CAPÍTULO 06

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     A boate em que estamos é realmente bem mais bonita que a em que estive da outra vez, mas a essência é completamente a mesma: com pessoas se esfregando em cada centímetro do lugar e mulheres seminuas por toda parte. Luzes néon de todas as cores possíveis estão piscando pelo salão, e a música alta me deixa um pouco atordoado.

     Sean parece perfeitamente a vontade, e foi buscar bebidas para a gente assim que chegamos. Eu estou encostado num canto meio escuro e observo-o se aproximar com um refrigerante em uma das mãos, e um copo com alguma coisa amarelada na outra.

    — Obrigado.—  Digo assim que ele me entrega o refrigerante.

    — Vamo andar por aí, bocó. — Sean me dá um empurrãozinho e começa a andar de volta para a multidão, indicando para que eu o siga. Eu tento ao máximo não esbarrar com ninguém, mas meu irmão vai empurrando todo mundo, como se tivesse abrindo um caminho para mim.

    — Sean? — Uma voz masculina grita sobre a música alta assim que a gente chega perto da pista de dança. O dono da voz é um sujeito que parece ter quase a nossa idade, apesar de bem mais alto e com mais músculos.

    — Hey. — Sean acena para o cara, enquanto já começa a dançar feito um maluco na pista de dança. O sujeito bonito e os dois amigos dele ficam alternando o olhar entre eu e meu irmão, com a boca levemente aberta.

    — Você é o...?

    — Dean. — Respondo, antes de tomar um belo gole do refrigerante e voltar a observar a dança maluca de Sean. Ele já está sarrando com um cara e uma garota aleatórios, e a cena é tão hilária que eu não resisto a vontade de puxar o celular do bolso da calça e começar a gravar a ceninha alí, tentando conter a gargalhada que ameaça escapar de mim.

     — Sabe Dean. Que tal um a três? Eu, você e o seu irmãozinho alí. — Uma mão agarra o meu ombro e me puxa levemente para trás, quase me fazendo escorregar e cair de cara no chão.

    — Sai pra lá seu... nojento! — Me desvencilho de quem quer que seja, com meu estômago embrulhado com a imagem mental nada convidativa que surgiu na minha mente. O sujeito que estava me agarrando parece ser do grupinho do outro cara que falou com Sean pouco tempo antes, e isso me faz soltar um grunhido de desgosto.

     — Dean, cê tá bem? — meu irmão surge do nada e me pega pelos ombros, com uma expressão preocupada.

     — Tô sim. — Explico, um pouco desconfortável. Não deveria ter deixado ele me convencer a vir para cá.

    — Você tá branco como papel, irmão. — Ele murmura. Eu abro a boca para reafirmar que estou bem, mas é aí que percebo o duplo sentido na frase e que ele está caçoando de mim.

     — Hahaha engraçadinho. Eu só não gosto muito de ficar em lugares com tanta gente assim. Se importa se eu voltar lá pro canto?

     — Claro que não. Vamos pra lá então. — Ele começa a me puxar para o canto, mas eu retiro gentilmente a sua mão que está agarrando o meu braço.

    — Não preciso de uma babá, Sean. Vai dançar com os seus amigos. — Murmuro, implorando silenciosamente por isso.

     — Eu... Tudo bem. Mas vou ficar de olho em você. — Ele diz, então eu confirmo com a cabeça e começo a andar até o canto em que estava antes, ciente de que ele está me observando fazer isso.

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     Passo uns trinta minutos jogando um joguinho aleatório no meu celular, antes de desliga-lo porque a bateria está em 14%, e a gente precisa chamar o táxi para voltar para os dormitórios.

     Ergo o olhar e percebo que o lugar está com mais gente ainda, e a música ficou mais alta do que estava antes, mas a primeira coisa que noto é o cara que está cambaleando perto do balcão do bar, completamente bêbado. Ele está de costas, mas a pele marrom e o cabelo crespo me dão um belo indicativo de quem seja.

      O meu coração dá um salto desenfreado, mas me tranquilizo rapidamente quando percebo que ele não pode me ver à essa distância. Será que Hunter esteve aqui o tempo todo??

      Ele está vestindo uma camisa preta e uma calça desbotada que valoriza cada centímetro do seu corpo, apesar dos passos meio incertos e da forma meio desorientada como ele se movimenta. Uma garota morena e bonita se aproxima dele com um sorriso largo e cheio de segundas intenções, mas Hunter simplesmente à dispensa com um simples aceno de mão e começa a cambalear em direção a saída.

      Parte de mim fica feliz pra caramba por ele ter dispensado a garota, mesmo que eu já tenha ouvido falar que ele já ficou com algumas no campus, não que eu me importe com isso. Outro indicativo de que Hunter é hétero, e que eu deveria desistir logo disso, principalmente depois da ceninha vergonha do outro dia, na biblioteca. Ele provavelmente acha que eu sou um stalker maluco ou algo do tipo.

      E mesmo não devendo fazer isso, eu começo a caminhar entre as pessoas em direção a saída também, só para checar se ele está bem. A minha pulsação aumenta à medida que me aproximo da porta, mas mesmo assim não desisto, pretendendo pelo menos dá uma espiadinha sem que ele me veja.

    O ar frio da noite me atinge assim que coloco os pés fora da boate, e ao contrário de quando chegamos, está nublado pra cacete, e parece que vai começar a chover a qualquer momento. O estacionamento ao lado da rua está completamente silencioso, mas consigo saber onde Hunter está pelo som engasgado e meio masculino que ele faz, além dos passos pesados e arrastados.

     Encontro Hunter num beco escuro entre a boate e outro prédio. Ele está de joelhos no chão e colocando as tripas para fora numa lata de lixo velha.

    — Hey, você tá bem? — pergunto inutilmente enquanto me aproximo, porque é lógico que ele não está bem. A vergonha que eu ainda sinto não é o suficiente para me impedir de andar até ele, que Murmura algumas palavras desconexas e está com os olhos completamente desfocados de tanta bebida.

     Merda. Acho que ele vai desmaiar a qualquer momento! E já está começando a pingar.

    — Você veio de carona? Tem alguém com quem eu possa falar? — abaixo-me ao seu lado e passo um dos seus braços por cima dos meus ombros, tentando ignorar o fato do quão musculoso e quente ele é.

     — Carro... — Ele grunhe, e a palavra é quase impossível de entender, como se ele estivesse com a língua presa. Eu considero as minhas opções, sentindo o coração martelar sem parar. Não o vi conversando com ninguém lá dentro, então não tenho para quem recorrer.

     Começo a andar em direção a rua com certa dificuldade, porque ele pesa pra caramba e está jogando praticamente todo o peso pra cima de mim.

    — Q-qual carro é o seu? — Pergunto, então ele aponta para o carro bonito e prateado que está do outro lado do estacionamento, mesmo que esteja praticamente com os olhos fechados.

      Nós chegamos lá o que parece ser uma década depois, e eu faço Hunter se encostar no carro, porque não tô mais aguentando o seu peso, antes de enfiar a mão no bolso da sua calça e tirar a chave lá de dentro, sentindo minhas bochechas arderem de tanta vergonha pela proximidade que a minha mão esteve do seu...

      Abro a porta do passageiro e empurro-o pra dentro, e ele entra no carro sem ao menos protestar, antes de fechar os olhos e continuar murmurando palavras desconexas.

    — vou avisar pro meu irmão que tô indo embora. Volto em dois minutos. — explico, antes de fechar a porta para ele não correr o risco de cair de cara no chão.

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MEU CRUSH SECRETO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora