Capítulo 5

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Apesar de acostumado ao trabalho, ao voltar para casa Wei Ying se sentia exausto. Durante todo o caminho, um carro da polícia o seguiu discretamente. Nem o fato de um jovem policial ter se infiltrado junto aos turistas e de Mingjue estar mantendo a palavra, o protegendo o tempo todo, não o deixava tranquilo.

A vontade de Wei Ying era de cair num sono profundo e sem sonhos. Mas Lan Zhan estava ali, telefonando para o escritório, com alguns papéis no colo e uma expressão nada animadora no rosto. Ignorando a presença dele, Wei Ying foi tomar banho e se trocar.

Como seu guarda-roupa se resumia praticamente a poucas peças de praia, não perdeu tempo pensando no que vestir. Puxou do armário uma calça comprida preta de algodão, colocando com uma camisa vermelha. Mais para prolongar o tempo que permaneceria sozinho do que por necessidade, remexeu a caixa de maquiagem. Penteava os cabelos quando Lan Zhan bateu na porta, entrando sem esperar por uma resposta.

— Conseguiu a lista?

— Eu disse que conseguiria — ele respondeu, apanhando o pedaço de papel retirado de um bloco de anotações.

Lan Zhan estudou o papel. Estava barbeado e vestia um blazer de muito bom gosto, com calças creme bem esportivas. Mas a suavidade e a elegância da roupa não combinavam com a frieza nos olhos dourados.

— Conhece esses lugares?

— Alguns, sim. Não tenho muito tempo para frequentar barzinhos ou clubes.

Ele levantou os olhos e a resposta que ia dar se perdeu no ar. A luz que entrava peles janelas era levemente rosa devido ao pôr-do-sol. Os cabelos de Wei Ying estavam penteados para trás, a pouca maquiagem realçava os cílios negros e os olhos escuros. Havia passado um pouco de blush nas maçãs do rosto, mas não usava batom.

— Você deve prestar atenção no que faz com seus olhos — murmurou, passando o polegar peles curvas do rosto de Wei Ying. — Eles são um problema...

Wei Ying sentiu uma pontada rápida e involuntária no estômago, mas permaneceu impassível.

— Problema?

— Meu problema. — Lan Zhan guardou o papel no bolso, passando os olhos pelo local. — Está pronto?

— Falta colocar os sapatos.

Ao invés de sair, como Wei Ying esperava, Lan Zhan começou a circular pelo quarto mobiliado de maneira simples. O perfume que ele havia sentido ao chegar provinha de um ramalhete de flores colocado num grande vaso verde. Na parede, Wei Ying pendurara duas pinturas: a primeira retratava um pôr-do-sol, e a segunda, uma praia sacudida por uma tempestade. Lan Zhan imaginou quanto de cada uma havia dentro de Wei Ying.

Próxima à cama, sobre um mesinha, havia a foto de um garoto sorridente. Os cabelos negros e brilhantes davam um charme especial ao rosto bronzeado e, se não fosse pelos olhos, Lan Zhan nunca teria relacionado a criança com Wei Ying. Eles eram profundamente castanhos levemente amendoados, grandes e confiantes.

— É seu filho?

— Sim. — Wei Ying calçou os sapatos e arrancou a foto das mãos de Lan Zhan, colocando de volta no lugar.

— Quantos anos ele tem?

— Dez. Vamos embora? Não quero voltar tarde.

— Dez? — Surpreso, Lan Zhan o encarou sem sair do lugar. Estava certo de que Yuan teria no máximo cinco anos e fosse fruto de um namoro de Wei Ying já em Cozumel. — Você não pode ter um filho de dez anos.

— Mas acontece que tenho — ele confirmou, olhando para a foto do menino.

— Você devia ser uma criança quando engravidou.

Passageiro do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora