Querida Mariah Carey 5

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Querida Mariah Carey,

Não queria escrever sobre essa vizinha outra vez, mas é a única coisa diferente que está acontecendo nesses últimos dias.

Já faz algumas semanas desde que ela se mudou pra cá e eu não tenho nenhuma reclamação a fazer.

Nos vimos algumas vezes pela varanda, mas não trocamos nenhuma palavra. Eu não quero fazer amizade com ela, não faz sentido eu fazer uma amiga nova sendo que eu não posso sair e ninguém pode vir aqui em casa, então eu só ignoro totalmente o fato que ela está lá me vendo também.

Mas hoje de noite, nós trocamos as nossas primeiras palavras. Já faz mais de uma hora que eu estou tentando escrever mas eu travo toda hora quando penso no que acabou de acontecer

Eu estava na minha varanda, sentada no meu estofado e terminando de ler aquele livro que eu tinha começado, a luz do meu quarto estava apagada e só tinha a iluminação do poste da rua, que era iluminado o suficiente pra mim conseguir ler as páginas.

Amo essa vibe silenciosa de Oregon pra ler.

Até que, a vizinha loira sai para varanda chorando muito, mas tipo, MUITOOO mesmo. Eu não sei se ela fazia isso com frequência, porque eu não a via muitas vezes.

Eu estava observando tudo em silêncio, ela não conseguia me ver aqui porque estava escuro. A vizinha começou a mexer no cabelo, começou a apertar o próprio braço, começou a dar pequenos murros na grade ao mesmo tempo querendo não fazer barulho e gritava silenciosamente.

Eu não queria aparecer naquela hora e perguntar o que estava acontecendo, iria constrangê-la. Mesmo sendo errado eu estar observando ela escondida.

Eu também estava me odiando porque eu conheço meu coração e sei que não iria conseguir deixar ela lá chorando sem me preocupar. Às vezes eu queria ser mais fria do que já sou, eu queria deixar ela pra lá e voltar a ler, mas eu não conseguia parar de olhar e eu queria ajudar.

Ela só estava tendo um momento de surto, eu já tive vários desse tipo. Ela estava tendo uma crise de ansiedade e se eu aparecesse agora não iria ajudar em nada, aposto que ela iria entrar correndo com vergonha de mim. Ela precisava se acalmar sozinha já que eu não estou lá do lado dela pra ajudar.

A garota foi se acalmando aos poucos e regularizando a respiração, mas ainda não parou de chorar. Ela apoiou as duas mãos na grade e começou a olhar para a grama lá embaixo, essa era a hora certa de eu me levantar e falar com ela.

— Dia ruim? - eu pergunto e apoio os antebraços na grade e olho pra ela.

Ela levantou a cabeça e olhou pra minha varanda, quando me encontrou, limpou o rosto rapidamente, parecia envergonhada. Isso só me mostra que eu estava certa, ela com certeza entraria correndo com vergonha de mim.

— Eu acho que eu não tenho muitos dias bons. - ela diz e solta uma risadinha sem humor enquanto engole o choro.

— Olha só, temos uma coisa em comum. - eu digo e ela ri fraco e funga o nariz.

— Isso soa tão engraçado porque você não aparenta ter problemas e dias ruins. - ela diz olhando pra mim.

— Calma aí, eu conheço esse sotaque. - interrompo ela esticando a mão.

— Hum? - ela diz sem entender.

— Você é brasileira, né? - pergunto sorrindo.

— Nossa uau, você é boa. - ela responde sorrindo e cruza os braços. — Eu sou tão ruim assim falando inglês? - ela pergunta em português dessa vez.

Keep Swimming - OhanittaOnde histórias criam vida. Descubra agora