Capítulo 13

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A quanto tempo Finney encarava aquele teto de madeira? Ou seria chão?
Afinal, aquele local era uma espécie de porão, pois estava abaixo da terra.
Ele escuta passo, mas não se importa mais.
-Você não comeu?- perguntou Bruce indignado.
-Não- respondeu Finney secamente.
-O que foi, desistiu de tentar?
-Sim.
-Vamos Finney, não tem que ser assim- propõe Bruce- podemos resolver isso da melhor forma. Apenas faça o que te peço.
Finney encarava o teto.
-Vai pro inferno, Bruce.
Ele fica em silêncio. O cacheado não quer olhar para ele. Ele não quer fazer nada.
-Isso machuca, Finn- diz Bruce.
-Sabe o que machuca? Ficar em uma gaiola.
-Acha que eu queria que estivesse preso ou fazendo greve de fome?- retrucou Bruce. Sua indignação na voz era evidente- Você não me deu opção.
Eles ficam em silêncio.
Finney nao queria comer, nem ler, escrever ou fazer qualquer coisa com Bruce. Ele perdeu o gosto pela vida. Doía o coração de Bruce ver seu amor em um estado tão lastimável.
Se a situação persistisse Bruce teria que dar comida a força ao cacheado ou mesmo apreender a aplicar soro intravenosa.
O cacheado começa a rir repentinamente de um jeito bizarro.
-O que foi, Finn?
Ele limpa as lágrimas dos olhos.
-Nada, apenas estava lembrando da primeira vez que te vi. A primeira impressão que tive de você.
-E qual foi?- perguntou Bruce curioso.
-Fale a sua primeiro.
-Bom. Lembro de admirei sua força naquele dia apesar de ter perdido você era muito bom e quando fui apertar sua mão depois do fim daquele jogo, você corou quando eu te elogiei, você é tão timido. Achei aquilo tão fofo.
Uma pausa.
-É sua vez- diz Bruce.
Finney engole em seco.
-Lembro que toda bola que você rebatia tinha um som de uma rolha sendo estourada de uma garrafa. Quando eu te vi pela primeira vez senti um misto de admiração e inveja. Seus olhos destemidos, sua coragem e seu carismático. Você falava sem usar palavras: "Eu sou um líder nato" e eu pensava: "Deus... eu seguiria ele para onde quer que fosse".
Bruce sentiu uma lágrima cair de seu rosto, enquanto Finney estava inabalávelmente calmo.
Finney comtinuou:
-E olhe onde eu estou.
Outra lágrima escorregou por sua bochecha.
-Por que você só não me mata logo?- perguntou ele amargamente.
-Sabe que eu nunca faria isso, Finney- respondeu Bruce tentando esconder sua voz de choro.
-Verdade. Você é um egoísta que precisa de um puxa saco para se sentir amado.
Bruce se levantou e subiu as escadas. Ele não podia ficar mais ali.
Ele esta ofegante, precisando tomar um ar fresco.
A situação está saindo do controle.

Já era o quinto dia que Finney não comia nada e Bruce já estava desesperado.
O cacheado estava esquelético e com sombras negras em baixo dos olhos.
-Por favor, coma algo!- Gritou Bruce.
Ele não respondeu.
-Eu te imploro, coma algo! Eu te liberto depois- mentiu Bruce.
Ele não respondeu.
Finney não era mais aquele garoto introvertido e feliz que Bruce conheceu. Ele virou uma boneca vazia olhando para o nada.
Ele estava chorando. Bruce nunca foi de chorar, odiava que os outros vissem fraqueza nele.
-Por favor, se você me ama, diga algo.
Ele começou a solução. Então em um ato de suspiro pegou a chave da jaula e abriu a estrutura. Finney estava imovel. Ele entrou de forma silenciosa.
Ele se aproxima do garoto e põe as mãos nos ombros ossudos do garoto desnutrido.
-Por favor.
Sem resposta.
Ele pega a mão do garoto e leva até seu rosto e acaricia no seu rosto.
-Eu juro que se você morrer eu vou junto com você. Prefiro morrer do que passar uma vida sem você.
Sem resposta.

Quando o pai de Finney começou a beber, próximo a morte de sua mãe, ele sempre chegava em casa sujo e com um cheiro insuportável.
Ele é sua mãe começaram a brigar muito. Nesse momentos ele sempre pegava um travesseiro e abafava seus ouvidos para não escutar a discussão.
Uma noite foi diferente.
Sua mãe já não suportava, estava cansada demais de tudo.
Ela gritou que queria o divórcio.
E seu pai respondeu com tranquilidade "Ótimo, faça o que quiser"
Ela subiu para o quarto do filho e se deitou com ele.
Ela sentiu seus medos e o abraçou.
"Vai ficar tudo bem" disse ela.
Ela era seu porto seguro.
"Eu sempre estarei com você" repetiu ela.
Na noite seguinte ela se matou.
A promessa não foi cumprida.

Então esse é meu destino? Pensou Finney.
O garoto segurava uma caneta tinteiro pontuda.
Morrer aqui, nesse lugar e de uma forma tão parecida a minha mãe.
Será que alguém sentiria sua falta?
Será que Billy e Griffin iriam a seu funeral? Donna choraria por ele? Seu pai largaria o álcool um dia que seja?
Bruce se arrependeria do que?
Desejou ver sua mãe de volta para acolhe-la em seus braços e a companhia do seu leal amigo Robin.
Ele inspirou.
-Me perdoem- murmurra ele em uma voz fraca.
Ele enfia a ponta afiada no seu pulso esquerdo e solta um pequeno grito. Sangue escuro escorre pelo seu braço.
Seu sangue nunca tinha ficado daquela cor em toda sua vida.
Ele morde o lábios e continua o percurso do corte na horizontal da pele. O corte arde como fogo, ele range os dente, mas ele parece ter tido resultado. Seu braço estava quase todo coberto de sangue.
Ele respira ofegante.
Agora é só espera.
Seu corpo por impulso começa a tremer, ele começa a perder a consciência...
-MAS O QUÊ VOCE FEZ?!- exclamou a voz de Bruce.
O outro garoto entra rapidamente na jaula e pega um pano limpo de sua mochila nas costas.
Amarra no pulso do garoto imóvel.
Era muito sangue. Pelo menos meio litro de sangue perdido.
-Fica consciente!- exclama ele agitando os ombros do cacheado- Eu vou ter que suturar isso.
Bruce sente uma dor agonizante em sua perna e cai no chão da jaula. Algo perfurou sua coxa esquerda. Algo preto. Uma caneta tinteiro.
Finney se levanta, pega um molho de chave no bolso de Bruce e rapidamente sai da jaula. Ele tranca o seu Stalker na jaula.
O cacheado corre para as escadas.
A porta de cima estava trancada. Ele tenta uma por uma das chaves em mãos.
Nenhuma serviu.
Ele chutou a porta, mas sem sucesso em abri-la. As dobradiças eram de ferro antigo e cheio de ferrugem. Esse tipo de fechadura ele não sabia abrir.
Ele desce novamente. Bruce estava tentando se recuperar da dor agonizante que sentia.
-Onde está a chave de cima?
Em meio às suas caretas de angústia, ele falou:
-Parece que entramos em um impasse, Braço de Canhão.

Nota do autor:

Como amei escrever esse capítulo e sinto dizer que o próximo capítulo será o último da fic. Nada deve ser para sempre, tudo que é bom tem que ter um fim. Obrigado por acompanharem até aqui, comente o que acharam até agora e até a próxima  :,)

S.T.A.L.K.E.R.Onde histórias criam vida. Descubra agora