algum motivo... já Griffin disse que havia previsto que seriam um casal com 'seus poderes' e Billy Showalter, melhor amigo de Bruce apenas falou 'eu já sabia que você escorregava no quiabo'. No geral os alunos olhavam para os dois garotos juntos com um olhar de admiração pela grande feição mútua. Estavam até falando que os dois eram casal do ano.
Tudo estava certo na vida deles e ao mesmo tempo tudo estava desmoronando.

*Finney acordou com o som da sirene da escolar.
Ele levantou seu rosto babado da carteira e olhou para cima, tinha um garoto moreno a sua frente.
-A tempos que estou te chamando. Levanta ou você vai perder o ônibus.
Finney se levantou atordoado, decidiu apenas seguir as ordens do garoto desconhecido. Ele precisava pegar o ônibus agora que perdeu sua bicicleta e não queria andar a pé por medo de cruzar com Vance Hooper.
Ele segue o garoto até o ponto, quase perdem a partida do veículo.
Finney no banco a frente do garoto.
-Com licença, não sei quem você é- admitiu Finney- Fazemos alguma aula juntos?
-Tá de brincadeira?- o garoto mostra surpresa em sua voz- Fazemos matemática, química e biologia juntos, a seis meses. Não sabia que somos colegas?
O olhar de Finney baixa de vergonha.
-Desculpa, sou um pouco distraído.
-Bem se ver, sou Robin Arellano.
-Finney Blake.
-Faz baseball não é?
-Isso e você Basket?
Finney pressumiu pela bandana na cabeça.
-Não, comecei a treinar Boxe. Eu comecei por influência do meu pai, mas até que eu gosto. Só que eu acho que ele vai me tirar se minhas notas não subirem.
-Se você quiser posso te ajudar- Finney se envergonhava de falar isso- Sou o primeiro da sala em matemática.
-Legal, mas não quero sua ajuda- Robin sorri- Afinal, eu já morri.
Finney não entendeu o que ele quis dizer.
E como em uma TV com estática a realidade começou a sumir perante seu olhos. O Sol ficou vermelho esclarte, todo o ônibus adiquiriu uma tonalidade escura, os olhos de Robin viraram duas crateras abertas, a boca do mexicano jorava sangue negro.
-Eu estou morto, Finn.*

Finn se levanta do encosto da poltrona da biblioteca. Seu rosto estava encharcado de suor e seu coração acelerado.
De novo?
Ele havia sonhado mais uma vez com Robin. Dessa vez o sonho retratou o dia que se conheceram três anos atrás, quando tinha 13 anos de idade, com muita precisão.
A tempos Finney sentia um sentimento estranho no peito. E não era dor ou tristeza pela morte do amigo, mas culpa.
Por que?
Não foi ele quem o matou, não foi culpa dele. Mas seu subconsciente insistia em dizer o contrário.
Ele vê o horário no celular. Já era quase duas da tarde, era hora de ir.
Finney envia uma mensagem para Bruce perguntando se viria com ele, o mesmo respondeu que estaria ocupado com o treino.
Seu namorado havia dobrado os dias de treino, tudo porque o treinador tinha indicado ele para a Liga Big de Baseball. Afinal, era o melhor do colégio e provavelmente de toda North Denver.
Finney estava extremamente orgulho.
Torcia para ele entrar na divisão, porém sentia que isso estava sobrecarregando ele. Bruce tentava esconder isso dele, só que cada vez mais via ele com falta de ar ou com dores em sua coluna.
Estava preocupado, iria visita-lo a noite.
É tinha esse outro ponto, ultimamente eles diminuiram muito seu tempo juntos. Agora se viam apenas no intervalo, na aula de matemática e a noite quando Finney subia a janela de seu quarto.
Isso o deixava com tantas saudades em seu peito, que ele já estava abraçando seu travesseiro ao dormir imaginando que era Bruce.
Sentou-se no ponto de ônibus, tinha apenas um outro senhor fumante esperando o ônibus.
Odiava fumaça de cigarro, sempre o fazia tossir...
-Por quê essa cara, Idiota?
O rosto de Finney deve ter perdido todo resto de cor que tinha. Ele conhecia essa voz... conhecia muito bem.
Não era um senhor que estava em pé encostado na parede de concreto, mas Vance Hooper, maior delinquente da cidade.
-Na-nada- gaguejou Finney em resposta.
-Na-Na-Na-Nada- debochou o loiro- se quer falar com as pessoas, fale alto e seja claro.
Finney sempre achou estranho como Vance era irritado com tudo, mas não ia contráriar o 'conselho' dele.
-Cer...to.
Ele acende outro cigarro.
-Tava Chorando?
-Na verdade, eu estava dormindo...
-Sei- ele solta um risinho- Sonhou com o Imigrante?
O rosto de Finney se retorce em um misto de surpresa e dor.
Não acreditava que ele poderia falar algo tão insensível, embora fosse verdade, foi cruel.
-Isso tá te remoendo por dentro não é?- completou ele.
-Isso não é da sua conta- murmurou Finney.
Essa foi a maior defrontação contra o delinquente que já havia feito na vida. Ele esperava ouvir uma ameaça ou que ele batesse em sua cabeça.
-Hum- gruniu em resposta.
Ficaram em silêncio por um tempo constrangedor, então o loiro quebrou o silêncio.
-Sei o que é perder alguém que ama. É uma merda. Sua mente quer acabar com você, mas você tem que ser maior que sua mente.
-É o que se faz nessa situação?- Finney não acreditava que estava pedindo conselho sobre como lidar com o luto de seu melhor amigo à Vance Hooper.
-Você manda sua mente se foder e apenas vive- concluiu o loiro- eu tenho minha própria maneira de fazer isso.
Ele gesticulou para o cigarro que estava fumando, ele era fino demais para ser um cigarro de tabaco. Ele estende a mão para Finney pegar.
-Não, obrigado!
-Isso só vai acalmar seu coração, piralho.
O cacheado estava rejeitando a droga prontamente, só que ele refletiu como se sentia. Seu peito doía tanto todas as manhãs, que sentia que seu coração virou uma bola de chumbo e isso continuava a cinco meses. Ele sentia que já estava em seu limite, só queria que a dor fosse embora.
De repente aquelas folhas não pareciam tão ruins.
Ele as pega e suga a ponta do baseado.
-Deixe a fumaça entra e não solte de imediato. Deixe seu corpo absorver melhor.
Finney seguiu suas instruções, a fumaça tinha cheiro de orégano estragado. Assim que seu peito se encheu com a fumaça, engasgou e devolveu o cigarro de maconha para Vance.
Não sabia por que alguém gostava daquilo, tinha um gosto horrível, mas a fumaça teve efeito em seu coração. Ele ficou mais leve.
O ônibus chegou e Finney tentou disfarçar as tosses ao entrar para ninguém suspeitar.
-Se quiser mais, é só me encontrar amanhã a noite, no fliperama da esquina a meia noite- disse Vance do lado de fora do ônibus, para que apenas Finney pudesse ouvir.
Ele levanta a mão para um dar adeus.
Finney sentiu algo estranho nos olhos de Vance aquele dia, algo tão atrativo quanto perturbador.

S.T.A.L.K.E.R.Onde histórias criam vida. Descubra agora