XXI - Eu espero que você faça a coisa certa no final

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- Você poderia, por favor, me dar licença? - Ela sequer era capaz de olhar para o papel à sua frente - Eu gostaria de ficar sozinha para digerir essa informação.

- Eu não posso deixá-la sozinha após receber essa confirmação.

- Nesse momento a sua companhia é o que eu menos desejo. Por favor, saia daqui e não volte até que eu diga, pois sou capaz de matá-lo.

- Que culpa eu tenho dessa tragédia?

- Você sabe muito bem que é tão culpado quanto o maldito Rogério.

- Não havia nada a ser feito.

- Poderia denunciar às autoridades o que pretendiam fazer.

- As autoridades foram avisadas e o seu marido está morto por culpa desse aviso. Lena, entenda de uma vez o que eu lhe digo: o mundo é um lugar essencialmente ruim e nenhum de nós é forte o bastante para mudá-lo.

- Eu não pretendo mudar o mundo por completo, mas dou o melhor de mim todos os dias. E o que você faz? Se une ao seu clã de brutamontes para ajudar o mal a prosperar.

- Essa é a herança maldita que eu recebi de meu pai. Eu não posso deixar de ser quem eu sou, porque ninguém poderia me ver diferente. Mas esteja segura de uma coisa: depois do que aconteceu no dia de seu aniversário, eu prometo usar a minha influência sobre esse clã para tornar o mundo um lugar um pouco menos sombrio.

- O que quer dizer com isso?

- Eu quero dizer que já sei exatamente de que forma retornar as atividades do meu grupo a longo prazo: iremos exterminar cada um dos vermes responsáveis por aquele atentado. Vingaremos a sua família e tantas famílias que foram destruídas pela ambição desses malditos.

- Creio que mais mortes não apagarão as vidas perdidas...

- Mas impedirão que outras se percam. Eu aceitei fazer parte daquele horror e coloquei meus homens em risco quando não executei a ordem, porque sabia que, se recusasse, alguém o faria em meu lugar e eu não conseguiria salvá-la.

- E quem são os homens dessa lista?

- Nós ainda não fizemos a lista, porque estudaremos, cuidadosamente, cada um dos possíveis alvos. Queremos descobrir quais realmente representam riscos e quais são apenas peões nesse jogo de xadrez.

- Eu espero que você faça a coisa certa no final.

- E eu lhe prometo tentar.

- Agora eu gostaria de ficar sozinha em meu quarto para digerir a informação que você trouxe até mim.

- Como queira. Voltarei mais tarde com comida ou, se preferir, você pode ir até a cozinha e escolher o que deseja almoçar.

- Agradeço muitíssimo. - Lena viu Henrique caminhar até a porta e refletiu sobre a verdade que ela também ocultara dele - Henrique...

- Sim.

- Eu gostaria de visitar o túmulo de meu esposo.

- Eu descobrirei onde ele está enterrado e prometo levá-la da maneira mais segura possível.

- Muito obrigada.

Lena sorriu enquanto Henrique fechava a porta, mas se sentiu extremamente culpada por não contar a verdade. Ela estava segura de que ele desejava saber se a lenda do Rosto da Morte era real e se aquele amor inocente que um dia tiveram, gerara uma vida. Mas ainda não estava pronta para responder. Não estava pronta para dizer que o fruto daquele amor sequer tinha chegado à vida.

...

- Lilian querida, eu fico muito feliz que tenha acordado.

Vicente e Rodrigo se tornaram muito amigos depois do fatídico casamento sangrento de Lena e essa amizade surgiu, em um primeiro momento, graças à assustadora semelhança entre suas vozes. Tal coincidência foi usada por ambos, muitas vezes, para se safar de situações um tanto quanto embaraçosas em ambientes pouco iluminados.

O Destino de LenaOnde histórias criam vida. Descubra agora