Larissa:
Nossa jornada no hospital se iniciou. Ohana não tinha mais condições de sair daqui pra ir pra casa, nem pra dormir. Agora tinha que viver tomando remédios pra estabilizar, e os remédios mexem com tudo, dão muito sono. Sinceramente, eu estou só no piloto automático, não sei o que pensar, fazer, nem como reagir, estou aqui pra distrair e ficar com ela, pra mim é minha única função, dar amor pra ela. Se eu parar mais de um minuto pra pensar, eu piro. Ainda bem que a Carina e a Letícia estão sempre aqui pra dar um apoio.
Eu tentei oferecer uma quantia grande de dinheiro pra fazer Ohana avançar na fila, mas nem ela mesma concordou comigo. Disse que não era justo com as mulheres que estavam na frente dela, e ela estava certa... mas eu queria ela viva... Sei que não é justo com as outras, mas com Ohana também não é. Eu queria e faria de tudo pra ter ela viva.
— Não é justo neném... - ela diz deitada na maca enquanto alisa meu rosto, eu estava sentada ao lado dela, em uma poltrona. — Imagina se nós duas fôssemos pobres, você ia achar justo se uma familia rica pagasse pra uma mulher passar na minha frente? - ela diz e eu suspiro negando com a cabeça.
— Não... - digo fechando os olhos com o contato. — Mas nada nesse mundo é justo mesmo... Então eu não ligaria pra isso, se significasse que você iria ficar viva.
— Fica em paz, você já fez tudo que podia meu amor, tudo, tudo mesmo! - ela diz, sorrio de canto com o carinho abrindo os olhos novamente. — Agora só precisa ficar aqui comigo, esperando, e esperando... - ela ri fraco. — Já estou em 25° lugar, não é tão longe...
— É sim, lógico que é. - digo triste segurando o pulso dela, começo a deixar beijos nas costas da mão dela. — Se estivesse pelo menos em quinto lugar... Eu ficaria mais aliviada. Não gosto de te ver fraca... - suspiro pesado.
— Calma, o que for pra acontecer vai acontecer...
— Você não sente medo não? - pergunto olhando pra ela.
— De morrer não, minha preocupação é como você vai ficar aqui... É disso que tenho medo. - ela diz, reparo seus olhinhos vermelhos de cansaço, mas ela já dormiu umas sete vezes hoje, e ainda está chegando no final da tarde.
— Eu não vou aguentar, sabe disso né? - digo sincera.
— Hum... Às vezes me irrita muito o fato de você ainda estar do meu lado, sabia? - ela ri sem humor. — Porra, você não acha que existem pessoas melhores que eu? Lá fora? Porque tá aqui trancafiada comigo... Nesse estado... Eu tô morrendo Larissa. Você não sente que tá perdendo seu tempo? Seja sincera, amor.
— É, e eu já pensei nisso. Eu acho que existem sim pessoas melhores. - digo olhando pra ela, aliso as costas de sua mão.
— É... e-eu sei que sim... - percebo que ela não esperava esse tipo de resposta minha.
— O mundo é muito grande, existem muuuitas pessoas nele, pode existir sim alguém melhor pra mim. - digo, observo as reações dela. — Só que... você consegue enxergar a nossa história? Consegue enxergar tudo que a gente construiu? Acha que alguma pessoa nesse mundo consegue superar o que a gente fez e passamos juntas, em? - digo sorrindo de canto, ela vira o rosto pro lado.
— Vida você sabe que eu sou sensível... Porque fica falando essas coisas bonitas? Sabe que eu vou chorar, né? - ela ri sem graça.
