Larissa:
As enfermeiras entram no quarto pra dar o banho a seco em Ohana e eu vou me sentar no batente alto, na frente da janela. Encosto a lateral da cabeça na parede e suspiro, em seguida bocejo e cruzo os braços. Após tirarem a roupa dela, começo a observar cada mãozinha das três enfermeiras que tocam o corpo dela com o lenço umedecido.
— É uma moça jovem, né? - uma das enfermeiras diz olhando pra mim, uma senhorinha. — É muito bonita.
— Ela é... - digo sorrindo leve enquanto olho pra Ohana.
— Ela tem algo de diferente, parece ser uma boa pessoa. - ela diz passando lenço umedecido no antibraço de Ohana. — Ela é o que sua?
— Noiva. - respondo prestando atenção quando uma delas chegam perto da parte íntima, vejo ela limpar cuidadosamente e partir pra parte das coxas.
— Ah sério? Que bacana. - a senhora diz simpática. — Faz falta né? De conversar...
— Ô... nem me fale. Se a senhora soubesse a falta que esse ser-humaninho faz pra mim... - digo rindo fraco.
— Bom pra ela que você esteja aqui, sabia? Toda vez que eu passo ali pelo corredor, vejo você sempre aqui com ela fazendo carinho, mas nem imaginei que eram noivas. - ela diz e eu sorrio de lado. — Acho que eles sentem quando estão bem acompanhados, se sentem protegidos.
— Uhum...
— Você conversa com ela ainda?
— Converso bastante, mesmo que ela não me escute.. - respondo.
— Continue conversando, faz bem. Sabe o que você pode fazer também?
— Hum?
— Coloque alguma música que ela gostava, sabe? Ou alguma que você ache que ela vai gostar... Ajuda. Coloque um fonezinho baixinho no ouvido dela.
— Hum... - continuo a prestar atenção na limpeza delas no corpo de Ohana. — Vou pegar essa sua dica.
— Eu tenho a impressão de que já te vi em algum lugar... - ela diz forçando a vista pra me olhar, era uma senhorinha de meia idade, acho engraçado.
— Será? - pergunto escondendo o sorriso.
— É a Anitta, Dona Gal. - a outra enfermeira responde pra ela.
— Ai noossa, verdade! - ela diz abrindo a boca. — Perdão, viu? Não tinha reconhecido, mas eu sabia que eu tinha te conhecia.
— Que nada, Dona Gal. Aqui eu sou a Larissa, Anitta não existe mais. - explico.
— Fiquei sabendo que você encerrou sua carreira mesmo... É mesmo, menina? - ela pergunta.
— Sim, foi um ciclo encerrado né. - digo olhando pra Ohana. — Eu tinha outras coisas importantes pra cuidar... Não podia ser Anitta pra sempre.
— Tem razão, às vezes a gente precisa de uma longa férias né? - ela diz e eu concordo com a cabeça.
— Mas você pretende voltar a cantar algum dia? - outra enfermeira pergunta, nego com a cabeça.
— Não, tá fora de cogitação. Vai ser muito difícil eu querer voltar, quero distância dessa vida no momento. - respondo.
Depois de terminarem toda a limpeza, vestem Ohana de novo e saem do quarto, antes de eu me sentar na poltrona, o interfone toca e eu vou atender.
— Oi?
— Boa noite, a Letícia Chataignier está aqui, pode liberar?
— Pode sim.
