CAPÍTULO 04

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     As minhas aulas são todas as segundas e quintas, e não mais do que quatro horas por dia. Eu realmente fiquei surpreso quando descobri que seria tão tranquilo assim, mas estaria mentindo se dissesse que não gostei disso pra caramba.

     Quero procurar um emprego pelas redondezas o quanto antes, mas todos os restaurantes chiques que visitei disseram que eu preciso pelo menos já ter feito dois anos na faculdade, e às lanchonetes não podem me liberar duas vezes por semana, quando estou nas aulas.

     Agora estou caminhando para a biblioteca do Campus. Já deve ser umas 2:00 horas da tarde, e a aula terminou não faz muito tempo.

     Eu gosto bastante de ler, mas não vejo motivo de comprar livros quando posso pegar emprestado com alguém ou na biblioteca, já que depois de ler a primeira vez, foda-se pra mim para onde eles vão. Não gosto de guardar coisas que não preciso mais, e geralmente quando compro um, passo para frente pouco tempo depois.

    A biblioteca é enorme, e com uma série de fileiras indo de um lado ao outro, além de algumas mesas e cadeiras dispostas aqui e ali de forma aleatória. Há no máximo umas cinco pessoas aqui, e isso deixa o lugar bastante calmo e silencioso.

     Eu ando tranquilamente pelos corredores, passando pela enorme seção de livros de direito ou gramaticais, que não me interessam em absolutamente nada, na verdade, então vou até o outro lado, observando os títulos para ver se acho alguma coisa interessante.

     Depois de andar no mínimo umas duas vezes por cada corredor, resolvo pega uma velha edição de cidade dos ossos, que está bem amassada e repleta de post-its. Gosto de ler livros usados porque é como se viessem duas histórias em uma, já que a pessoa que leu antes também deixou suas próprias marcas.

     Procuro um lugar tranquilo para começar a ler e acabo sentando num cantinho meio escondido com uma mesa redonda pequena e duas cadeiras velhas de madeira, mas incrivelmente confortáveis, como se as centenas de pessoas que sentaram nesse lugar antes de mim tivessem amaciado o estofado.

     Começo a leitura de forma calma, sem qualquer pressa, até porquê não tenho mais planos para hoje a não ser ficar de bobeira. A escrita dessa autora é simplesmente sensacional, e mesmo ainda estando no terceiro capítulo, estou gostando muito da protagonista, que...

     — Hey. —  Uma voz grave que nunca ouvi antes me faz desgrudar os olhos da página amarelada e erguer o rosto rapidamente, um tanto sobressaltado com o susto.

     A primeira coisa que noto são os olhos incrivelmente pretos, depois os lábios grossos e carnudos, cujo o inferior é levemente mais claro que o superior. Minha boca seca quando percebo de quem se trata, e tenho quase certeza de que o meu coração está quase saindo pela boca.

     — O-oi? — O meu sussurro é quase inaudível, e devo estar parecendo um fantasma mais do que nunca. Hunter está vestindo uma calça de moletom e uma camisa sem mangas com capuz, deixando a mostra os seus braços musculosos, daquele intenso cor de marrom escuro, já que a pele dele é retinta.

     — Começar 'cidade dos ossos' te obriga a ficar num esquema de pirâmide de mais de vinte livros. — Ele murmura, antes de sentar na cadeira vaga do outro lado da mesa e esticar as pernas, já que elas são tão longas que não conseguem se acomodar sob a mesa, mesmo dobradas. Hunter também coloca uma mochila no chão, ao seu lado.

     — V-você lê? — Encolho o corpo, ainda sem acreditar que ele realmente esteja aqui na minha frente. Nunca sequer tinha ouvido a voz dele antes, e a primeira vez que o vi foi nos corredores da escola, andando com seus amigos populares.

      Uma onda de pânico e medo passa por mim ao pensar que ele pode estar pensando que eu sou Sean, que provavelmente anda em grupinhos de pessoas descoladas próximos ao seu.

     — Não leio à menos que seja obrigado, mas minha irmãzinha já leu praticamente metade dos livros existentes no mundo e me obrigava a escuta-la falando sobre todo santo dia.

     — Ah. — Eu devo está parecendo um retardado mental aqui, porque tudo que consigo fazer é alternar o olhar entre aqueles lábios carnudos e qualquer outra coisa nessa biblioteca para não ficar muito na cara que eu tenho uma quedinha por ele. Acho que esse lugar está diminuindo de tamanho, porquê estou ficando meio sem ar aqui.

     — Eu sou o Hunter, aliás. — Aquela voz levemente rouca diz, me fazendo soltar um suspiro rápido e engolir em seco. Aquelas sobrancelhas grossas e meio arqueadas tem minha total atenção agora, e o maxilar trincado também.

    — Eu sei quem você é. — Murmuro, sem qualquer arrogância na minha voz. Abaixo os olhos para o livro aberto, antes de fecha-lo e usar a orelha da capa para marcar, até porque não conseguiria continuar nem se quisesse.

     — Você é o Dean. Certo? — Hunter pergunta, me fazendo arregalar os olhos com surpresa por ele saber o meu nome.

     — S-sim. Como você sabe? — mordo o lábio meio sem jeito. Será que Sean fez alguma loucura?

     — Você costuma sentar nas arquibancadas da quadra várias vezes por semana, enquanto lê ou escreve. — Hunter dá de ombros, e eu fico completamente assustado com o fato de não ter passado despercebido.

      Será que ele notou que eu estava lá quase todo santo dia durante os últimos três meses? Ai meu Deus...

     — Além disso. Você esqueceu isso outro dia, quando estava com o outro cara idêntico a você. — Ele tira o meu sketchbook da mochila e coloca em cima da mesa, antes de empurra-lo levemente na minha direção.

      Eu encaro o caderno com um calafrio percorrendo a minha espinha e reverberando por todo o meu corpo, como se o maldito sketchbook tivesse prestes a criar a asas e me atacar. Mas na verdade é muito pior que isso!! Porquê além de ter algumas receitas, há coisas completamente vergonhosas alí.

      TINHA ESQUECIDO COMPLETAMENTE DESSA MERDA!! Uma minúscula parte de mim tenta me reconfortar imaginando que ele deve ter pegado o caderno e guardado sem xeretar...

     — Adorei os desenhos, aliás. Principalmente aquele que eu estou vestindo uma tanga. segurando uma harpa e com uma coroa de louros. Mas tenho quase certeza que Apollo era loiro, e não negro como eu, porque...

     — A-ai meu D-Deus. — Interrompo o seu comentário bem-humorado, sentindo uma onda de vergonha e terror passar por mim. Levanto da cadeira num pulo desajeitado, mais sobressaltado do que nunca, antes de pegar as minhas coisas e correr para fora da biblioteca, sentindo minhas bochechas arderem tanto que é como se estivesse pegando fogo.

     — Espera! — Hunter grita, mas eu não olho para trás enquanto dou o fora daqui.

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MEU CRUSH SECRETO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora