Capítulo 29 - De volta a Recife (Animus)

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Estava voltando para Recife. Já era o meu terceiro e último dia de caminhada. O frasco já estava escondido em uma caverna em que eu brincava quase todo dia quando era pequeno. (N.A: Por isso que a Alice sabia onde ficava sem ter visto ele escondendo  antes 😉). Duvido muito que alguém o encontre, pois até cavei um buraco para escondê-lo.

Agora que o frasco estava seguro, pude me focar em Cornélius. Victor disse os prováveis locais que ele estaria, além de contar todos os seus pontos fracos.

Esse é o lado positivo de se ter treinado o inimigo.

O primeiro provável local que ele estaria era um campo não muito longe daqui que ele usava para criar gado. Minha viajem estava muito devagar. Sabia que demoraria bastante tempo para chegar no campo a pé, mas mesmo assim segui minha jornada. Depois de algumas horas de caminhada, finalmente consigo avistar uma cerca de madeira que indicava o começo da propriedade de Cornélius.

Pulo a cerca sem nenhuma dificuldade e começo a andar em direção a pequena cabana que havia depois das plantações. Felizmente não tinha nenhum guarda ali. O que facilitou, pois não tive que ficar me escondendo a todo o momento.

Quando finalmente chego na cabana, me agacho de forma que não dê para me ver pela porta ou janela.

Agora eu só precisaria distrair o gato.

Pego o pedaço de barbante com uma bolinha preta na ponta que de longe lembrava um rato dado à mim por Victor e vou até a janela, jogando o "rato" por ela em silêncio total.

Quando sinto que a bolinha tocou o chão, faço um barulho proposital batendo o joelho na parede de leve, mas o suficiente para o gato ouvir.

Pelo jeito a armadilha funcionou, pois não demora quase cinco segundos quando sinto um leve puxão no barbante.

Com movimentos rápidos, porém leves, vou mexendo o barbante para simular um rato. O gato não percebe que é uma armadilha e continua brincando com a bolinha. Bruscamente puxo o barbante bem pra cima, de forma que a bolinha alcançasse a batente da janela. Como o esperado, o gato pula. Consigo ver sua pata branca e peluda tentando alcançar a bolinha, porém o pulo não havia sido tão alto.

Ele faz outra tentativa, mas antes dele tocar na bolinha, puxo-a bruscamente para mim. Antes de cair, o gato finca suas garras na madeira e usa isso para se impulsionar para frente. Ele escorrega com as patas traseiras antes de conseguir pular para o outro lado, fazendo um pouco de barulho. Ele mal pousa no chão e então eu o pego pelas costas, segurando com força sua boca para impedi-lo de miar.

- Lúcifer? - Consigo escutar Cornélius chamando de outro cômodo. "Lúcifer, hein?" Encaro o gato assustado. "De fato, você tem cara de Lúcifer" penso comigo mesmo. Escuto os passos de Cornélius se aproximando da janela. Faço um esforço tremendo para não deixar Lúcifer escapar. Ele se debatia e tentava usar as patas traseiras para me empurrar e então sair, mas eu consegui segurá-lo.

Não movo um músculo e fico colado na parede em baixo da janela. Consigo escutar a respiração de Cornélius acima de mim. Sei que não posso olhar para cima, pois ele notaria meu movimento e olharia para baixo.

Depois de muito olhar pela janela, Cornélius dá as costas e se afasta. Solto um suspiro de alívio e coloco uma das mãos dentro de minha blusa, e tiro de lá uma erva sonífera que Victor usava para dar para mim quando me feria gravemente nos treinos, e ele então poder curar-me sem que eu não sentisse nada.

Com alguma dificuldade, coloco a erva na boca de Lúcifer e o faço mastiga-la. No começo ele se debate tanto que quase deixei que escapasse. Porém conforme os minutos iam passando, ele foi ficando cada vez mais mole, até que finalmente cai no sono.

"Agora só falta Cornélius"

Com cuidado, coloco-o em baixo da janela e me levanto, apoiando-me no batente para me certificar de que não havia ninguém na sala, e então pulo silenciosamente.

