Insensitive Proposal

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Não tinham fôlego algum para comemorações, toda o trajeto a volta tinha sido muito animada mas o casal estava mais reservado ao fundo do ônibus, não se preocupando muito em se juntar aos demais colegas.

Estavam cansados, exaustos, então apenas aproveitavam a companhia um do outro em silêncio. Richarlison colocou a cabeça no ombro de Son, fechando os olhos por um momento. O coreano acariciou seus cabelos, sorrindo para si mesmo. Ele tinha gastado todas as suas energias em campo, mas agora estava mais tranquilo por ter mostrado serviço.

Levantou a cabeça ao ver a treinadora se aproximando deles, balançando junto com o ônibus e lutando para ficar de pé sobre o salto que usava.

— Heung-min, que história é essa que tinha torcedor sendo racista com você no jogo? — Ela parecia indignada e tinha quase um tom acusatório em suas palavras fazendo o coreano gaguejar na explicação.

Depois de finalmente conseguir explicar, a feição da mulher estava mais injuriada, era o tipo de coisa que, em tese, jamais seria tolerada dentro de campo mas que Son já tinha sido vítima por tantas vezes, que chegava a ser cansativo se impor.

— Sinto muito que isso tenha acontecido com você, Son. Vamos conversar com o Crystal Palace e tomaremos medidas, tá? — O coreano concordou com a cabeça mas ainda parecia confuso sobre todo o alarde.

— Tá... — Ele disse, positivando a escolha da mulher em punir o ato e ela sorriu saindo novamente mas Richarlison podia ver no seu rosto o descontentamento.

Não que racismo não fosse necessário se combater, é só que nunca pareceram se importar quando era dentro do campus da universidade. As denúncias eram abafadas pela imagem de ser uma universidade para todos. Tinham bandeiras arco-íris espalhadas pelo campus inteiro juntamente com broches do movimento de black lives matter e stop asian hate, mas nunca pareceram interessados em fazer algo ativamente.

Aquilo tudo não passava de pura propaganda para manter a imagem da instituição e o coreano sabia muito bem disso. Ele se sentia frustrado por não ver ações mais concretas sendo tomadas para combater o preconceito e a discriminação.

— O que foi? — Son revirou os olhos soltando um suspiro longo antes de se repousar no banco novamente.

— Eu não sei. Sinto que isso não vai dar em nada, sabe? A equipe de marketing vai usar a minha imagem até quando esse assunto render e depois vão deixar pra lá. — Bufou, parecia se tratar de uma experiência que ele já tinha vivido antes.

— Mas não é bom eles falarem do assunto? Talvez ele receba alguma punição.

— Eles só tão interessados na mídia, Richie. Nunca se importaram quando eu sofri racismo dentro do campus. E agora que são outras pessoas me atingindo eles se importam? — Son revirou os olhos cruzando os braços.

Richarlison podia sentir a frustração do amigo e entendia sua posição. Ele sabia que ações concretas eram necessárias para combater o racismo, mas também sabia que muitas vezes as medidas tomadas pelas instituições eram superficiais e motivadas mais pelo desejo de manter uma imagem positiva do que pela vontade de fazer a coisa certa.

— Sinto muito. — O brasileiro agora também parecia desesperançoso.

Ele ficou em silêncio repousando sua cabeça no ombro do outro por alguns minutos até o coreano explodir em risos, arrancando curiosidade do brasileiro.

— O que foi?

— Porra! Agora eu faço parte de mais uma minora. — Ele dizia rindo. — Ao menos agora vai variar os xingamentos, além de comedor de cachorro vão me chamar de viado também.

Waiting For The Sunrise (2son)Onde histórias criam vida. Descubra agora