- Você poderia, por favor, me dar licença? - Ela sequer era capaz de olhar para o papel à sua frente - Eu gostaria de ficar sozinha para digerir essa informação.
- Eu não posso deixá-la sozinha após receber essa confirmação.
- Nesse momento a sua companhia é o que eu menos desejo. Por favor, saia daqui e não volte até que eu diga, pois sou capaz de matá-lo.
- Que culpa eu tenho dessa tragédia?
- Você sabe muito bem que é tão culpado quanto o maldito Rogério.
- Não havia nada a ser feito.
- Poderia denunciar às autoridades o que pretendiam fazer.
- As autoridades foram avisadas e o seu marido está morto por culpa desse aviso. Lena, entenda de uma vez o que eu lhe digo: o mundo é um lugar essencialmente ruim e nenhum de nós é forte o bastante para mudá-lo.
- Eu não pretendo mudar o mundo por completo, mas dou o melhor de mim todos os dias. E o que você faz? Se une ao seu clã de brutamontes para ajudar o mal a prosperar.
- Essa é a herança maldita que eu recebi de meu pai. Eu não posso deixar de ser quem eu sou, porque ninguém poderia me ver diferente. Mas esteja segura de uma coisa: depois do que aconteceu no dia de seu aniversário, eu prometo usar a minha influência sobre esse clã para tornar o mundo um lugar um pouco menos sombrio.
- O que quer dizer com isso?
- Eu quero dizer que já sei exatamente de que forma retornar as atividades do meu grupo a longo prazo: iremos exterminar cada um dos vermes responsáveis por aquele atentado. Vingaremos a sua família e tantas famílias que foram destruídas pela ambição desses malditos.
- Creio que mais mortes não apagarão as vidas perdidas...
- Mas impedirão que outras se percam. Eu aceitei fazer parte daquele horror e coloquei meus homens em risco quando não executei a ordem, porque sabia que, se recusasse, alguém o faria em meu lugar e eu não conseguiria salvá-la.
- E quem são os homens dessa lista?
- Nós ainda não fizemos a lista, porque estudaremos, cuidadosamente, cada um dos possíveis alvos. Queremos descobrir quais realmente representam riscos e quais são apenas peões nesse jogo de xadrez.
- Eu espero que você faça a coisa certa no final.
- E eu lhe prometo tentar.
- Agora eu gostaria de ficar sozinha em meu quarto para digerir a informação que você trouxe até mim.
- Como queira. Voltarei mais tarde com comida ou, se preferir, você pode ir até a cozinha e escolher o que deseja almoçar.
- Agradeço muitíssimo. - Lena viu Henrique caminhar até a porta e refletiu sobre a verdade que ela também ocultara dele - Henrique...
- Sim.
- Eu gostaria de visitar o túmulo de meu esposo.
- Eu descobrirei onde ele está enterrado e prometo levá-la da maneira mais segura possível.
- Muito obrigada.
Lena sorriu enquanto Henrique fechava a porta, mas se sentiu extremamente culpada por não contar a verdade. Ela estava segura de que ele desejava saber se a lenda do Rosto da Morte era real e se aquele amor inocente que um dia tiveram, gerara uma vida. Mas ainda não estava pronta para responder. Não estava pronta para dizer que o fruto daquele amor sequer tinha chegado à vida.
...
- Lilian querida, eu fico muito feliz que tenha acordado.
Vicente e Rodrigo se tornaram muito amigos depois do fatídico casamento sangrento de Lena e essa amizade surgiu, em um primeiro momento, graças à assustadora semelhança entre suas vozes. Tal coincidência foi usada por ambos, muitas vezes, para se safar de situações um tanto quanto embaraçosas em ambientes pouco iluminados.
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O Destino de Lena
Literatura FemininaUm amor proibido, um casamento arranjado, um destino marcado. Lena teve a história escrita pelo pai no dia em que nasceu e, aos 18 anos, foi obrigada a se casar com o filho de um importante político, ainda que seu coração pertencesse somente ao herd...