Capítulo 16 - Virei um cego (Animus)

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-ARGH!! - Começo a tossir desesperadamente, tentando tirar a água salgada de meus pulmões. Abro meus olhos lacrimejados para ver quem fez aquilo, e vejo Victor segurando um balde de couro, ainda pingando algumas gotas da água que ele usou pra jogar em mim. - Porque diabos você fez isso!? - Ele vira e se senta em volta da fogueira, que fervia água e preparava um chá de ervas apenas com o calor das brasas.

- Se eu fosse um templário, você já estaria morto. - Diz sem mesmo se virar. - Você tem um sono muito pesado.

Meus músculos protestam quando levanto, mas ignoro e finjo que não tenho nada. Não quero que Victor veja que já estou com dores musculares. Vou até a fogueira e me sento ao lado dele, me servindo do chá e tomando-o rapidamente. Fico sentado esperando Victor terminar o dele.

- Espere aqui. - Diz ele enquanto se levanta e caminha até onde minhas coisas estavam apoiadas. - Todos nós temos 6 sentidos: Olfato, paladar, visão, audição, tato e a razão. Porém, confiamos muito na visão, e consequentemente esquecemos os outros sentidos. - Ele pega minha pequena trouxa, e a abre, jogando todos os meus pertences no chão.

- Ei!! - ele me ignora e segura apenas o pano que servia para juntar as coisas.

- Hoje você aprenderá a usar seus outros sentidos. Será como um cego aprendendo sobre o mundo. - Ele me dá o pano. - Amarre com força em sua cabeça, de forma que não dê para ver nada de jeito nenhum. - Olho para ele hesitante, mas acabo obedecendo.

- Pronto. E agora? - Assim que pergunto, sinto minha nuca sendo chutada com força, fazendo-me cair de cara na areia. Tiro o pano com raiva. - MAS QUE DIABOS VOCÊ PENSA ESTAR FAZENDO!?

- Meu chute fez um grande barulho enquanto estava indo para a sua cabeça. Se você estivesse atento aos sons a sua volta, com certeza teria se defendido. - Diz com uma calma que me fez ficar com mais raiva ainda.

- Isso é loucura! É impossível fazer algo assim.

- É mesmo? Então me passe o pano. - Nem é preciso dizer outra vez, jogo o pano em sua mão, e ele rapidamente o coloca em seus olhos. - Tente me atacar. Vamos, de qualquer forma e direção. - Normalmente eu hesitaria em fazer algo do tipo, mas quero provar pra ele que é impossível se defender de um golpe as cegas.

Silencioso como um puma, vou para trás de Victor e me preparo para dar um chute em suas costas. Porém, ele se vira abruptamente e para o chute no ar. Agilmente, ele joga o corpo para a frente, empurrando minha perna, fazendo-me perder o equilíbrio e cair.

Ele tira o pano de seus olhos.

- Impossível, é? Pois eu acho bem possível.

- Mas.. Como?

- Esteja atento aos sons a sua volta. Sempre. Nunca deixe de manter os ouvidos a postos. Tudo faz barulho. Um simples ruído pode se tornar um estrondo se você prestar atenção. Respire fundo e concentre-se em tudo. - Diz e joga o pano em mim. - Vamos. Não temos o dia todo.

Coloco o tecido no rosto como da última vez. Me levanto as cegas e respiro fundo, tentando me concentrar em tudo.

Consigo ouvir o barulho calmo das ondas do mar, as gaivotas no céu, a leve brisa roçando meu rosto.. Tudo. Depois de algum tempo concentrado, consigo ouvir a leve respiração de Victor, seguido por alguns passos se aproximando. Logo depois escuto algo chegando perto de meu rosto.

Instintivamente coloco a mão na frente, bem no momento em que um punho chega nele. Ainda segurando o braço de Victor, me protejo de outro soco que vinha para meu abdômen.

Uau.

- Consegui! - Exclamo animado, porém a animação dura pouco, pois levo uma rasteira de Victor e caio.

- Não se precipite. - Levo a mão até o pano, porém Victor me impede de tirá-lo. - Hoje você não vai tirá-lo por nada. - Me levanto e fico esperando. - Não deixe de prestar atenção a sua volta, e não fique tão animado quando conseguir fazer algo. Isso te distrai.

- Mas do que adianta fazer esse tipo de treino se eu não vou precisar? Afinal, basta olhar em volta..

- Não? Bem, nós assassinos trabalhamos nas sombras, especialmente de noite. É bem difícil enxergar algo. Dependemos bastante da audição. Mesmo que você não seja um assassino, ataques furtivos sempre acontecem. Principalmente pelas costas. Esteja atento que você conseguirá ouvir a pessoa chegando, e consequentemente se defender. - Fico digerindo suas palavras por alguns segundos. "Até que ele tem razão."

- Vamos. Me ataque. Não temos o dia todo.

🔻🔻🔻

Treinamos até ficar bem de noite sem parar para descansar.

Como meus olhos ficaram vendados o dia todo, Victor me contou mais sobre os assassinos, sempre com o intuito de me distrair dos sons que ele fazia. No começo eu não prestava atenção no que ele dizia. Sempre mais focado no barulho de seus passos. Mas depois de um tempo a defesa começou ser automática, e incrivelmente eu conseguia prestar atenção em tudo ao mesmo tempo, e consequentemente comecei a prestar mais atenção no que ele dizia.

Eu não sei porque, mas me deu uma vontade de me tornar um assassino também. Mas é claro que não disse isso para Victor.

Ele disse que eu estou progredindo, e que com mais alguns dias de treino eu estaria pronto para continuar minha jornada.

Não sei porque, mas espero que esses dias demorem pra chegar...

Assassin's Creed - LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora