Lena entrou em casa, desconcertada, olhando para o pingente em suas mãos, e nem percebeu que Rodrigo descia as escadas e caminhava ao seu encontro.
— Não me diga que perdi a partida de meu cunhado.
— O quê? — Ela se assustou ao ouvir a voz do irmão tão perto — Ah sim, o Pedro já foi.
— Me sinto um péssimo anfitrião.
— Ele sabe que você tem muitas obrigações a partir de agora e terá que estar descansado para isso. E você nem conseguiria vê-lo, está caindo uma chuva torrencial lá fora e meu marido precisou fugir de mim para conseguir viajar nessa situação.
— Vocês têm uma boa vida juntos, não é verdade?
— Muito melhor do que eu imaginei ter quando nos casamos. É fato que muitos casais funcionam na base da convivência, mas sinto que Pedro e eu construímos um laço ainda mais forte. Eu me sinto segura e completa ao lado dele, e tenho certeza de que ele se sente da mesma forma quando está comigo.
— Eu ouvi a boa conexão entre vocês na noite passada. — Ele disse, sério, mas sorriu ao ver o rosto de Lena corar instantaneamente.
— Eu não acredito que você escutou. Me perdoa por favor, eu sei que você e sua esposa estão passando por problemas e jamais foi nossa intenção cometer esse tipo de indiscrição.
— Não é culpa de vocês, fique tranquila, as paredes dessa casa são exageradamente finas e eu os coloquei muito próximos ao nosso quarto. Além disso, é normal que um casal tenha esse tipo de intimidade, ainda que essa não seja realidade em meu casamento.
— Eu já pedi que pare de castigar sua esposa dessa maneira, principalmente porque nada disso é culpa dela.
— Nós já conversamos e vamos procurar especialistas em cidades maiores, para descobrir como frear nossa reprodução. — Ele sorriu — A propósito, agora que seu marido não está, quero que me conte a razão pela qual um casal tão apaixonado e... — Ele parou para alguns instantes, tentando encontrar as palavras corretas após o que ouvira durante a noite — Bem, chamaremos apenas de apaixonados, mas desejo conhecer a razão e as alternativas que vocês tiveram para não procriar.
— Creio que lhe devo essa história, mas gostaria de conta-la em um local privativo.
— Vamos até o jardim dos fundos, garanto que ninguém nos incomodará.
Eles caminharam para os fundos da residência e se assentaram em um banco da varanda, de frente para o jardim encharcado.
— Eu já estive à espera de um filho.
— E o que aconteceu?
— Toda a situação do casamento e a descoberta da morte de nossa irmã me afetaram muito. Sofri uma ameaça de aborto em meio a uma discussão acalorada com meu sogro, conseguiram salvar o bebê, mas a segunda vez foi arrasadora e já não houve mais o que pudesse ser feito. Procurei algumas opiniões médicas e eles me disseram que o estresse não foi causador da morte de meu filho, mas sim que meu ventre não era o local mais apropriado para o crescimento de uma vida. E nunca mais aconteceu.
— Eu jamais imaginaria que você tivesse sofrido tanto. A vida foi demasiado cruel com você.
— Eu não vejo dessa forma. Poucos meses depois da morte de nosso filho nasceu o filho de uma das empregadas da casa, e aquela criança encheu nossas vidas de alegria novamente. André já é um rapaz, nosso afilhado, e estou com muita saudade dele nesse momento.
— E isso não foi doloroso para vocês?
— A princípio sim e eu sequer queria aceitar o convite para apadrinha-lo, mas logo percebi que as intenções de Virgínia eram boas e aceitei.
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O Destino de Lena
Literatura FemininaUm amor proibido, um casamento arranjado, um destino marcado. Lena teve a história escrita pelo pai no dia em que nasceu e, aos 18 anos, foi obrigada a se casar com o filho de um importante político, ainda que seu coração pertencesse somente ao herd...