O Destino de Lena

XV - O inverno desse ano chegará mais quente que o normal

— Pensei que ao menos o prefeito tivesse o privilégio de sair mais cedo do trabalho às sextas. — Lena aguardou, sentada na sela de estar, até que o irmão cruzasse a soleira, já tarde da noite.

— Você precisa de algo?

— Sim, de meu irmão mais velho. — Ela se dirigiu a ele e o abraçou — Eu quase não o vejo desde que  assumiu a prefeitura.

— Grandes poderes sempre estão acompanhados de grandes sacrifícios e responsabilidades, infelizmente. Mas tenho uma ótima ideia para você: venha trabalhar comigo na prefeitura. Sei que teria ótimas ideias para as mulheres da cidade e me ajudaria bastante a incluí-las em meus planos.

— Creio que outra mulher poderia ajudá-lo com isso. 

— Lilian não quer me ver até que possamos resolver nossos problemas matrimoniais.

— Me perdoe irmão, mas eu dou toda a razão a ela. Vocês são casados, se amam... É completamente natural que tenham momentos de intimidade.

— Eu não acho apropriado ter conversas assim com minha irmã menor, então pararemos por aqui. Mas tenha a certeza de que eu escutei seus conselhos e já estou me organizando para procurar um doutor. Infelizmente não é tão simples por...

— Porque a prefeitura exige muito de você. Eu sei disso, e me alegra saber que você é um homem tão responsável, mas também quero vê-lo feliz ao lado de sua família, afinal um de nós merece essa alegria.

— Você tem razão e eu prometo que farei o que estiver ao meu alcance para ver minha família feliz. Agora com licença, estou exausto e preciso trocar essa roupa com urgência.

— Fique a vontade. — Eles se abraçaram e ele foi em direção aos quartos.

...

Mais 2 semanas se passaram e, ao fim desse tempo, tanto Rodrigo quanto Henrique haviam recebido suas respectivas cartas, que alertavam de forma diferente o que estava por vir. Enquanto o empresário organizava um contra-ataque, com o objetivo de neutralizar possíveis exageros por parte de Rogério, o prefeito recorrera ao delegado, buscando compreender exatamente qual era a ameaça. Os cunhados percebiam com apreensão o fim cada vez mais iminente do outono, ainda mais sabendo que a carta enfatizava a frase "o inverno desse ano chegará mais quente que o normal".

 Em meio ao caos, que Lena sequer tinha sido informada, ela conseguia ter a paz que precisava para organizar seus pensamentos, ainda que a dúvida continuasse latente em sua cabeça. Quem também era impactada — negativamente — pela ameaça era Lilian, que se fechava cada vez mais na solidão que sentia.

— Por que você pediu que eu subisse? —  Vicente abriu a porta do quarto de Lilian e se assustou ao vê-la em roupas íntimas —  Me perdoe, eu já fechei os olhos e esperarei lá fora.

—  Não se preocupe, meu marido sequer se incomodará que o melhor amigo tenha visto a esposa dele em trajes íntimos mais vezes que ele ao longo desse ano.

— Não cabe a mim comentar sobre o assunto, então continuarei de olhos fechados.

—  Como preferir, afinal eu não desperto interesse em ninguém.

— Jamais repita isso. Você é uma mulher incrível e maravilhosa, por dentro e por fora.

— Meu marido discorda.

 — Estou seguro de que não é assim mas, se fosse, ele seria um completo tonto.

— Talvez a maternidade tenha me tornado menos atraente e você não perceba isso porque nunca me viu como mulher.

— Isso não é verdade.

— O quê? — Ela corou ao ouvir o sussurro do amigo.

— Eu estou brincando, só queria vê-la sorrir.