Cold Wind

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A brisa gélida batia em seu corpo suado e ele levantava seu rosto em direção a luz do sol, em busca de qualquer fonte de calor que o lembrasse, mesmo que por um instante, de sua casa. Sua respiração era descompassada pelo esforço físico que havia acabado de fazer e enquanto agradecia mentalmente pelo calor, o sol foi tapado mais uma vez pelas nuvens nubladas da Inglaterra. Poucos eram os dias em que o sol fazia-se presente e era o que mais o jogador sentia falta, o calor, a vibração e até mesmo as cores eram diferentes. Não que no Brasil fosse perfeito, muito longe disso, mas era familiar.

Seus pensamentos só foram interrompidos quando o apito do técnico soou, o que indicava o fim do treino e que já estava na hora de irem para o vestiário. Richarlison fez o seu caminho ao banho cumprimentando poucas pessoas pelo caminho com o seu inglês claramente medíocre, que só fora aceito na universidade por suas habilidades no futebol. O mesmo nem mesmo imaginaria que um dia iria para uma universidade, nem se quer pensava em terminar o ensino médio, na verdade, a proposta caiu quase de bandeja para ele quando um dos olheiros da faculdade estava presente em um amistoso entre pequenos times no Brasil. Ele reconheceu seu talento e o ofereceu uma vaga, fazendo vista grossa para suas notas baixas e seu inglês inexistente, que aceitou prontamente.

Para conseguir encaixar dentro da universidade, lhe foi oferecido duas aulas extras. Às segundas ele teria aula sobre a história e cultura do país, incluindo regras de etiqueta caso encontrasse com algum membro da realeza, o que para ele era absurdo e fora da realidade e às quartas ele teria aula de inglês com uma professora que era provável ter visto a queda do império otomano, o nascimento da rainha Elizabeth, a revolução russa e de quebra ainda teria um dinossauro de estimação.

Apesar de não ser o aluno mais dedicado, estava fazendo um esforço para mudar, visto que se ele mantivesse as mesmas notas como no Brasil, a universidade não teria outra escolha a não ser revogar sua bolsa.

A água quente caia sobre o seu corpo dando-lhe uma sensação absurda de alívio em meio aquele clima frio europeu, quando terminou seu banho, se trocou com suas roupas casuais e ia em direção ao seu dormitório, já que, a última aula do dia seria o treino, quando foi interrompido por seu técnico.

— Richarlison, podemos dar uma palavrinha? — Seu sotaque britânico era acentuado o que por vezes confundia o brasileiro, que só assentiu com um sorriso constrangido já pensando no que havia feito de errado. — Você anda com problemas pra se enturmar, filho? — Ele fez uma expressão confusa ao ouvir isso e soltou um risinho sem graça.

— Não, não. É só que inglês ainda é um pouco difícil pra mim. — Ele se sentia constrangido por seu treinador pensar que ele seria tímido ou algo assim, na verdade ele não era nem um pouco tímido, talvez um pouco introvertido, ele apreciava a própria companhia, mas tímido não.

— Oh, é bom saber que não estão implicando com você. Me avise se precisar de algo. — Recebeu um sorriso fechado de seu treinador e um tapinha nas costas.

Se despediram e fez seu caminho ao dormitório. Assim que abriu a porta deu de cara com o seu colega de quarto, que assim como ele era brasileiro, o que seria um alívio se o mesmo não fosse insuportavelmente quieto. Mantinham seu relacionamento civilizado, mas não eram amigos, no máximo conhecidos. O rapaz mantinha-se encostado na cabeceira de sua cama enquanto teclava no seu celular e nem pareceu perceber sua presença.

— Oi. — O cumprimentou jogando a mochila na cama e se deitando logo em seguida.

— Oi. — Respondeu sem nem mesmo olhar em sua direção.

O rapaz em questão se chamava Paulo, um jovem amante de arquitetura, que tinha vindo para Inglaterra despretensiosamente aos 19 anos e tinha ficado por aqui mesmo quando conseguiu se matricular na universidade com uma bolsa de estudos, assim como Richarlison, mas desta vez pelo time de vôlei da universidade, que era medíocre em comparação ao time de futebol de Tottenham, mas tudo bem por ele, já que, para Paulo, não passava de um hobby.

Waiting For The Sunrise (2son)Onde histórias criam vida. Descubra agora