Atravesso a sala pé ante pé, e espio pela porta do primeiro cômodo que vejo. Felizmente era o certo, e encontro Cornélius sentado de costas para a porta escrevendo algo em uma folha com uma pena.

Ativo minha Hidden blade direita e em silêncio caminho até ele. Quando estou a dois passos dele, levanto a mão acima da cabeça e me preparo para desce-la na diagonal, pois como Victor me disse, seu ponto fraco é o lado esquerdo. Pretendia fazer o corte rápido e fatal, de forma que ele nem percebesse o que acontecera. Porém quando estou descendo o braço, algo inesperado acontece:

Cornélius levanta o braço esquerdo e segura minha mão antes que eu pudesse chegar.

- O Victor chegou mesmo a pensar... Que eu não treinaria meu lado esquerdo? Que depois de todos esses anos.. Eu continuaria tão ingênuo a ponto de ignorar minha falha e não treiná-la? - Ele diz em um tom calmo ainda virado para o papel e com a pena na mão desocupada. - Há! - Ri sarcasticamente. - Ele continua o ignorante ingênuo de sempre... - Então se vira pra mim, ainda sem soltar meu punho. - Sabe jovem assassino, é uma pena que você não tenha tido a mesma sorte que eu e ter sido.. - Ele faz uma breve pausa tentando achar as palavras certas para continuar a frase. - ...resgatado pelos templários no dia da cerimônia de iniciação dos assassinos. Victor já deve ter lhe contado sobre como me traíra. Como ele teve a coragem de dizer que eu era como um filho para ele, e um dia depois ter me apunhalado pelas costas me deixando com o inimigo. Mas sabe.. Até que foi bom. Agora vejo que quem é o inimigo são os assassinos, e não os templários.

"Você é habilidoso, tenho que admitir.. Com mais alguns anos de treino árduo você poderia até ser considerado uma ameaça. Seria um pecado desperdiçar tamanha habilidade sem lhe dar ao menos uma chance.. Então, gostaria de ser meu ajudante se juntando aos templários? Juntos poderíamos não só ter controle de muitas terras como também sermos praticamente reis! - Pondero sobre o assunto. Não que eu esteja hesitante em relação a sua proposta, é claro que não trairei os assassinos. Mas o que ele me disse me fez pensar... Porque ele iria querer um assassino no bando mesmo com a possibilidade de traição? Não acho que seja só por causa de minhas habilidades.. Deve haver algo
mais por trás disso. Vingança contra Victor? Talvez.."

- Você sabe muito bem que eu nunca me juntaria à você! - Digo firmemente.

- Então é uma pena que eu tenha que matá-lo.. - Diz claramente decepcionado. Ele solta meu braço e se levanta em um giro. Antes que eu possa fazer qualquer coisa, ele pega sua espada em cima da mesa e tenta me atacar.

Consigo me defender com a lâmina oculta, e com a outra mão saco meu machado. Avanço em sua direção e desfiro um golpe em sua cabeça, que é defendido por sua espada. Faíscas saem quando a lâmina da espada raspa contra o cabo de meu machado. Penso em ataca-lo com minha Hidden blade, porém ele é mais rápido colocando sua mão dentro do casaco e tirando de lá uma faca de tamanho médio. Com um movimento rápido, ele coloca um pé à frente e tenta atacar minha cabeça.

Por extinto, jogo a cabeça para trás para tentar desviar, porém não sou rápido o bastante e ele consegue acertar minha boca, fazendo um corte profundo que ia desde o nariz até o queixo. O sangue começou a jorrar como um rio, e eu comecei a ficar tonto pela perda de sangue.

Foi instintivo: eu coloquei a mão no rosto.

E esse foi o meu maior erro.

Cornélius avança em minha direção segurando a faca firmemente.

Tudo o que consegui sentir depois foi o metal gelado em contato com o sangue quente de meu abdômen.

Assassin's Creed - LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora