Capítulo 3

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Caía a tarde quando Wei Ying estacionou a bicicleta eletríca ao lado de casa. Ele continuava a rir. Apesar de todos os problemas que Lan Zhan lhe trouxe, do quanto o aborreceu, tinha consigo os duzentos dólares. E ele, quisesse ou não, havia conseguido um peixe de catorze quilos.

Mas valeu a pena esperar só para ver a cara de espanto de Lan Zhan ao se deparar com um peixe enorme e vigoroso. Wei Ying acreditava que, se não estivesse ali do lado, Lan Zhan teria deixado o peixe escapar.

Wei Ying entrou em casa, deixando a porta destrancada. Automaticamente, ligou o rádio e os ventiladores. Em seguida, se dirigiu para o quarto e começou a se despir. De repente um pensamento lhe passou pele cabeça: não havia deixado as persianas abertas, antes de sair de casa? Estranho... Muito estranho...

Como toda pessoa acostumada a amarrar bem os barcos, estava certo de ter prendido bem a cordinha da persiana. Um arrepio lhe percorreu a espinha. Pelo jeito, Lan Zhan andava ocupando demais seu tempo e seu pensamento.

Um homem como ele costumava ter esse efeito sobre as pessoas, é verdade, mas Wei Ying há muito tempo passou do ponto em que qualquer homem pudesse impressioná-lo. Agora que Lan Zhan já havia conseguido o que pretendia, pois tinham conversado durante muito tempo, talvez o deixasse em paz.

Lembrou, um pouco contra a vontade, da maneira como ele lhe sorria. Seria bem melhor se voltasse para o lugar de onde veio e o deixasse em paz.

O rádio da sala anunciou algumas pancadas rápidas de chuva para as próximas horas. Pensando no que faria para jantar, Wei Ying caminhou até a janela, prendendo a cordinha no gancho apropriado.

Ao endireitar o corpo, sentiu um braço forte agarrá-lo pelo pescoço.

— Onde está? — Perguntou um homem, falando em espanhol.

Sem pensar, Wei Ying enterrou as unhas na mão que o sufocava, mas parou de lutar ao sentir uma faca encostada no pescoço.

— O que você quer? — O medo começou a tomar conta de Wei Ying. Possuía consigo menos de cinquenta dólares, e a única joia que tinha era um colar de pérolas deixado por sua avó. — Minha bolsa está na mesa; pode pegar o que quiser.

— Onde ele o escondeu? — O desconhecido puxou-lhe os cabelos para trás.

— Quem? Não sei do que está falando.

— Lan. Acabou o trato, moço. Se quer continuar vivo, é melhor me dizer onde ele colocou o dinheiro.

— Não sei. — A ponta da faca passou de leve por sua garganta, e ele sentiu um pouco de sangue escorrendo pela sua pele. O terror tomou conta de Wei Ying. — Não sei de dinheiro algum. Pode olhar, não tenho nada aqui!

— Já olhei. — O homem lhe apertou o pescoço com mais força, o deixando quase sem ar. — A morte de Lan foi bem rápida; você não terá a mesma sorte. Se não quer se machucar, diga onde está!

O homem parecia disposto a matá-lo. Ele ia morrer por uma coisa da qual nada sabia. Dinheiro... ele queria dinheiro; e ele só tinha cinquenta dólares.

"Yuan";  semiconsciente Wei Ying só conseguia pensar no filho. "Quem vai tomar conta dele? Eu não posso morrer... "

— Por favor... não sei de nada... não consigo respirar...

O estranho afrouxou um pouco o braço, e Wei Ying, aproveitando a distração dele, fingiu que começava a desmaiar, e no instante seguinte enterrou o cotovelo com toda força no desconhecido, saindo correndo, gritando por socorro.

A casa mais próxima ficava a uns cem metros de distância. Wei Ying pulou a pequena cerca que separava as propriedades, disparando à procura de ajuda. Ao mesmo tempo pôde ouvir o barulho de um carro que se afastava em alta velocidade.

Passageiro do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora