XI - Estavam ali, frente-a-frente, na cidade onde sua história de amor começara

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— Rodrigo foi muito gentil em nos convidar para passar alguns dias na casa dele. — Lena terminava de passar os cremes em seu rosto, enquanto Pedro a ouvia, reflexivo e sentado sobre a cama — Sei que, com os problemas conjugais que tem, seria compreensível que nos recusasse.

— Seu irmão é um homem muito gentil. — Ele continuava distante.

— O que houve?

— Estou pensando em quão feliz você está com seu irmão, e me culpando por não tê-la trazido antes à cidade.

— Você fez o que era correto. Aconteceu um massacre em nosso casamento e não era seguro voltar. Eu mesma não queria voltar para cá e rever essa cidade, essas pessoas, o meu pai.

— Seu irmão te necessitava, ele também perdeu uma irmã.

— Rodrigo foi um homem forte, e estou segura de que compreendeu nossos motivos para só retornarmos após a morte de meu pai. — Ela puxou o cobertor e se deitou ao lado do marido.

— Eu sequer estou seguro de meus motivos para não trazê-la.

— O que quer dizer?

— Estamos de volta ao lugar onde nos conhecemos. Mas essa cidade não é apenas isso. Aqui você tinha um presente e planejava um futuro com outro homem, mas eu a roubei dele antes que seus planos se tornassem reais.

— Tem medo de que eu me reencontre com Henrique?

— Eu o investiguei e descobri que ele agora é um rico empresário que, certamente, estará presente na posse de seu irmão.

— Estaremos os três.

— Era isso que eu precisava contar a você. Milena, eu terei que voltar para casa amanhã bem cedo e tenho medo de não conseguir retornar a tempo da cerimônia. Mas você ficará aqui, pois não é justo que perca esse momento, e esse pensamento tem me assombrado desde que saímos da nossa casa.

— Pedro eu... Eu não sei o que dizer.

— E eu não a culpo por isso. Você foi roubada do homem que amava e sua história não teve um ponto final ou um adeus.

— Sim, ela teve. — E ela se lembrava com exatidão daquela despedida sangrenta e dolorosa — O que eu não sei é como explicar para você que nosso casamento e tudo o que construímos juntos nesses últimos anos estará a salvo, ainda que Henrique e eu nos reencontremos. O nosso casamento não foi planejado ou organizado e sim eu tinha um futuro em mente com outro homem, mas esse futuro foi reescrito no momento em que eu fui embora daqui. O Henrique e todo o amor que senti por ele foram parte de um passado lindo e de quem eu sou, mas você é o meu presente e é ao seu lado que desejo construir meu futuro.

— Você não precisa me dizer coisas bonitas para que eu vá em paz.

— Eu não lhe digo isso apenas para que vá em paz. O Henrique representa a nostalgia do que eu vivi quando o mundo me parecia um lugar bonito, mas você é minha âncora. Você é o porto seguro que eu encontrei no meio de todo o caos e é ao seu lado que eu venço cada provação que a vida coloca em meu caminho. Você é o homem ao lado do qual eu me desperto todas as manhãs e o único pelo qual desejo ser tocada todas as noites. — Lena se aproximou e os dois se entreolharam antes que ela se impulsionasse e ficasse de joelhos, apoiada sobre as coxas do marido — Eu não preciso de mais pontos finais na minha história com o Henrique, mas preciso de reticências ao seu lado... Reticências de um amor verdadeiro que ainda nos fará imensamente felizes por muitos anos.

— Eu não sou merecedor de uma mulher tão boa quanto você. —Ele apenas conseguia fitá-la, sem se aproximar.

— Nós somos merecedores do nosso amor, porque o construímos juntos.

O Destino de LenaOnde histórias criam vida. Descubra agora