Monstrous Saga - Hualian

4 - Capítulo 4 - Meu Melhor Amigo

Isso era perigoso. Ainda não estava totalmente escuro. Mary poderia facilmente olhar pela janela de seu trailer e me ver. Isso não me impediu de continuar meu caminho ao longo do muro do acampamento, abraçando-o furtivamente para permanecer fora de vista, antes de correr a curta distância até Shizui. Fazia duas semanas desde que eles chegaram, e eu ainda não tinha descoberto como iria libertá-lo. Como eu ia tirar aquela gaiola da cabeça dele.

Eu sabia que deveria ter esperado que escurecesse antes de vir aqui, mas eu queria tentar dar uma olhada em sua gaiola em uma luz melhor do que a que minha lanterna solar emitia. Eu queria ver se havia alguma fechadura ou mecanismo óbvio que eu pudesse usar para removê-lo. Mary o pegou de alguma forma, o que significava que eu certamente seria capaz de encontrar uma maneira de tirá-lo de volta. Eu sabia que Lilac estava vigiando a parede, mas eu não tinha dito explicitamente a ele que estava vindo aqui. Não importava. Eu já sabia que Shizui não iria me machucar, era Mary quem me preocupava. Eu só tinha que ter certeza que ela não me visse.

_Ei — eu sussurrei quando o alcancei — Não posso demorar. Eu só queria dar uma olhada na gaiola com uma luz melhor. Tudo bem por você? — Shizui não se mexeu, então gesticulei para a mochila pendurada no ombro e voltei a falar apressadamente. — Eu trouxe nosso caderno para que possamos conversar, e uma picareta se houver um cadeado na gaiola. — Dei-lhe um pequeno sorriso esperançoso, esperando que fosse visível em meus olhos. — Talvez possamos tirá-lo hoje.

Tentei acreditar nas palavras enquanto as dizia, mas mesmo daqui, enquanto varria meus olhos sobre a gaiola em sua cabeça, não conseguia ver nenhum tipo de fechadura que pudesse abrir. Enrijecendo meus ombros para impedi-los de cair com desesperança, eu acenei para a parte de trás do trailer. 

_Podemos ficar parados aí? A sua corrente vai chegar tão longe? Não quero que Mary me veja.

Ele assentiu rapidamente, claramente não querendo isso também. Juntos, demos a volta na parte de trás do trailer, fora da vista das janelas principais. Havia apenas uma janela estreita e alta que se estendia pela parte de trás do veículo, e a sala dentro parecia escura.

_Está bem.— Eu exalei uma respiração difícil e coloquei minha mochila. —  Vamos dar uma olhada. — Minhas bochechas ficaram quentes enquanto eu olhava para Shizui elevando-se acima de mim. —Você, hum... Você se importa de se ajoelhar para que eu possa dar uma olhada mais de perto?

Ele assentiu e se ajoelhou graciosamente, uma mão ainda segurando o cabo de seu martelo de guerra. Limpando minha garganta silenciosamente, me aproximei e tentei não olhar muito duro para seus ombros impossivelmente largos. De tão perto, pude ver que o cabeamento sob sua pele tinha uma leve textura, linhas delicadas que corriam dentro das cristas elevadas. Sua pele era manchada de cor, mas lisa e imaculada. Ignorei a urgência de arrancar minha luva e passar a ponta dos dedos sobre ela para ver como era.

Levantando relutantemente meus olhos para a gaiola, eu a encarei. A indignidade dele ter que carregar esse peso imenso em seus ombros literais fez o fogo queimar em minha barriga. A gaiola era de metal grosso e escuro. Quadrado em torno de sua mandíbula e mais arredondado no topo, como se seguisse levemente as curvas de seu crânio. Tinha barras de algum tipo, mas estavam tão apertadas que nem um centímetro de sua cabeça era visível, somente seus longos cabelos negros saiam de sua gaiola. Havia uma fenda estreita para ele ver, mas era inclinada e completamente escura por dentro. Eu me perguntei se isso impedia sua visão.

A gaiola envolvia toda a sua cabeça sem um milímetro de espaço sob sua mandíbula ou em volta do pescoço. Como se tivesse sido colado nele. Cortou em sua pele? Isso esfregou seu rosto em carne viva? Inspecionei cada centímetro dele enquanto Shizui se ajoelhava pacientemente. Meu estômago embrulhou quando coloquei uma mão em seu ombro para me equilibrar enquanto me inclinei e olhei para a parte de baixo, onde estava firme sob seu queixo e contra seu pescoço.