3 poemas de Florinda Especalo Balanga

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Florinda Especalo Balanga nascida em Luanda província e capital de Angola em 30 de Junho de 1998
Estou cursando Biologia, 4° ano. Digo que escrevo desde sempre porque comecei cedo, escrevia versos ou coisas que aconteciam ou via no dia a dia, só em 2014 é que comecei a escrever de forma organizada, procurando saber mais sobre as regras para se escrever uma poesia, até agora continue procurante técnicas de escrita criativa. O meu IG- fbdaljiescritoraaprendiz

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CACHOPO ACUADO
Discursos vazios
Desconfio das palavras
Pessimismo em mim foi lavrado
Conheço intimamente a infelicidade
Desde cedo, sei nadar nessas águas turbulentas

Não me acustomo com o impecto dessas bombas
É estranho, querem preservar a paz
Continuando com a produção de armamentos
Vivo sempre alerta, desenvolvi essa habilidade
Até com a sombra de pássaros me assusto

Não dá pra confiar em ninguém
Homens me perseguen sem ter feito nada
Eles também não sabem porquê que fazem isso
Estão somente cumprindo ordens de alguém
Que não mostra cara

Convivo com a mágoa, ódio e dor
Oiço as vezes falarem de amor
Mas isso não me diz nada
Imunizei-me contra esse sentimento
Porque dizem que causa enfraquecimento

Essa epidemia de divisão
Entre os perseguidores e os perseguidos
Uma parte quer viver em paz, mas a outra não
Obrigou-me a forjar personalidade de adulto
Mesmo sendo criança
Não tenho tempo pra brincar
Aqui é perigoso a distração

Vivo num país
Associado ao destroço
Tímido demais
Nele não vejo brilho
Sem esperança e sem sonhos
Para aqueles que nasceram aqui
Seu herói foi apagado da história
Vivo num país sedento de paz
E sem boas memórias

MOÇO DO MATO

Desde a sua miudeza
Aprendeu a cuidar bem da terra
Considera-se livre
Não tem vergonha de onde vive
Faz parte de um ciclo doce
Sente-se nele em plenitude
Uma pessoa de coragem
Na caça nunca erra a miragem
Fica feliz ao xaxar a lavra
Agradece quando acerta uma paca
Ou mesmo um veiado
Sempre compartilha com os outros
Diz que bocado-bocado chega pra todos
Sabe preparar as mubangas
Numa quivuza
Ou terra virgem
Planta nela
As belas mandioqueiras
No tempo de cacimbo
Ele aproveita morgar
Colocando água na pipa
Arranjando a tarimba
Conhece aquela lavra
Como a palma de sua mão
No bairro em que vive
Tratam-se todos como irmãos
Mesmo não sendo de sangue
Pelo menos são de coração
Arranca da terra com muita força
As deliciosas mandiocas
Sabe ver quando é amarga ou doce
A doce leva pra casa
Come com jinguba
Gabando-se que faz bem ao homem
Moço do mato
Altruísta e sagaz
Em coisas miúdas
Encontra a paz
Aproveita bem a vida
Não se faz autocobranças
Diz que o importante é ter saúde
Amor e esperança
Quem fica ao seu lado
Se sente acolhido
Gosta gozar do sessogo
Vive sem medo
Gosta de momentos
Que alegram seu coração
Como aqueles em que dança
Até sentir o som da sua respiração
Moço do mato
Ser de enorme admiração

PRIMEIRO BEIJO QUE VOCÊ ME DEU

Naquela manhã
achei teu sobrenome
nas minhas aspirações
mesmo distantes
estávamos envolvidos
simbioticamente
era questão de minutos
pra nos vermos intimamente embalados

E quando chegou a hora
senti meus lábios embebidos
pela sua boca
urgentes arrepios
visitaram todo meu ser
instalaste suas mãos sobre meus seios
vi meu corpo como trilho
percorrido pela primeira vez

Articulei teu nome em segredo
atestando que não só
estava a guardar-te na memória
mas também no meu coração
garantindo que levaria comigo
os vestígios daquele momento
em que me beijaste com carícias

Tornaste minha boca mais exigente
senti que estava renascendo naquele instante
afogamo-nos de apetite
chegando a abandonar a ideia
de que existe algo além de nós
algo além daquele cenário
deu-se o crepúsculo da minha ingenuidade

Mais Que Poesia: Uma coleção de poemas e textosOnde histórias criam vida. Descubra agora