Capítulo 02| Pesadelos

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Aelin Bianchi

Há dias venho sendo atormentada pelo mesmo pesadelo. Uma frase que me persegue, sufocando-me, deixando-me ansiosa.

"Sua mãe está morta..."

Essas palavras ecoam em minha mente, como se alguém as gritasse com raiva. A voz alterada acusa-me, afirmando que fui eu quem a matou, que sua morte é minha culpa.

Mas não era verdade, não totalmente. Minha mãe estava morta. E eu estava sentada ao lado dela, minhas roupas manchadas com o vermelho escarlate que havia saído de seu corpo frio.

A pessoa continuou a me culpar, dizendo que eu nunca deveria ter nascido, que não servia para nada, nem mesmo para assumir o cargo da empresa. Meu próprio pai, com raiva nos olhos, expulsou-me da família no dia do enterro de minha mãe. Eu não pude me despedir dela, apenas vi seu corpo deitado, olhando para mim.

Lembro-me de um dia feliz com ela, quando éramos apenas mãe e filha. Ela me levou a um jardim de flores em Verona, onde as rosas azuis brilhavam sob o sol. O mesmo dia em que toda a desgraça aconteu, o dia que meu pai não pode ir.

- Sabia que essas são minhas rosas favoritas stella mia?

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- Sabia que essas são minhas rosas favoritas stella mia?. - Sua voz saia como melodias, ao me chamar de minha estrela. - Um dia, você também cuidará delas e as plantará para mim.

Ela me chamava de stella mia. E agora, entre as rosas vermelhas do funeral, suas palavras ecoam: "Não desista, não abaixe a cabeça perante ninguém. Agarre sua felicidade."

Eu guardo essas lembranças, e a estrela que ela viu em mim continua a brilhar, apesar das palavras cruéis e da culpa que carrego.

A presença de todos no sepultamento foi surpreendente. Mesmo meus irmãos, que só se encontravam em ocasiões especiais ou quando nossa mãe insistia muito, estavam ali. O clima era pesado, e as lágrimas escorriam silenciosamente pelos rostos dos presentes. O caixão estava coberto de flores, e o padre proferia palavras de conforto.

Olhei para minha avó, encolhida no banco da frente. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas ela mantinha a compostura. Ela sempre fora forte, mesmo nos momentos mais difíceis. Meus irmãos estavam ao seu lado, segurando suas mãos, oferecendo o apoio que ela precisava. O apoio que eu não poderia dá agora.

Lembrei-me das discussões, das rivalidades e das vezes em que nos afastamos uns dos outros, por motivos idiotas. Mas ali, naquele momento, tudo parecia insignificante. Éramos uma família unida pela dor da perda, e isso nos aproximava de maneira profunda e inexplicável. O padre continuou sua homilia, falando sobre a vida após a morte, sobre a esperança e a fé.

O caixão de minha mãe saía para a sepultura, acompanhado por todos os presentes na igreja. Mesmo escondida atrás das árvores, eu o segui sem que ninguém percebesse. O sol lançava raios dourados sobre o gramado do cemitério, e o vento sussurrava entre as lápides antigas. As palavras do padre ecoavam no ar, trazendo consolo e tristeza ao mesmo tempo.

As flores frescas depositadas sobre o caixão exalavam um perfume suave, misturando-se ao aroma da terra úmida. Os passos lentos dos carregadores ecoavam como batidas de coração, marcando o último adeus. O céu estava límpido, e uma borboleta solitária pousou em uma flor que estava próxima, observando silenciosamente o cortejo. As folhas das árvores tremulavam, como se também quisessem prestar suas últimas homenagens.

Após as despedidas de todos em relação à minha mãe, percebo que meu pai já não está mais presente. Sento-me na grama verde, segurando uma única rosa azul. As lágrimas que antes contive agora queimam em meu rosto.

- Eu sei que não tenho culpa da sua morte mamãe, mais porque me sinto tão culpada a respeito disso?. - Eu amava conversar com ela, entender as coisas que eu não compreendia tão facilmente.

Coloco a rosa azul no meio das brancas que foram deixadas pelo o meu pai e meus irmãos, e caminho sem rumo para algum lugar que eu não me sentisse culpada por tudo isso.

Coloco a rosa azul no meio das brancas que foram deixadas pelo o meu pai e meus irmãos, e caminho sem rumo para algum lugar que eu não me sentisse culpada por tudo isso

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Despertei de um breve sono após ter me aprofundado no meu último caso como perita. Embora não tenha intenção de abandonar minha profissão, decidi tirar férias.

Mesmo após tantos anos, ainda carrego o peso da perda e as palavras cruéis do meu pai. É como se essa cena se repetisse diariamente, mas sei que não posso fugir da minha realidade. Em algum momento, precisarei voltar a Verona e reviver tudo o que um dia vivenciei.

- Perdida em seus pensamentos de novo? - Zara me pergunta, sentando-se ao meu lado onde eu estava deitada.

- Apenas o mesmo sonho. - Digo, olhando para o vão no meio da cama.

- Terminou de investigar o caso da noite passada? - Zara era tão esperta quanto eu; ela queria saber o motivo dos assassinatos e não se contentaria com uma resposta simples.

- Ainda não terminei a investigação. Acabei pegando no sono, mas vou retomar mais tarde. - Menti. Ela não poderia saber que a máfia estava envolvida nisso. Afinal, não sabíamos qual máfia era, ou se era realmente uma máfia. Poderia até ser um cartel.

Zara franze a testa, estudando meu rosto. Ela sempre foi boa em ler as pessoas, e eu sabia que não conseguiria esconder nada dela por muito tempo.

- Você está escondendo algo, não está? - Ela diz, com um tom de desafio.

Engulo em seco. Como eu poderia explicar que eu fazia parte da família que controla a máfia mais vigiada e perigosa do mundo?. Tentamos descobrir os segredos por trás desses assassinatos brutais. Ela era minha melhor amiga, mas essa era uma verdade que eu não podia compartilhar com ninguém.

- Zara, eu... - começo a dizer, mas sou interrompida pelo som do telefone tocando. Ela me lança um olhar curioso antes de atender.

- Alô? - diz ela, e sua expressão muda rapidamente de curiosidade para choque. - O quê? Estamos indo para aí agora.

Ela desliga o telefone e se levanta, pegando a jaqueta.

- O que aconteceu? - pergunto, preocupada.

- O médico já fez a autópsia e o laudo está pronto, a família da vítima chega aqui dentro de duas horas. - Zara olha para mim ainda com dúvidas do que eu ia dizer. - Precisamos ir pra lá.

Eu assinto, sabendo que não posso mais esconder a verdade. A máfia não vai parar até que eu esteja morta ou até que descubramos o que eles estão escondendo. Só não sabia que um Don de uma das Cinco Famiglia, iria estar no legista também.

A Falha da Máfia - A Obsessão: 1° Novos HerdeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora