08. Sofrer assim prova que você ainda é um homem!

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08. Sofrer assim prova que você ainda é um homem! Essa dor faz parte do ser humano

Harry ergueu a mão para a porta do escritório de Snape e hesitou. Foi um gesto inconsciente, mas que o deixou inexplicavelmente nervoso. Ele já havia batido nessa porta mais vezes do que toda a Grifinória junta, então isso realmente não explicava por que de repente ele se sentiu mal do estômago.

Ele respirou fundo e tentou novamente.

A voz de Snape respondeu:

— Entre — e Harry entrou.

Naquela ocasião, havia ficado óbvio o que ele deveria passar as próximas duas horas fazendo. A bancada em frente à mesa de Snape estava repleta de caldeirões sujos e frascos vazios, varetas de agitação e balanças de poções.

Snape ergueu-se brevemente da escrivaninha e fez um gesto para a pilha, parecendo particularmente satisfeito com a expressão de desagrado de Harry.

Harry se aproximou da mesa, tirando a capa e arregaçando as mangas. Por mais que detestasse limpar caldeirões, ele preferia muito mais do que conversar com Snape, então se pôs a trabalhar com gosto, o trabalho físico inesperadamente agradável em sua distração.

Snape estava trabalhando a alguns metros de distância, marcando redações pela aparência da pilha de papéis cobertos de tinta vermelha brilhante. Trabalhava em silêncio e não dava a Harry um olhar sequer. Harry, por outro lado, estava sempre olhando para Snape, com a cabeça inclinada sobre o trabalho, o cabelo caindo sobre o rosto.

Seu rosto parecia relaxado, e Harry pensou por um momento que era a primeira vez que olhava para o homem sem ver uma carranca ou um escárnio. Ele parecia mais jovem assim, com os olhos correndo para cima e para baixo na página à sua frente e os lábios se contraindo levemente enquanto lia. Ele parecia quase humano. Era estranho pensar em Snape como uma pessoa. Feito de carne e osso como todo mundo, com sentimentos, desejos e vontades. Ele percebeu que sabia mais sobre Snape do que sobre a maioria das pessoas, o que certamente era incomum para um homem que ele deveria odiar.

Ele sabia que Snape gostava de homens. Que ele gostava de uma bebida, mas achava a embriaguez desagradável. Sabia que ele tomava uma xícara de chá Earl Grey pela manhã e que sua casa cheirava a pinho e café moído na hora. Ele sabia que se sentia culpado, sempre, mas nunca projetava essa culpa nos outros. E, mais recentemente, ele havia aprendido que Snape possuía um forte traço de proteção, que parecia não conseguir controlar.

A luz da vela do candelabro atrás da escrivaninha de Snape se iluminou, destacando a saliência de sua mandíbula e o corte afiado das maçãs do rosto. Harry se viu notando coisas em Snape que nunca haviam passado por sua cabeça antes. Por exemplo, como seus cílios escuros lançavam sombras sobre as bochechas e como os muitos botões de suas vestes de professor se esticavam ligeiramente à medida que ele inspirava e expirava. Ele observou a coluna pálida da garganta de Snape quando ele engolia, e como ele mordia inconscientemente o lábio inferior ao corrigir um trabalho ruim em particular.

Harry nunca teve um tipo de mulher. Bonitas e bem dispostas era o seu único escrúpulo, mas com os homens ele sempre achava que certas características chamavam sua atenção. Ele gostava deles altos, com cabelos e olhos escuros, e adorava um arco do cupido (lábios) bem definido e uma mandíbula esculpida.

Snape nunca foi o que alguém chamaria de esteticamente agradável. Seu nariz era muito comprido, sua pele muito pálida e o cabelo dele sempre foi um pouco escorrido, mas, objetivamente, e além do fato de ser um sarcástico mal-humorado, ele não era um homem de má aparência. Harry parou de repente, percebendo com horror abjeto que estava dando uma olhada em Snape.

I mean, it's sort of exciting, isn't it, breaking the rules? | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora