Capítulo 28 - Mãe?

486 52 21
                                    

A expressão de surpresa que eu fazia estava evidente até pra mim. Minha mãe estava tão surpresa quanto eu.

Seus braços vacilaram, o que deu a chance de Peter fugir, porém ela é mais rápida e o pega pelo colarinho antes que ele vá mais longe. Ficamos em silêncio nos encarando.

Até Bartholomeu estava surpreso. Olhando ora pra mim, ora pra minha mãe. Por fim, ela diz:

- F-filha? O que faz aqui?

- Eu é que pergunto! Não me diga que você é uma.. Templária..

- Eu é que digo! Pelo visto, você puxou o seu pai.. Escolheu o lado errado. - Ela abaixa a cabeça em forma de desapontamento. - Eu esperava mais de você..

- "Como o meu pai"? Então você sabia.. - Subitamente me lembro do que Henri disse quando estava me dando respostas pela primeira vez: "Uma templária assassinou seu pai, porque, como eu disse, ele era um dos melhores, e era um grande problema para eles..." - Isso quer dizer que..

- Sim, fui eu. - A raiva me invade. Como ela tem coragem de fazer isso?! E com o próprio marido..

- Porque?! Você não o amava?! Qual é. Ele era seu marido! - Minha vontade era de chorar. Queria socar algo e gritar. Mas me contenho. Se Artemus e Bartholomeu virem isso, com certeza eles usarão isso contra mim futuramente.

- Claro que eu o amava. Mas a Ordem vem em primeiro lugar. Sou uma templária. E isso vem antes de qualquer amor. Seu pai também colocava a Ordem dos assassinos antes até do que eu.

- Você é doente. - Solto.

- Talvez.. Mas quem não é? Matamos uns aos outros apenas porque acreditamos em coisas diferentes.

- Olha só o que temos aqui.. - Interrompe Bartholomeu sarcasticamente. - Mãe e filha.. Cada uma de um lado.. Altas revelações aqui. - Lanço um olhar mortal para Bartholomeu, porém ele não se intimida e dá de ombros. - Eu adoraria continuar ouvindo essa conversa.. Porém estamos com pressa.. Já devem estar desconfiando de minha ausência lá em Brasília.. Vamos direto ao ponto então. - Ele anda até Peter e coloca uma mão em seu ombro. - O seu amigo aqui irá morrer, a menos que você nos entregue o objeto, que sabemos que se encontra em seu bolso. Nos entregue que nós lhe entregaremos seu amigo aqui. E vivo, pode ter certeza.

- O que acontece se eu não entregar? - Desafio. Ele abre um pequeno sorriso enquanto responde.

- Matamos o seu amigo, e pegamos o objeto de qualquer maneira. - Penso em entregá-lo, porém isso ficaria muito suspeito.

- Está blefando. - Digo.

- Oh.. É mesmo? Ele faz um movimento de cabeça para a minha mãe. - Káfira, mostre a ela que não brincamos em serviço no . - Ela acena com a cabeça e saca sua espada. Com um movimento rápido, ela empurra Peter no chão, fazendo-o cair de joelhos. Sem mesmo hesitar, ela desce a espada, prestes a cortar seu pescoço, porém a interrompo no último segundo.

- PARE! - A espada para dois centímetros do Pescoço de Peter. Ele havia fechado os olhos, mas quando percebe que a sua cabeça ainda está no lugar, ele os abre lentamente. - Tudo bem, eu entrego. - Abaixo a cabeça, como se tudo estivesse perdido. Exatamente da forma que treinamos na noite anterior.

Coloco a mão no bolso, e dele retiro o frasco, esticando o braço para que ele pegue. Minha mãe levanta Peter bruscamente como se ele fosse apenas um saco de batatas e o empurra até mim. Ele anda cambaleante e cai nos meus braços. Seguro ele, impedindo que ele caia, e então minha mãe pega o frasco, entregando para Bartholomeu, que sorri triunfante.

- Ahh.. Como vocês são movidos a sentimentos tão banais... Obrigado, Alice. - Então ele se vira, seguido por Artemus e minha mãe e começam a voltar por onde vieram. Me viro para fazer o mesmo, com Peter se apoiando em mim, porém escuto eles parando de andar e minha mãe sussurrando alguma coisa para Bartholomeu. Não sei porque, mas tive a sensação de que eles descobriram.

- Peter, corra! - Digo. Ele me encara por alguns segundos, surpreso, porém me obedece e some na mata.

- Você se acha esperta, Alice? - Diz Bartholomeu, com uma clara irritação na voz. Me viro para eles.

- Depende.. Mas uma coisa é certa: eu sou bem mais esperta que você. - Assim que digo isso, ele fica vermelho de tanta raiva. Então ele estala os dedos.

- Já chega! Podem, atirar! - Assim que ele diz isso, vejo um monte de pontos de laser por todo o meu corpo. Olho em volta procurando pelos atiradores, e percebo que estão em cima das árvores. "Onde diabos o Henri está nessas horas?" penso. Levanto as mãos lentamente em sinal de rendição. Bartholomeu anda calmamente até mim, e fica tão próximo que até consigo sentir seu hálito nojento. - Onde o frasco verdadeiro está?

Olho para baixo, pensando no que dizer, porém algo inesperado acontece: um dos pontos vermelhos que estava em meu peito desapareceu! "Finalmente. Você demorou". Tenho que enrolar Bartholomeu enquanto os guardas morrem.

- Em um lugar. - Ele revira os olhos impaciente. - Vou lhe dar uma dica: ele está nessa floresta. - Ele começa a ficar mais impaciente a cada palavra que eu digo.

- ONDE ESTÁ?! - Grita no meu ouvido. Olho para baixo novamente, e vejo que há apenas um ponto vermelho em mim.

- Nossa. Mas que impaciência. Pensei que você gostava de desafios. Tá bom, tá bom. Te dou mais uma dica: ele está em cima de você. - Saco a minha espada com um movimento automático e ataco Bartholomeu, mas este é mais rápido e se esquiva do golpe.

Ele leva sua mão ao coldre e atira em minha perna sem hesitar. Não consigo desviar. A bala acerta em cheio minha coxa, fazendo eu cair de joelhos. Ele dá as costas e corre até minha mãe e Artemus.

- Quer saber? Cansei das brincadeiras dela. Matem-na! Artemus, você vem comigo, vamos pegar esse maldito frasco! - Ele grita, então apenas desaparece entre as árvores. Seguido por Artemus. Minha visão começa a embaçar quando minha mãe, ainda com a espada em punho, se aproxima de mim lentamente. Com dificuldade me levanto, apoiando todo o peso na perna boa.

Antes que ela possa chegar até mim, saco a pistola e tento atirar nela. Sei que não devo, ela ainda é a minha mãe. Mas nunca tivemos um relacionamento verdadeiro. Ela nunca se importou realmente comigo (como já disse) e agora, estou com mais raiva do que nunca dela. Não só por ela ser uma templária, mas também por ela ter matado o meu pai.

O primeiro tiro passa longe. Uns 90 centímetros pra direita. "Maldita perna" penso. Disparo novamente. Este acertaria ela, se não tivesse se esquivado. Ela continua se aproximando a passos lentos. Sem qualquer emoção no rosto ou qualquer vacilo. Percebo que eu não iria conseguir acerta-la de qualquer maneira com essa perna desestabilizando meus tiros, então simplesmente largo a arma e ativo a Hidden blade enquanto saco a espada com a outra mão.

Sei que Henri não vai poder me ajudar agora, principalmente porque ele deve estar ocupado com Bartholomeu e Artemus.

Minha mãe finalmente chega perto o bastante para desferir um golpe com sua espada sem mesmo hesitar. Coloco a Hidden blade na frente, aparando o golpe. Ela volta o braço e fica em uma posição de esgrimista e começa a andar a minha volta em círculos.

- Poderia ter sido diferente. - Diz enquanto tenta atacar minha outra perna em vão, pois defendo com a espada.

- Diferente como? - Tento atacar sua cintura com a espada, mas ela defende. - Eu ter virado uma templária?

- Isso seria o lado bom do "diferente". - Ela me ataca novamente, mas desta vez com sucesso. Ela consegue cortar o meu braço. Felizmente foi só superficialmente. Aproveitando a deixa, giro o corpo e enfio a Hidden blade eu sua mão, fazendo sua espada cair. Ela não demonstre sentir dor alguma. Pelo contrário: ela gira o corpo e com a mão esquerda, saca uma pequena pistola de seu coldre e mira em minha cabeça, porém não atira. - Você escolheu o lado errado, Alice. O lado perdedor. Embora não pareça, eu me importo com você. Estou lhe dando uma chance. Se junte aos templários que não precisarei puxar este gatilho. Por favor.

- É. Se importa comigo tanto quanto se importava com meu pai. - Ela abaixa a cabeça eu forma de desapontamento.

- Então eu não tenho outra escolha. Mas antes saiba que eu te amo. Adeus, Alice. - Ela diz isso, e sem mesmo hesitar puxa o gatilho.

Não tenho por onde me esgueirar, então simplesmente fecho os olhos esperando a morte. "Acho que vou me juntar a você antes do esperado, pai."

Assassin's Creed - LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora