027| sem terceira opção

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DÉBORA

— Amiga, eu acho que você deveria conversar com ele.

Como de costume eu tava na casa da Luiza, só que dessa vez não ia pra baile nem nada. Só passei aqui pra pegar uma blusa minha, pra aproveitar que eu tava de folga.

— Parça, mas eu não sei como fazer isso não. — Me esparramei na cama dela.

— Chama ele lá pra tua casa, sei lá, pede pra ir na dele.

— Aí eu falo o que?

— O que você sente. Já deu já de você ficar nessa patifaria. — Ela disse num tom mais firme.

— Fala como se fosse fácil. — Suspirei.

Tem três semanas que eu e o Thiago não nos falamos. E eu vou admitir que eu sinto muita falta.

  Quando a gente transou e no dia seguinte ele veio com aqueles papos, eu não botei muita fé. Achei dramático até, mas com o passar desses dias, percebi que ele realmente se magoou. E é foda quando você percebe que errou um pouco tarde. É mais foda ainda saber que eu vou ter que ir até ele me desculpar.

  Eu não quero mentir que eu quero seguir ficando com ele, sou apaixonada nesse moleque a anos. E eu sei que errei em maquiar esse sentimento com uma falsa frieza. Mas pra mim também não é uma opção ser completamente transparente.

— Você tem que entender que é tudo ou nada. O Thiago não vai tá pra sempre esperando você.

— E se eu só mandar uma mensagem?

Pra mim parecia mais fácil por mensagem.

— Se você quiser manda, mas vai ter que enfrentar de uma hora ou outra ele pessoalmente.

Nisso ela tinha razão.

Fiquei por longos segundos encarando a tela preta do meu celular pensando se era a melhor opção. Mas as palavras da Luiza ecoavam na minha cabeça.

"O Thiago não vai tá pra sempre esperando você."

Bufei pegando logo o celular.

me
oi thiago, tudo bem?

— Chamei ele. — Avisei ainda encarando a mensagem.

— Essa é a Débora que eu conheço!

Fiquei ali conversando com ela sobre outras coisas, e mesmo tentando me distrair sempre olhava o whatsapp pra ver se ele tinha ao menos visualizado. E não tinha.

[...]

Já tava em casa repensando muito de apagar a mensagem. E eu realmente fui nessa intenção, mas estava com o "digitando" embaixo do apelido dele.

Gelei.

Thi ❤️
oi, débora. tô bem e você?

Sentia meu estômago congelar de tanto nervosismo.

me
tô bem tbm

me
tá ocupado?

Thi ❤️
não, pq?

me
pq eu quero falar com você

Thi ❤️
fala

me
eu reconheço que eu sou chucra demais contigo. e eu vacilo muitas vezes nesse sentido

me
mas é uma marra falsa, na real n é como eu quero agir. mas pra me proteger eu ajo dessa forma, acabo te machucando.

me
desculpa, você é maravilhoso pra mim e eu nunca demonstro o quanto isso é importante pra mim

Thi ❤️
tá, mas se proteger do que?

me
dos meus sentimentos, thiago

Thi ❤️
Débora eu não tô entendendo nada, c pode ser mais clara pfv?

me
eu sinto alguma coisa por você thiago.

Thi ❤️
você? sentindo alguma coisa por mim? c n tá misturando as coisas??

me
thiago essa porra n é de hj. n foi depois que eu comecei ficar com você que eu comecei sentir

me
são anos tentando fazer isso desaparecer, buscando jeitos de mentir pra mim mesma. e eu odeio a ideia disso parecer tão dramático

Thi ❤️
tá de folga?

me
sim

Thi ❤️
tô indo te ai quero entender essa parada direito

me
minha mãe já tá chegando n da

Thi ❤️
se arruma então

— Merda. — Murmurei.

Eu não sei se eu tava pronta pra falar pessoalmente.

Me fodi bonito. Era melhor ter dito quando eu estivesse no trabalho. Mas é isso, não dá mais pra fugir.

[...]

Não deu trinta minutos que já chegou mensagem dele pedindo pra eu descer.

Demorei uns cinco minutos dando a desculpa que eu tava me trocando, mas eu tava com o cu na mão, sem ter ideia nenhuma de como agir ou o que falar. Até tentei decorar alguma coisa na hora, mas me conhecendo não vai valer
de nada.

  Com toda coragem que eu não tinha, desci. Assim que eu parei na frente do portão, vi o Thiago pensativo do lado da moto dele. Era muito estranho ver ele assim.

— Oi. — Disse parando na frente.

Thiago levantou os olhos em mim e deu um sorriso de lado.

— Oi.

— Pra onde vamos? — Perguntei totalmente desconfortável, mas agora não tinha mais como fugir.

— Pra minha casa. — Ele disse tão sério que eu fiquei meio pá de responder que não queria, mas eu não sei outro lugar pra irmos ter essa conversa. Minha mãe chega já já em casa.

  Então subi na moto e peguei o capacete que ele me esticou. Esperei ele colocar o dele pra então arrancar na direção da avenida.

  Que bom que pelo o menos eu vou ter o tempo do caminho pra pensar no que dizer melhor, porque não é nenhum pouco fácil a ideia de me declarar pro meu melhor amigo. Isso acabaria muito com tudo, ou mudaria completamente as coisas, sem terceira opção.

MANDRAKA - VeighOnde histórias criam vida. Descubra agora