IV - O senhor jamais poderá me mudar

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— Como o senhor nos encontrou?— Ela perguntou assustada ao ver o pai, cujos olhos estavam repletos de ódio.

— Segui o seu estúpido irmão, e agora tenho a decepção de perceber que ele é cumplice em toda essa pouca vergonha. — Ele colocou a mão no revólver que tinha na cintura.

— Henrique, fuja.— Ela falou, se colocando na frente do namorado. 

— Vai fugir agora, garoto? — O pai de Milena ironizou — Mas para tirar a inocência de minha filha, você não hesitou. 

— Eu estaria disposto a desposar sua filha, mas infelizmente sua ganância não nos deu essa oportunidade. 

— Vejo que esse maldito filho de delinquentes conhece muito de nossa família. Por acaso se aproximou de minha filha para nos espionar? 

— Eu jamais usaria a Lena para alimentar a rivalidade doentia entre nossas famílias, senhor. 

— Percebo que sua língua é afiada como a de seu pai, moleque abusado. Vejamos por quanto tempo continuará com tamanha coragem. 

— Henrique eu estou implorando que saia daqui. — O pai da garota continuou sacando o revólver — Por favor! 

O jovem levantou de supetão e, ao passar pela porta traseira da estufa, sentiu um disparo passar de raspão por seu braço. Não se preocupou com as poucas roupas que trazia em seu corpo ao correr, desesperadamente, pelo campo. 

— E o senhor não ouse ir atrás dele, caso contrário jamais voltará a ter notícias sobre mim. — Lena enfrentou o pai.

— Eu não preciso perseguir esse imprestável hoje para fazê-lo pagar por sua desonra. Você se casará com Pedro em alguns dias, e depois espero realmente não voltar a ter notícias suas. 

— Tão pouco valho para o senhor? 

— Pelo contrário. — Ele a fitou e segurou seu queixo para que se olhassem —Você é minha joia mais preciosa e a razão pela qual sou tudo o que um dia sonhei em ser. 

— Sua moeda de troca. 

— Pura semântica. Agora vista-se, porque temos que conversar sobre essa cena deplorável que eu e meus empregados presenciamos e, é claro, sobre o que faremos para que tamanha baixeza não volte a acontecer até o casamento. 

— Eu sei como é a sua conversa, — Ela começou a se vestir — e quero que saiba que sou uma mulher capaz de arcar com as consequências de meus atos. 

— Me alegra que saiba que pode arcar. — Ele reparou na pequena mancha de sangue no lençol — Mas é claro que você sabe que, perder a virgindade com um infeliz qualquer, não te faz mulher. 

— É claro que sei, porque uma mulher se faz criando caráter, tendo coragem pra assumir o que se faz e para lutar por aquilo que se acredita. É isso que farei. 

— Esteja certa de que cuidarei para que isso ocorra. 

— Ele a puxou pelo braço, ainda vestida apenas com a roupa íntima, e a arrastou para casa. 

... 

— Papai! — Raquel gritou, ao ver sua irmã chegar carregada à casa — O que está acontecendo? Onde estão as roupas de minha irmã?

— Eu fico feliz em saber que, ao menos você, seguiu bem os caminhos da decência que te ensinei. Já sua irmã... —Ele olhou com desprezo para Lena — Ela usava menos vestes quando a encontrei. 

— Lena... — Raquel se preocupou — Por que fez isso? 

— Eu não sou como você. Eu acredito no amor, e acredito que casamentos arranjados não são capazes de levar alegria a ninguém. 

O Destino de LenaOnde histórias criam vida. Descubra agora