Corajosa Saudade

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Son já não estava mais no quarto quando ele se acordou, tinha um amargo na boca mas ainda assim tentou não se importar com aquilo, lhe vinha uma sensação ruim no peito, uma angústia que ele não conseguia exatamente decifrar do que. Tudo estava perfeito, ele teria Son por mais tempo, tinha feito uma boa partida no último jogo, o seu time continuava na disputa pelo campeonato e tudo indicava que seria titular da próxima partida.

Mas ainda assim algo não parecia estar certo, ele se sentou na cama, pegou seu celular tentando afastar aquele sentimento de si mas sem sucesso. Resolveu ligar para sua mãe, ela era o seu porto seguro nos piores momentos, sempre acalentava a sua alma quando ele mais precisava. E apesar de brigarem como toda família, nada era mais importante para ele do que as palavras de conforto de sua mãe.

Mãe?

Oi, meu filho. — Richarlison ficou em silêncio ao ouvir a sua voz tentando se manter firme, por mais que odiasse admitir, estava morrendo de saudades de casa. — O que aconteceu?

As suas palavras foram o suficientes para ligar a torneira dos seus olhos e liberar toda aquela agonia em forma de lágrimas que percorriam pelo seu rosto.

Richarlison, você tá me assustando. O que houve, meu filho?

Nada, mãe. Nada, eu só tava com saudade. — Foi necessário um pouco de coragem do brasileiro para pronunciar aquelas palavras, ainda era difícil para dele demonstrar amor com palavras mas aos poucos ele estava aprendendo.

A palavra saudade era uma palavra extraordinária. Ela não possuía um equivalente exato na língua inglesa, que não conseguia capturar toda a sua profundidade e significado. O "Eu sinto sua falta" no inglês parecia uma mera sombra, incapaz de transmitir a complexidade e a intensidade que a saudade era capaz de evocar. Como num ato de rebeldia, a saudade era uma palavra que se recusava a ser traduzida plenamente, permanecendo como uma essência única e inimitável da língua portuguesa.

Ô, meu filho. Não faz assim, mãe te ama.

Também te amo, mãe.

Você quer voltar?

Não, mãe. Eu tô bem, de verdade. Eu só tô com muita saudade da senhora.

Richarlison tentava se segurar, mas era difícil esconder a dor que sentia. A saudade apertava seu peito como um nó, sufocando sua respiração e fazendo seu coração doer. Ele sentia falta da mãe, da comida caseira, da cidade onde cresceu, mas principalmente da sensação de estar em casa.

Era como se um pedaço de si estivesse faltando, como se estivesse vagando em um lugar estranho e desconhecido. E no meio de toda essa confusão emocional, ele só queria ouvir a voz de sua mãe, sentir o conforto de suas palavras e o amor que ela sempre transmitia.

Era estranho como uma palavra simples como saudade poderia carregar tanto significado, tanta emoção, tanta dor e ao mesmo tempo, tanto amor. Era como uma mistura de sentimentos que não podiam ser explicados por palavras, apenas sentidos no coração.

Ô meu filho, eu não sei nem o que dizer. — A mulher do outro lado da linha também parecia emocionada, era uma demonstração de carinho muito ímpar do brasileiro, que não costumava deixar transparecer amor em palavras. — Você vem nas férias?

Richarlison fungou tentando segurar a emoção, era a oportunidade perfeita para falar com a sua família sobre Son, mais especificamente sobre a visita que faria com ele e o tipo de relacionamento que tinham.

Vou sim, mãe.

Ele procurava coragem para falar tocar naquele assunto tão sensível. Não que a sua mãe, ou sua família em geral alimentasse algum tipo de preconceito. Tinham aqueles conceitos heteronormativos como quase todo lar brasileiro e era daquilo que o brasileiro tinha medo.

Waiting For The Sunrise (2son)Onde histórias criam vida. Descubra agora