Capítulo 6

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— Não se esqueçam de prestar atenção ao nível de ar. — Wei Ying instruía os turistas, mostrando onde deveriam chegar. — Cada uma destas válvulas é vital à sua segurança, quer este seja seu primeiro ou quinquagésimo mergulho. É comum as pessoas ficarem tão fascinadas com os peixes, os corais, até com a sensação de mergulhar, que se esquecem de que dependem do ar do tanque.

Há uma hora que ele dava instruções aos iniciantes. Já era hora de lhes deixar provar o gosto da água.

— Mergulharemos em grupo. Caso um de vocês queira explorar algum coral mais afastado; lembrem-se de nadar em pares. Mais um detalhe: chequem o marcador de ar da pessoa que estiver perto de vocês.

Wei Ying amarrou o cinto com pesos à cintura, observando os alunos fazerem o mesmo. A maioria encarava o mergulho autônomo como uma aventura, o que era ótimo, desde que obedecessem as normas de segurança.

— Este grupo é muito inexperiente — Luís comentou.

— Nem diga — concordou Wei Ying. — Mantenha os olhos no casal em lua-de-mel. Estão mais interessados um no outro do que nas normas de segurança.

— Pode deixar. — Ele o ajudou a prender o cilindro de oxigênio. — Você parece cansado, menino.

— Não, eu estou bem.

Quando ele se voltou, Luís olhou fixamente para as marcas no pescoço. A história já havia se espalhado.

— Tem certeza, Wei Ying? Não me parece tão bem assim. Você sabe o que quero dizer. Fiquei preocupado.

— Não é necessário, Luís — declarou, colocando a máscara e voltando os olhos para um homem de meia-idade que lutava para enfiar os pés-de-pato; seria seu guarda-costas hoje. — A polícia tem tudo sob controle. — Só não estava certa em relação ao controle de Lan Zhan.

Não ficou chocado com a reação dele à noite passada; já havia notado a violência latente que se escondia nele quando o assunto era Lan Huan. Porém, vê-lo agarrando o braço de Erika e falando daquele jeito o fez sentir um frio no estômago. Não o conhecia o suficiente para saber quando manteria a violência sob controle e quando a soltaria livremente. O sentimento de vingança não é nada agradável, e, entretanto, era o que ele queria.

O balanço do barco o trouxe de volta ao presente. Não podia ficar pensando em Lan Zhan. Tinha um mergulho para dirigir.

— Sr. Wei Ying — um americano ainda jovem se dirigiu a ele. — Estou um pouco nervoso. Será que se importa se eu ficar a seu lado?

— É para isso que estou aqui. E ficar nervoso até que é um bom sinal. Significa que será mais cuidadoso. Agora, coloquem as máscaras e se certifiquem de que estão confortáveis, não as deixem frouxas. A profundidade aqui é de dez metros; lembrem-se de se ajustarem à pressão durante a descida. Por favor, não se afastem demais do grupo.

Com incrível habilidade, Wei Ying pulou para a água. Luís permaneceu no barco e, juntos, esperaram até que todos os alunos houvessem entrado na água. Dando, então, um ajuste à máscara, Wei Ying também afundou.

Ele adorava o mar, a sensação de liberdade e invulnerabilidade que a água lhe dava. Aguardou um momento, apreciando a vista de perto da superfície, depois afundou para junto dos turistas.

Os recém-casados estavam de mãos dadas, se divertindo muito. Wei Ying se lembrou de manter os olhos sobre eles. O policial, por sua vez, mantinha os olhos em Wei Ying. O restante formava um grupo compacto, fascinado, porém, cauteloso. Os peixes passavam sem parar; alguns em grupos, outros sozinhos. A areia branca e as águas claras ficavam coloridas pelos animais, plantas e corais de todo tipo. As gorgônias, conhecidas por orelhas-de-elefante, balançavam de um lado para o outro como rendas cor-de-rosa. Wei Ying fez um sinal para o rapaz a seu lado, lhe indicando um cardume colorido por entre os corais.

Passageiro do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora