Monstrous Saga - Hualian

3 - Capítulo 6 - Ermos

Não muito tempo depois de chegarmos aqui, todos aqueles anos atrás, Jin Ling começou a coletar painéis solares, lanternas, luzes de fadas, qualquer coisa movida a energia solar que ele pudesse colocar em suas mãos. Isso foi quando ele saía para catar lixo com muito mais frequência, ansioso para puxar seu peso no campo, por assim dizer, e coletar o máximo que pudesse para o acampamento. O acampamento estava cheio de luzes de fadas solares e lanternas para nos iluminar quando escurecia. Havia lugares nos Ermos que ainda tinham energia, e nos primeiros anos em que estivemos aqui, tínhamos.

Mas, em algum momento, ou os militares o desligaram por despeito, ou algo aconteceu com as linhas de energia em nossa área. Tudo agora era administrado pelos militares, incluindo energia e água nas cidades costeiras e nas várias bases militares nos Ermos. Nós nunca tínhamos feito nada para irritar os militares, exceto por existir, mas eu tinha ouvido histórias de horror suficientes para saber que cortar nossos recursos era um gesto manso da parte deles.

A sala estava ficando escura quando o sol se pôs, e eu podia sentir meus olhos começando a se esforçar para ver as palavras na página. Minha voz estava ficando rouca e minha garganta estava seca, mas eu não tinha parado de ler. Porque toda vez que eu olhava para cima, Um estava um pouco mais relaxado. Ele lentamente se soltou daquela posição tensa e curvada, eventualmente escorregando para o chão para se recostar na lateral da cama. Minha voz gaguejou por um segundo quando olhei para cima, momentaneamente distraído por suas longas pernas. O ileso estava engatilhado, com um pé com garras perversas no chão, enquanto o com talas estava esticado com cuidado. Sua cabeça estava inclinada para trás contra a cama, olhos fechados, boca macia. Engoli em seco e rapidamente olhei para baixo, tentando encontrar meu lugar no texto.

Uma batida na porta me fez pular, e eu vi a cabeça de Um se erguer enquanto ele levantava as pernas, envolvendo os braços em volta dos joelhos. Nós dois olhamos para a porta sem nos mover.

_Sou eu! - Jin Ling chamou, soando abafado. Percebi o motivo um segundo depois, quando ele gritou novamente com a boca cheia de comida - Eu trouxe um jantar para você. - Dobrei o canto da página em que estava, pedindo desculpas mentalmente a Wen ning, e larguei o livro.

_Devo deixá-lo entrar? - perguntei enquanto me levantava.

Ele assentiu, mas parecia um pouco tenso novamente. Senti uma onda de irritação com Jin Ling por desfazer todo o progresso que fiz, deixando Um à vontade lendo aquele livro estúpido, mas se transformou em afeto quando abri a porta e ele sorriu para mim, sua máscara já pendurada em uma orelha, três tigelas de ensopado fumegante precariamente equilibradas em seus braços e o cabo de uma lâmpada solar enrolada em seu cotovelo. Peguei duas das tigelas imediatamente, embora Jin Ling fosse surpreendentemente gracioso e hábil com as mãos. Acho que essa era uma das razões pelas quais ele era tão bom em consertar coisas.

_Obrigado - eu disse agradecido, já com água na boca enquanto eu carregava as tigelas para a mesa. Era o guisado de kimchi de Daisy, meu favorito. Ela fazia seu kimchi da maneira tradicional, enterrando-o no chão em grandes vasos marrons no inverno.

Uma onda de nervosismo tomou conta de mim quando percebi que teria que tirar minha máscara na frente de Um para comer. Eu não tinha tirado minha máscara na frente de ninguém além de Jin Ling em...anos. Mesmo antes disso, Wen ning e Wen Qing eram as únicas outras pessoas que tinham visto meu rosto, desde que saí de Nova York. Eu nunca comia na lanchonete, sempre levando minhas refeições de volta para o meu quarto, mas um bom número de nós fazia isso, então ninguém achava estranho. Eu sempre mantive minha máscara até estar em segurança no meu quarto.

Era quase como... uma armadura para mim agora. O pensamento de Um vendo meu rosto inteiro, vendo a mim, era quase pateticamente assustador.

_Como você está se sentindo, amigo? - Jin Ling estava perguntando a Um enquanto ele andava até a mesa, servindo outra colherada de ensopado. Ele olhou para os livros sobre a mesa com interesse. - Você está lendo? Legal. - Limpei a garganta, sentindo-me estranhamente envergonhado.