Capítulo 33 - Recuperado (Animus)

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- Vamos, Teçá. - Escuto uma voz familiar dizendo, porém não consigo identificar de quem é. Nem me importo. Quero voltar pra clareira.

Para o meu pai.

Sinto que um braço forte tentava me levantar, porém ele está com dificuldade em fazê-lo. A dor em meu abdômen está insuportável. Sinto o sangue jorrando sem parar dele.

- Aguenta firme, Teçá. Vamos. Lute! - Agora consegui identificar o dono da voz. Era Victor. Ele continuava tentando me levantar do chão. Prendo a respiração e faço um esforço tremendo nas pernas para me levantar. - Isso! Só mais um pouco de esforço. Vamos lá! - Ele tentava me motivar. Vou colocando uma perna na frente da outra lentamente. Victor estava praticamente me carregando, mas mesmo assim parecia que eu estava carregado o mundo eu minhas costas.

Nós finalmente saímos da casa. Já era possível ver as estrelas no céu. Estávamos nos guiando apenas pela luz da lua. Victor me faz parar de andar e dá um assobio alto e estridente. Ficamos parados por pelo menos dois minutos, quando consigo avistar um cavalo chegando ao longe.

- Kiquer! Finalmente! - Victor diz assim que o cavalo negro chega até nós. - Teçá, você acha que consegue subir no Kiquer? - Diz se voltando pra mim. Tiro levemente minha mão encharcada de sangue do ferimento para ver seu estado.

- Acho.. Que sim.. - Minhas palavras soaram fracas e roucas. Até eu me surpreendi. Caminhamos até Kiquer e coloco um pé no estribo. Logo em seguida, coloco a minha mão livre (a que não estava no ferimento) na sela, e com a ajuda de Victor dou um salto, passando a outra perna pela sela. Quase caio quando me sento, porém Victor consegue me segurar antes que isso aconteça.

Ele sobe rapidamente na sela e dá um cutucão de leve na barriga de Kiquer para fazê-lo calvagar

- Só tente não dormir, ok? - Ele diz. Assinto com a cabeça e tento focar na estrada à frente, me distraindo com a paisagem. Porém isso é mais difícil do que parece. Minha visão está ficando turva. O ferimento estava doendo a cada salto que o cavalo dava. Minha cabeça começa a ganhar o dobro do peso. Não aguentarei muito tempo com ela levantada. Quero dormir. Começo a abaixar a cabeça e... - Hey. Nada disso. - Victor olha pra mim. - Mantenha-se acordado.

- C-certo. - Procuro algum assunto para me distrair do sono e da dor. - Cornélius?

- Ele está morto. Você conseguiu Teçá! E não só eu, como muitas pessoas e índios estamos gratos por isso. - Uma onda de alívio me atinge.

"Eu consegui afinal, pai. Espero que esteja orgulhoso." Penso.

- Chegamos! - Diz já pulando do cavalo e me ajudando a descer. Ele me guia até a minha cama (um largo pano estendido na areia da praia) e pega a água e os medicamentos. Ele começa limpando onde a faca me atingira, e quando termina, vejo sua expressão surpresa.

- Nossa! Isso está pior do que parece! Vou ter que dar pontos.. - Ele se levanta e caminha até sua barraca. - Droga.. Isso era pra ser bebido em alguma ocasião especial... - Ouço ele resmungando baixinho enquanto pega uma garrafa verde escura. - Hey, Teçá! Você está me devendo um vinho!

- Vinho? O que é isso? - Pergunto. Porém ele me ignora e se aproxima de mim enquanto tirava a rolha da garrafa e me entregava.

- Beba rápido antes que eu me arrependa. - Ele diz. Pego a garrafa levantando levemente a cabeça e a viro.

A bebida é horrível. Sinto ela queimando quando passa pela minha garganta. Ameaço acuspir, porém Victor me contém.

- Você vai se arrepender se cuspir. - Faço um esforço para engolir, mas não consigo terminar com a garrafa. Ele pega um pedaço de pano e me entrega. - Morda isso caso tenha vontade de gritar. Não queremos atrair atenção de guardas. - Assinto com a cabeça e fecho os olhos. Essa bebida é meio estranha. Estou começando a ficar tonto.

Sinto Victor colocando a mão em meu ferimento e momentos depois sinto uma agulha perfurando minha pele. Não contenho um gemido de dor, e pego o pano para colocar em minha boca.

Algo me diz que essa noite vai ser longa.

- Obrigado por tudo o que me ensinou, Victor. - Digo enquanto amarrava minha aljava nas costas. Já havia se passado um mês desde a morte de Cornélius. Se quiser um resumo do mês não vai conseguir muita coisa. Meu ferimento demorara pra cicatrizar, principalmente por Victor ser um péssimo costureiro. - E também por ter cuidado de mim durante esse mês.

- Eu que agradeço, garoto. Você me ensinou muito mais. - Diz. - Então.. Salvador?

- Sim.

- Quando pretende voltar pra sua tribo?

- Não faço ideia. Mas acho que depois que eu voltar de Salvador, talvez eu faça uma visita lá.

- Bem, boa sorte. Lembre-se: o nome do templário que procura é Rodrigo.

- Certo. Espero lhe ver em breve.

- Eu também, garoto. - Ele fica pensando por alguns segundos. - Cuidado com as gatinhas. Elas adoram cicatrizes na boca. - Diz e depois começa a rir.

Não entendo a parte das "gatinhas", mas não pergunto nada. Apenas o ignoro. Victor sempre brinca comigo por eu não entender muito essas coisas dos homens brancos, e mais ainda pelas duas novas cicatrizes que Cornélius me fez.

- Bem.. Até um dia desses. - Digo dando um aperto de mão forte em Victor.

- Até. - Então eu me viro e começo a minha longa caminhada.

Dessa vez sozinho e renovado para que der e vier.

Assassin's Creed - LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora