CAPÍTULO 18

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     No dia seguinte, eu conto às horas até chegar o momento em que o treino de Hunter começa, então visto um calção esportivo e coloco uma camisa simples também, para então calçar os meus velhos e surrados sapatos e sair do meu apartamento, levando apenas o meu sketchbook (acho que o meu pavor dele diminuiu com o tempo) e o velho livro da Cassandra Clare que estava lendo no dia do fiasco da biblioteca.

       Choveu um pouco durante a manhã, e mesmo que já passe das três da tarde, as calçadas ainda estão completamente molhadas e escorregadias, me fazendo demorar quase uns vinte minutos para chegar até a quadra de futebol americano.

       Os jogadores já estão correndo um lado para o outro, e pelo visto parece que a equipe foi dividida em dois times diferentes, que estão disputando entre si. Todos os caras são musculosos e parecem ser alguns anos mais velhos do que eu, mas enquanto caminho pela arquibancada molhada, procuro aquele em específico que tem ocupado boa parte da minha mente ultimamente.

       Há outros dois caras negros e musculosos no time, mas o que estou procurando em específico tem a pele um pouco mais escura que a desses dois. encontro Hunter de costas para mim, gritando ordens para os seus companheiros e correndo pelo campo como de fosse o dono do lugar.

       Eu procuro rapidamente um lugar para sentar, sem me importar que os bancos estejam um pouco úmidos por causa da chuva. Hoje eu resolvo ficar na parte mais baixa da arquibancada, já que o céu está bastante nublado e eu não preciso ficar me escondendo do sol como um vampiro. Além disso, há algumas outras pessoas sentadas na arquibancada do outro lado do campo, então não vai ficar tão na cara que eu vim aqui só encarar descaradamente aquele homem lindo correndo logo alí.

       Coloco o livro apoiado nas minhas coxas e uso-o como encosto para apoiar o sketchbook, antes de abri-lo e procurar uma página limpa.

      Desenhar demora pra caramba, e as vezes preciso de até uns quatro dias para eu conseguir concluir o mesmo desenho. Sempre começo fazendo um esboço e fazendo uma delimitação rápida de onde será cada parte do corpo ou do objeto que irei desenhar.

       É impossível desenhar Hunter em uma posição me baseando pelo real, já que ele não para em um lugar por um segundo sequer, então preciso contar com minha imaginação, e olhar para Hunter apenas quando tenho alguma dúvida sobre como é ou não o corpo dele (se bem que é praticamente impossível esquecer algum detalhe depois de tudo o que eu vi no outro dia).

       O jogo continua se desenrolando na minha frente, mas pra falar a verdade nem sei qual dos dois times está ganhando, embora o sorriso convencido nos lábios carnudos de John me dê um bom indicativo de quem esteja na frente.

      Os minutos vão se passando, e estou tão submerso no meu desenho que só volto ao mundo real quando alguém grande senta ao meu lado, como se tivesse surgido do nada.

      Olho para a direita e dou de cara com John, me encarando atentamente. Ele está completamente suado, com gotas gordas escorrendo pela pele marrom dos seus braços e do rosto. A calça justa e a camisa estão sujos com pedaços de grana e terra, e ele colocou seu capacete do seu outro lado, na arquibancada.

      Depois de um rápido olhar para a quadra, percebo que todo mundo já foi embora e só tem a gente aqui.

     — Eu vou estar pelado nesse aí? — John pergunta, inclinando-se para mais perto e olhando o desenho, onde eu já comecei a fazer os detalhes com mais calma, e já é possível ver que é o seu rosto aqui.

      — N-não. — Digo, abrindo um pequeno sorriso para ele.

     — Eu vou tomar um banho rápido no vestiário. Você quer ir lá pra casa assim que eu sair? — Ele começa a arrancar a camisa e as ombreiras, fazendo um peitoral suado surgir no meu campo de visão logo em seguida. Minha boca seca no mesmo instante, e eu não consigo desviar os olhos.

     — C-claro. — Tento não soar absurdamente empolgado e nervoso com isso, embora seja exatamente o que estou sentindo agora.

     — A gente se ver daqui a pouquinho, então. — Ele murmura, se aproximando um pouco, como se fosse me beijar, antes de voltar a se afastar e levantar do banco, para então começar a andar em direção aos vestiários, com as costas musculosas praticamente brilhando de suor.

      Não sei ao certo que tipo de relação John quer comigo. Vamos ter uma amizade colorida? Ele vai ficar com outras pessoas enquanto está comigo? Será que ele está querendo apenas descobrir um pouco mais sobre como é ficar com outro cara, antes de "voltar" a ser "hetero" novamente?? Não sei como me sinto em relação a sexo e pegação casual, e mesmo nunca tendo feito isso, acho que não é para mim.

      Acho que iria gostar de namorar, dormir agarradinho todo dia, ter alguém para me apoiar nos momentos difíceis e dá apoio sempre que a pessoa precisar. E mesmo não sendo um compromisso que tenho com Hunter, estou satisfeito com o que temos.

      Será que isso é falta de amor próprio? Será que estou tão apaixonado por John que apenas estou aceitando tudo que ele está disposto a me dar? Será que...

      Não. Balanço a cabeça para os lados para tentar me livrar desses pensamentos intrusivos e idiotas. Ele foi super legal e atencioso comigo, além de ser super gentil e ter um bom caráter, e isso é uma das coisas que me faz gostar dele!

      E outro ponto importante: nós nos conhecemos de verdade não faz nem uma semana! Como eu posso ficar delirando tão longe do que estamos tendo agora?? Como posso está pensando em namoro uma hora dessas?? Acho que se ele soubesse que estou pensando nisso, iria ficar um pouquinho assustado, na verdade. E com toda razão.

       Pulo da arquibancada e começo a andar em direção ao canto do campo para esperar Hunter, querendo ocupar a minha mente com alguma coisa.

      Não demora muito para John sair do vestiário vestindo um calção e uma camisa esportiva, além de uma mochila simples pendurada em um dos ombros.

       Assim que ele se aproxima com um sorrisinho maroto no rosto e emanando um cheiro de sabonete, esqueço todas as minhas inseguranças sobre o que a gente tem e preciso resistir para não pular em cima dele, porque estamos em público.

     — Vamos lá? — John pergunta, roçando as mãos na minha cintura enquanto indica para a gente sair da quadra para ir até o estacionamento. O seu sorriso cheio de segundas intenções me pega desprevenido e eu não consigo evitar o suspiro longo que escapa de mim.

     — V-vamos. — Confirmo.

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MEU CRUSH SECRETO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora