Aelin Bianchi
Amanhã fará onze anos desde que minha mãe foi morta. Amanhã estou voltando para Verona, e eu ainda tenho que terminar minha mala para pegar o voo. A cidade está silenciosa, como se também estivesse de luto. As luzes das ruas refletem nas calçadas geladas de Chicago.
Nesse momento meu pai deve está ainda no seu escritório trabalhando como sempre, absorto em seus próprios pensamentos. Ele não quer minha companhia, e eu não quero a dele. Nossa relação é uma teia de silêncios e mágoas não ditas. Mas, apesar de tudo, ele também perdeu minha mãe. Ele também a amava, de sua maneira estranha e distante.
Pego a foto dela na mesa de cabeceira. Ela está sorrindo, os olhos brilhando de alegria. Lembro-me daquele dia no parque, quando ela me empurrava no balanço. O vento bagunçava meus cabelos, e ela ria, uma risada que parecia música.
- Brilhe, minha estrelinha. - Ela dizia. - Como as estrelas que pontilham o céu noturno, espalhando sua luz.
A sensação de ter espalhado meu brilho e, no entanto, agora me sentir aprisionada é como uma constante batalha. Talvez, em algum momento, eu possa encontrar uma maneira de honrar essa luz que compartilhei com ela. Quem sabe, em meio às estrelas, ainda possamos nos encontrar, mesmo que apenas em pensamento.
A mala está semiaberta sobre a cama. As roupas estão dobradas com cuidado, mas minha mente está em outro lugar. Lá fora, a chuva começa a cair, batendo contra a janela do meu quarto. Será que o tempo em Verona está igual? Será que o céu está cinza, como se também estivesse de luto?
Olho para o relógio. São 00:00. O voo está marcado para 01:30 da manhã. Ainda tenho tempo para chegar ao aeroporto e comprar algo para comer. Afinal, sou feita de carne e osso, um ser que Deus criou.
Lá fora, o carro espera. O motorista olha para mim com simpatia. Ele sabe para onde estou indo, mas não faz perguntas. Apenas abre a porta, e eu entro.
A chuva continua a cair, e me pergunto se lágrimas também caem do céu. Olho pela janela, vendo as luzes da cidade se afastando. Verona está mais perto agora, e me pergunto o que encontrarei lá.
Talvez respostas. Talvez paz. Ou talvez apenas mais perguntas, mais dor. Mas vou, porque preciso. Porque ela ainda é minha mãe, mesmo que esteja sete palmos abaixo da terra.
E assim, o carro segue em direção ao aeroporto.
A chuva cai lá fora, e o cheiro de churros recém-fritos preenche a lanchonete. Estou sentada em uma das mesas, esperando meu pedido. O celular toca, e eu atendo sem pensar. A voz do outro lado da linha me atinge como um soco no estômago.
- Aelin Bianchi ?. - A voz é fria, calculada. - Aelin, um nome que carrega memórias de um passado que você preferiria esquecer.
- Como você me achou?. - Minha voz treme, mas tento manter a calma.
- Como? Você realmente acreditava que conseguiria se esconder para sempre, estrela?. - Ele ri, e o som é como uma faca afiada.
- Sim, afinal, vocês são idiotas. Passei anos sem ser descoberta, mas essa viagem a Verona ficou mais fácil pra você me encontrar. - Ouvi quando seus dentes bateram um no outro.
- Foi um prazer enorme vê-la morrer naquele dia no jardim de flores azuis. - A voz dele é cruel, como se ele estivesse saboreando cada palavra.
Eu fecho os punhos. Ele é o motivo pelo qual meu mundo se tornou sombrio, onde nem mesmo um raio de luz consegue penetrar. Não tenho medo dele. Ele é apenas um maldito.
- Não preciso da proteção do meu pai. - Respondo com firmeza. - Você sabe como eu sou, você sempre me observou.
Ele desliga, mas suas palavras ecoam em minha mente. -Estou louco pelo nosso encontro, Aelin. Te vejo em breve, amore mio.
O jardim de flores azuis. O sangue derramado. Os gritos. As lágrimas derramadas. A morte da minha mãe.
Naquele momento, a raiva que um dia havia se acalmado e desaparecido ressurge como uma tempestade. Tudo volta a ser um inferno, uma tortura incontornável. Por muitos anos, fui atormentada por esses sentimentos, torturada pelos meus próprios pensamentos e sonhos. A esperança que um dia tive parece escapar, como se o vento estivesse soprando aquela mesma tempestade de volta.
Lembro-me do jardim de flores azuis, onde tudo mudou. As pétalas eram tão vibrantes, contrastando com o verde exuberante das folhas. Ela estava lá, minha mãe, sorrindo para mim. Seus olhos refletiam a luz do sol, e eu sentia que nada poderia nos separar.
Mas então ele apareceu. O homem que destruiu tudo. Seu sorriso era um disfarce para a escuridão que habitava dentro dele. Ele não era humano; era um monstro. E naquele dia, no jardim, ele roubou a única pessoa que eu amava.
O sangue manchou as flores azuis. E eu fiquei ali, impotente, vendo minha mãe partir. Desde então, a tempestade nunca cessou. Os pesadelos me assombram, e a raiva me consome.
Agora, ele está de volta. "Estou louco pelo nosso encontro, Aelin. Te vejo em breve, amore mio." Suas palavras ecoam em minha mente, como um prenúncio sombrio. Não sei o que ele quer, mas sei que não posso fugir. Não desta vez.
A chuva continua lá fora, e eu me pergunto se o céu também está chorando. Talvez seja o luto que todos sentem, a tristeza que permeia cada gota d'água. Mas eu não choro. Não mais. Apenas espero, com os punhos cerrados e o coração em pedaços.
O destino é implacável. Ele nos reuniu novamente, como peças de um quebra-cabeça macabro. Verona é o cenário, e eu sou a protagonista relutante. Não sei o que acontecerá quando nos encontrarmos, mas uma coisa é certa: a tempestade está chegando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Falha da Máfia - A Obsessão: 1° Novos Herdeiros
Tajemnica / ThrillerBrendon, um homem atormentado por uma obsessão avassaladora, trilha um caminho perigoso. A paixão que sente por Aelin o consome, levando-o a sacrifícios inimagináveis. No entanto, toda felicidade tem seu preço, e a dele chegou ao fim quando ela part...