XXII - Eu deixei aquela cidade carregando, em meu ventre, uma parte de você

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Exatos 3 meses se passaram e a primavera já encobria por completo os rastros frios deixados pelo inverno... Ao menos na paisagem.

Lilian foi liberada do hospital sem sequer perceber que Vicente estava se passando por Rodrigo e isso trazia alívio ao homem, que viu sua mentira se tornar cada vez mais real quando Rogério os realocou em uma pequena cidade próxima à capital. Ele ainda não sabia sob quais ordens estaria ou qual cargo ocuparia, mas era reconfortante saber que, ao menos, estaria em paz e segurança para reconstruir a vida de Lilian e da pequena Olivia.

Quanto a Rogério, este se esforçava dia e noite para descobrir o novo paradeiro de Henrique. Ainda não conseguia aceitar que a invasão de seus homens ao esconderijo da organização acontecera quando ninguém mais estava lá. Mas o cheiro forte de rosas que sentira em um dos quartos lhe era peculiar e ele estava ainda mais determinado investigar a possível sobrevivência de Lena ao ataque de aniversário.

Quem também pensava dia e noite em Lena era Pedro. Desolado ao receber, através de Virgínia, a notícia da trágica morte da esposa, ele se afundou completa e novamente no álcool, tal como fizera quando se culpara pela morte do filho que ela esperava tantos anos antes. Já não havia razões para lutar e ele se perguntava, dia após dia, a razão para ainda estar vivo. Ainda que Virgínia o sufocasse com carinho e atenção, ele sentia que não era o que desejava, mas não tinha o valor suficiente para impedi-la de agir daquele modo.

André também se esforçava para consolar o pai naquele momento difícil e já começava, pouco a pouco, a se sentir parte da poderosa família Montenegro. Rogério também percebera o potencial do garoto, reparando as semelhanças com sua própria personalidade e começara, disfarçadamente, a se aproximar, de modo a moldar sua personalidade para que, talvez um dia, fosse capaz de sucedê-lo de uma maneira mais eficiente que Pedro.

Lena e Henrique haviam se mudado juntos para um pequeno sítio em outro estado e souberam, graças ao eficiente sistema de comunicações rapidamente preparado pela organização, que o ataque de Rogério à antiga sede, aparentemente, não deixara vítimas. Quanto à convivência, ia cada dia melhor, ainda que Lena se esforçasse, diariamente, para não desrespeitar a memória do marido.

E ali estavam eles, naquele início de primavera, separados por quilômetros, mas unidos por um sentimento em comum: a dor da perda. A conexão entre Lena e Pedro continuara tão forte, que os dois decidiram visitar, no início da manhã daquele dia, os túmulos falsos que lhes pertenciam.

- Finalmente nós nos reencontramos, meu amor. - Pedro, ajoelhado em frente ao túmulo da família Castelo, tentava se manter forte e discreto.

Os restos mortais de Lena jamais haviam sido encontrados - Afinal como alguém conseguiria encontrar os restos mortais de alguém que jamais morrera? -, então Pedro decidiu, por conta própria, mandar entalhar também o nome da esposa na lápide onde também estavam gravados os nomes de todos aqueles que ela um dia amara. Faltava apenas ele para completar aquela lista mas, a essa altura, sequer sabia se era ou não digno do amor que recebera daquela linda mulher por tantos anos. Ainda sentia o calor daqueles lábios que um dia foram seus, mas doía no fundo de seu coração pensar que jamais voltaria a sentir.

Ele não conseguira salvá-la e seu castigo por tamanho descuido foi a árdua tarefa que teria adiante: sobreviver, afinal isso era o único que ele poderia fazer sem o amor de sua vida.

Em outra cidade, Lena também encarava um túmulo vazio, mas o fazia apenas de longe. Sabia muito bem quão astuto era seu sogro e, por nenhum motivo, Henrique permitiria que ela se expusesse a ponto de ser capturada. Era difícil não poder senti-lo perto sequer sob a terra, mas ela tinha a esperança de que tempos melhores viriam, ainda que a longo prazo. Henrique se esforçara para ser o melhor homem que pôde para ela e Lena reconhecia tamanho esforço, ainda que não fosse o bastante para aliviar o vazio que sentia todas as vezes em que virava na cama durante a noite e se dava conta que estava só.

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⏰ Última atualização: Jun 18 ⏰

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