VIII - Eles sequer conheciam ao certo o que era o amor

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— Não faça esforços Milena. — Virgínia pediu para a patroa, quando a mesma começou a se contorcer de dor na cama.

— O que está acontecendo? — Ela passou a mão pela barriga. — Estou sentindo muita dor, e me lembro de ter sangrado.

— Espere que o patrão venha lhe contar tudo o que aconteceu.

— Que patrão?

— O Pedro. — Ela viu a preocupação estampada nos olhos de Lena e se apiedou da patroa — Está bem, eu contarei, porque estou segura de que o patrão não conseguirá fazê-lo.

— Me diga logo, por favor.

— Infelizmente o médico não chegou a tempo e o seu bebê... O seu bebê...

— Está morto? — Virgínia apenas assentiu — Eu quero ficar sozinha. — A única parte ainda inteira de seu coração acabava de se partir em pedaços tão pequenos quanto os grãos de areia da praia que sempre sonhou conhecer.

— Mas o patrão pediu...

— Pouco me importa o que ele pediu. — Ela se virou para o lado oposto ao que a empregada estava — Me deixe em paz, por favor.

Assim que Virgínia saiu do quarto, Lena caminhou, com muita dor e dificuldade, até a janela e se sentou no parapeito para chorar e afogar, em suas lágrimas, todas as mágoas que sentia naquele momento. De lá, ela podia ver a movimentada cidade, que nem sequer sabia o nome ou onde ficava. Henrique pedira que ela o esperasse, porque o amor que os dois sentiam perduraria até a eternidade. Mas a perda do único fruto que restava daquele amor se perdera, e a jovem começava a duvidar de seu final feliz.

Já não conseguia mais se importar com nada disso. O único resquício da vida linda que levara — mesmo que trancada na fazenda do pai — ao lado da família e de Henrique tinha ido embora, e ela teria que se contentar em viver da melhor maneira possível ao lado daquele estranho que tanto se importava com ela, mas que também a fazia ver quão errada era sua forma de pensar. Talvez sua irmã jamais tivesse se enganado, e o amor, na verdade, fosse apenas fruto do costume.

A garota não conseguia entender aquilo que sentia. O ódio em ter os sentimentos controlados tão brutalmente se misturava à gratidão em relação ao carinho de Pedro. Ambos eram vítimas de pais inescrupulosos, capazes de cercear os sonhos dos próprios filhos em troca de poder, e Lena deveria aprender com o marido a ponderar seus sentimentos.

...

— É tão lindo poder levar alegria pra crianças que perderam seus pais ou foram abandonadas, não é mesmo Rodrigo? — Uma garota, de pele caramelo e cabelos cacheados e castanhos falou, enquanto guardava alguns livros em uma estante.

— Sim Lilian, é uma sensação muito gratificante. Eu não consegui fazer muito por minhas irmãs ou pelos meus sobrinhos, mas farei o possível para levar amor a crianças como nós.

Ele tentava, na medida do possível, levar a vida da melhor forma, ainda que se sentisse culpado por ser o único além do pai a levar sua vida normalmente. Felizmente o grupo de voluntários do orfanato da cidade lhe havia dado todo o apoio naquele momento difícil e ele se sentia agradecido por ter tido a oportunidade de se juntar àquelas boas pessoas dois anos antes da tragédia, pelas amizades que cultivou... Pela amizade de Lilian, que com o tempo se transformou em uma conselheira de todas as horas. Rodrigo se sentia bem com a presença da jovem, e isso lhe bastava.

— Creio que esse tenha sido nosso último trabalho do dia! — Ela sorriu, e seus dentes brancos reduziram sob a luz da pequena biblioteca.

— Estou de acordo.

O Destino de LenaOnde histórias criam vida. Descubra agora