018| pedaços

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DÉBORA

   Ficar ali conversando com a Tasha me fez ignorar o incomodo de estar na presença dele. As vezes meus olhos pecaram em olhar muito e pensar que ele tava lindo, mas logo eu me corrigia. Tirando isso a noite foi tranquila ali, eu tava na minha terceira dose da noite. O foco tava mais no narguilé do que beber mesmo.

[...]

  Eu tava real curtindo estar ali, mas assim que a Tasha precisou ir falar algum bagulho com o Kyan eu fiquei na pior brisa.

  Por ser um lounge e não um baile, não tocava só funk, tocava uns pagodes também. E eu detesto ouvir pagode quando eu tô bebendo porque eu presto atenção de mais na letra e acabo como eu estou agora; olhando pra algum canto aleatório pensativa sobre a sensação que aquela música me deixava.

  Eu tava meio altinha, isso ajudou "pedaços" na voz do Péricles me fazer pensar nele. Que covardia!

Um pedaço de emoção
Fez a gente querer mais
Do amor à sedução

  Foi inevitável não olhar na direção dele. Thiago também tava sozinho, porém de costas pra mim.

Pelas condições normais
Vem chegando a ilusão
Um pedaço de sofrer

  Eu tava odiando muito o quanto aquela música fazia sentido pra mim. Odiava ainda mais sentir que só eu tava com aquele vazio.

  Retornamos à razão
Um pedaço que morreu
Quando a gente deu a mão
E nunca se mereceu
Quem sou eu? Quem é você?
Dois pedaços sem valor
A saudade da união
Que não vingou

  Realmente Péricles, a gente tá aqui na nossa razão depois de eu matar o pedaço que ainda tinha restado pra gente. Mas quem me julgaria? Eu não tenho ideia de quem é ele, e muito menos quem é essa Débora que veio junto dele.

Tudo que a gente quis
Foi vontade que ficou pra trás
O destino é quem me diz
Dois pedaços não se juntam mais

  A parte do refrão me fez torcer o rosto pra não chora. Eu tava bem bêbada pra tá com essas frescuras já.

  Mas caralho, quem é o DJ dessa merda pra eu sentar o cacete? Não precisava ter colocado Péricles no meio do rolê.

— Chega de beber! — Falei sozinha colocando meu copo em cima da mesinha que tinha ali.

  Quando eu voltei o olhar pra onde ele tava, vi o Thiago dessa vez de frente. Ou melhor ainda, me encarando.

  Eu até desviaria, mais o álcool no meu corpo me fez tornar aquilo um tipo de desafio. Mas meu arrependimento veio logo quando ele cantava a música também sem desviar os olhos de mim.

  Não sei se era a dose, mas eu tenho a sensação que ele também sentiu aquela música. Isso me fez perder o ar, mas não a disputa de olhar.

  Quando eu menos percebi eu também estava cantando com ele, e isso provavelmente foi o que encorajou ele a levantar naquele banco e cruzar a tabacaria inteira pra sentar do meu lado.

  Se o álcool não tivesse no meu organismo agora, certamente eu estaria com uma cara bem fechada pra ele.

— Oi. — Ele disse com a voz rouca.

— Oi. — Foi a minha vez de dizer quase inaudível.

  Nos encaramos por quase um minuto inteiro, até ele sentar mais perto de mim. Perto até de mais.

— Eu não aguento ficar sem você, Débora. — Ele disse sério terminando de me amolecer ali.

— Para, Thiago. Não começa. — Resisti desviando o olhar do dele.

  Mas o garoto não deixou que eu me protegesse, então segurou o meu rosto com as duas mãos me forçando olhar nos olhos dele.

— Diz pra mim que você me quer longe de você, mano?! — Me desafiou

  E ficar assim tão próxima, com essas mãos no meu rosto me fazia me perder nos meus pensamentos. E eu me perdi tanto que acabei olhando pra boca avermelhada dele.

— Eu quero, Thiago. — Menti fazendo ele rir fraco.

— Você mente mal. — Agora foi a vez dele de encarar a minha boca. Meu corpo esquentou em reação.

— Não é justo. — Murmurei.

— O que não é justo, Débora? — Subiu os olhos pros meus.

— Foda-se!

  Foi a única coisa que eu consegui dizer antes de beijar ele logo. Eu não tava aguentando mais, e provavelmente eu me odeie por isso, mas foi incontrolável.

  Thiago fincou os dedos nos meus cabelos na nuca, me prendendo no beijo, com a outra mão ainda segurava meu rosto de uma forma delicada.

  Se o primeiro beijo eu disse que foi bom, esse com certeza foi ainda melhor.

  Do nada minha mente me castigou me fazendo perceber que era errado estar ali de novo, cometendo o mesmo erro. Então eu encerrei o beijo e me mantive ainda perto do rosto dele.

— Thiago, isso não tá...

  Ele não me deixou terminar de completar a frase e me puxou pra outro beijo, esse mais delicado. Mais uma vez eu deixei meu corpo assumir o controle.

  Que se foda, amanhã eu não vou ter que lidar com a culpa se fingir que isso não aconteceu.

  Ficamos naquele beijo por um bom tempo, até eu decidir encerrar com alguns selinhos.

— Mano, isso foi...

— Um erro! — Completei voltando pra onde eu tava.

  Peguei minha dose e dei um gole grande. Eu precisava mais do que nunca ficar muito bêbada.

— Foi muito bom. — Ele disse me contrariando. Neguei com a cabeça rindo fraco.

— Não pense que isso muda algo entre a gente. Continua cada um na sua. — Falei dando mais um gole grande.

— Para com isso, Débora. Você não quer ficar longe de mim tanto quanto eu não quero ficar longe de você. — Ele disse firme.

  Ele tinha razão, eu realmente não queria que fosse embora. Mas eu não aguento mais ter que lidar com esse sentimento chato do caralho.

— Tá, aí amanhã você vai tá lá me chamando de irmãzinha pra cima e pra baixo como se a gente tivesse voltado há quatro anos atrás. — Desabafei.

— Mano, olha pra mim pelo o menos?

  Encarei ele, não totalmente, mas encarei.

— Como que pra você seria o certo?

MANDRAKA - VeighOnde histórias criam vida. Descubra agora