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- 𝐌𝐀𝐈𝐓𝐄̂ 𝐎𝐍 -

Acha mesmo que eu ia querer largar tudo para trás, incluindo minha família (menos o meu pai), meu país e todos os meus amigos, só para ver homens suados correndo em volta de um campo atrás de uma bola e treinando todo santo dia? Pois é, a reposta é obviamente não.

Meu pai foi convocado para ser o novo técnico da seleção espanhola e do Barcelona, e eu (pra variar), vou ter que acompanhar ele durante TODO esse período de treinos e jogos da seleção, exatamente isso que você acabou de ler, TODO O PERÍODO DE TREINOS e JOGOS DA SELEÇÃO.

A viagem seria no dia seguinte e qualquer tempo perdido era um baita problema quando se trata de futebol, treinos e seleção espanhola.

Meu pai é super detalhista, preocupado e perfeccionista com tudo, então ele não perdeu um segundo sequer para se preparar e tentar me convencer de que seria um tempo de "pai e filha" muito bom e divertido.

Não sei quem ele queria enganar. Era óbvio que eu teria que ficar largada na cidade sozinha enquanto ele treinava a seleção, e que
ele estaria pensando o tempo todo no  desempenho e evolução dos meninos e não em "quais pontos turísticos da Espanha eu vou com a minha filha".

E enquanto eu pensava no quão minha vida se resumiria em passeios sozinha pela Espanha, shopping, comidas muito diferentes do que estou acostumada, e muito, muito frio eu permanecia deitada encarando a mala ao lado da minha cômoda.

Não enrolei muito para dormir, eu precisava descansar para o dia de amanhã, que eu já sabia que seria cansativo e bem longo.

Desligo o abajour ao meu lado e fecho os olhos.
Um longo dia de novidades e possibilidades me aguardava, e no fundo, desde o início... eu sabia disso.

𝑫𝑰𝑨 𝑺𝑬𝑮𝑼𝑰𝑵𝑻𝑬

Eu havia acordado na maior pressa, o barulho alto do despertador do meu pai conseguiu me acordar do quarto do lado, mas adivinhem? o dono do despertador que acorda qualquer um (menos ele) permanecia dormindo. Mas depois de muita luta, ambos já estavam acordados e prontos pra ir.

Já estávamos no carro, a caminho do aeroporto, mas eu não conseguia aceitar aquilo, de jeito nenhum.

Não acredito que me arrastou pra mais uma das suas arriscas com times que ficam do outro lado do mundo. - Eu disse, com a cara completamente fechada.

Pensei que iria ficar empolgada, já pensou? conhecer os estádios, aquela ansiedade toda e o frio na barriga na hora dos jogos. Porque não tenta pensar no lado bom da história? - Meu pai disse, tentando me convencer, pela milésima vez.

Grande coisa, pai. - Eu disse, mas senti que deveria ter ficado quieta, assim eu me poupava de qualquer briga ou meu pai citando a morte da minha mãe de novo, e de novo.

Eu sei que não é a mesma coisa sem a sua mãe. - Ele disse.

Eu não disse? É sempre a mesma coisa, mas ele estava certo.

Você acha que eu também não sinto a falta dela? - Ele disse com um tom de voz que de longe eu notei que queria chorar.

Foi como levar uma facada, ou um tiro, no ponto mais fraco do meu peito.

Desde a morte da minha mãe, a minha vida e a vida do meu pai tem se tornado um verdadeiro pesadelo, e eu sei que essa porta aberta para ser técnico da seleção espanhola e do Barcelona foi uma luz no fim do túnel na vida dele, mas é difícil deixar tudo para trás com a dor do luto te acompanhando o tempo todo, é difícil aceitar uma nova etapa depois de tanto, tanto tempo.

Ele sabia que eu sentia a falta dela, e que eu vivia aquela dor do luto mais do que qualquer um.

Eu permaneci calada, mas o meu silêncio falou mais alto, ele sabia que eu precisava de apoio naquele momento, que eu não queria fazer aquilo sem Ela, Ela era a nossa guia e nossa alegria a todo o momento. Que mesmo escondendo a dor, eu sentia ela da forma mais intensa possível, e mesmo que eu inventasse outros milhares de motivos para odiar essa viagem, eu só não queria ir por causa Dela, porque sem Ela, nunca seria a mesma coisa.

O motorista estacionou o carro, já no aeroporto, e foi trazer as malas.

Meu pai se direcionou até mim, ainda com aquele tom de voz com um fundo de choro que só eu e a mamãe sabiamos reconhecer...

Eu estava parada olhando para o aeroporto, aquele frio na barriga e o nervosismo de uma nova etapa da vida se iniciando tomava o meu corpo.

Ele se virou para o aeroporto e abraçou o meu ombro com força, meu olho se encheu de água e a única coisa que eu consegui fazer foi derramar algumas lagrimas e pensar em tudo que o novo poderia me proporcionar.

Mesmo que eu tentasse ver o lado bom de tudo isso, o luto tomava conta e a saudade da minha mãe falava muito, muito mais alto.

Só falando da minha mãe, ele conseguiu me atingir, trazer aquele meu lado fraco novamente, aquele que tinha sido completamente dominado pela perda da pessoa que eu mais Amei na minha vida.

Você precisa passar a página, eu sei que dói, estamos na mesma folha, na mesma história, vivendo o mesmo luto, mas você precisa aceitar que tem uma nova etapa iniciando na sua vida. Não deixa o luto tomar conta de você assim. - Meu pai disse, apoiando minha cabeça em seu ombro e dando um beijinho.

Eu me virei para ele, desencostando minha cabeça de seu ombro e dei-o o abraço mais forte que eu consegui, era a única coisa que fazia eu me sentir segura.

Você sabe que eu te amo, não sabe? - Ele disse, assim como disse todas as outras vezes que precisei de consolo e ele estava ali, sempre certificando-se de que eu saiba que ele esta ali para tudo sempre.

Eu chorei em seu ombro por alguns longos segundos e me senti a pessoa mais segura e corajosa possível ao seu lado.

Eu precisava do meu pai mais do que tudo naquele momento, e eu ainda preciso.

Quando você se sentir pronta... - Disse meu pai, olhando diretamente para o aeroporto e saindo dos meus braços.

Vamos. - Eu disse.

Eu não estava pronta, mas como meu pai disse, eu precisava virar a página, e aceitar que uma nova etapa da minha vida estava para começar.

𝐌𝐈𝐃𝐅𝐈𝐄𝐋𝐃 - PEDRI GONZÁLEZOnde histórias criam vida. Descubra agora