A expressão de surpresa que eu fazia estava evidente até pra mim. Minha mãe estava tão surpresa quanto eu.
Seus braços vacilaram, o que deu a chance de Peter fugir, porém ela é mais rápida e o pega pelo colarinho antes que ele vá mais longe. Ficamos em silêncio nos encarando.
Até Bartholomeu estava surpreso. Olhando ora pra mim, ora pra minha mãe. Por fim, ela diz:
- F-filha? O que faz aqui?
- Eu é que pergunto! Não me diga que você é uma.. Templária..
- Eu é que digo! Pelo visto, você puxou o seu pai.. Escolheu o lado errado. - Ela abaixa a cabeça em forma de desapontamento. - Eu esperava mais de você..
- "Como o meu pai"? Então você sabia.. - Subitamente me lembro do que Henri disse quando estava me dando respostas pela primeira vez: "Uma templária assassinou seu pai, porque, como eu disse, ele era um dos melhores, e era um grande problema para eles..." - Isso quer dizer que..
- Sim, fui eu. - A raiva me invade. Como ela tem coragem de fazer isso?! E com o próprio marido..
- Porque?! Você não o amava?! Qual é. Ele era seu marido! - Minha vontade era de chorar. Queria socar algo e gritar. Mas me contenho. Se Artemus e Bartholomeu virem isso, com certeza eles usarão isso contra mim futuramente.
- Claro que eu o amava. Mas a Ordem vem em primeiro lugar. Sou uma templária. E isso vem antes de qualquer amor. Seu pai também colocava a Ordem dos assassinos antes até do que eu.
- Você é doente. - Solto.
- Talvez.. Mas quem não é? Matamos uns aos outros apenas porque acreditamos em coisas diferentes.
- Olha só o que temos aqui.. - Interrompe Bartholomeu sarcasticamente. - Mãe e filha.. Cada uma de um lado.. Altas revelações aqui. - Lanço um olhar mortal para Bartholomeu, porém ele não se intimida e dá de ombros. - Eu adoraria continuar ouvindo essa conversa.. Porém estamos com pressa.. Já devem estar desconfiando de minha ausência lá em Brasília.. Vamos direto ao ponto então. - Ele anda até Peter e coloca uma mão em seu ombro. - O seu amigo aqui irá morrer, a menos que você nos entregue o objeto, que sabemos que se encontra em seu bolso. Nos entregue que nós lhe entregaremos seu amigo aqui. E vivo, pode ter certeza.
- O que acontece se eu não entregar? - Desafio. Ele abre um pequeno sorriso enquanto responde.
- Matamos o seu amigo, e pegamos o objeto de qualquer maneira. - Penso em entregá-lo, porém isso ficaria muito suspeito.
- Está blefando. - Digo.
- Oh.. É mesmo? Ele faz um movimento de cabeça para a minha mãe. - Káfira, mostre a ela que não brincamos em serviço no . - Ela acena com a cabeça e saca sua espada. Com um movimento rápido, ela empurra Peter no chão, fazendo-o cair de joelhos. Sem mesmo hesitar, ela desce a espada, prestes a cortar seu pescoço, porém a interrompo no último segundo.
- PARE! - A espada para dois centímetros do Pescoço de Peter. Ele havia fechado os olhos, mas quando percebe que a sua cabeça ainda está no lugar, ele os abre lentamente. - Tudo bem, eu entrego. - Abaixo a cabeça, como se tudo estivesse perdido. Exatamente da forma que treinamos na noite anterior.
Coloco a mão no bolso, e dele retiro o frasco, esticando o braço para que ele pegue. Minha mãe levanta Peter bruscamente como se ele fosse apenas um saco de batatas e o empurra até mim. Ele anda cambaleante e cai nos meus braços. Seguro ele, impedindo que ele caia, e então minha mãe pega o frasco, entregando para Bartholomeu, que sorri triunfante.
- Ahh.. Como vocês são movidos a sentimentos tão banais... Obrigado, Alice. - Então ele se vira, seguido por Artemus e minha mãe e começam a voltar por onde vieram. Me viro para fazer o mesmo, com Peter se apoiando em mim, porém escuto eles parando de andar e minha mãe sussurrando alguma coisa para Bartholomeu. Não sei porque, mas tive a sensação de que eles descobriram.
- Peter, corra! - Digo. Ele me encara por alguns segundos, surpreso, porém me obedece e some na mata.
- Você se acha esperta, Alice? - Diz Bartholomeu, com uma clara irritação na voz. Me viro para eles.
- Depende.. Mas uma coisa é certa: eu sou bem mais esperta que você. - Assim que digo isso, ele fica vermelho de tanta raiva. Então ele estala os dedos.
- Já chega! Podem, atirar! - Assim que ele diz isso, vejo um monte de pontos de laser por todo o meu corpo. Olho em volta procurando pelos atiradores, e percebo que estão em cima das árvores. "Onde diabos o Henri está nessas horas?" penso. Levanto as mãos lentamente em sinal de rendição. Bartholomeu anda calmamente até mim, e fica tão próximo que até consigo sentir seu hálito nojento. - Onde o frasco verdadeiro está?
Olho para baixo, pensando no que dizer, porém algo inesperado acontece: um dos pontos vermelhos que estava em meu peito desapareceu! "Finalmente. Você demorou". Tenho que enrolar Bartholomeu enquanto os guardas morrem.
- Em um lugar. - Ele revira os olhos impaciente. - Vou lhe dar uma dica: ele está nessa floresta. - Ele começa a ficar mais impaciente a cada palavra que eu digo.
- ONDE ESTÁ?! - Grita no meu ouvido. Olho para baixo novamente, e vejo que há apenas um ponto vermelho em mim.
- Nossa. Mas que impaciência. Pensei que você gostava de desafios. Tá bom, tá bom. Te dou mais uma dica: ele está em cima de você. - Saco a minha espada com um movimento automático e ataco Bartholomeu, mas este é mais rápido e se esquiva do golpe.
Ele leva sua mão ao coldre e atira em minha perna sem hesitar. Não consigo desviar. A bala acerta em cheio minha coxa, fazendo eu cair de joelhos. Ele dá as costas e corre até minha mãe e Artemus.
- Quer saber? Cansei das brincadeiras dela. Matem-na! Artemus, você vem comigo, vamos pegar esse maldito frasco! - Ele grita, então apenas desaparece entre as árvores. Seguido por Artemus. Minha visão começa a embaçar quando minha mãe, ainda com a espada em punho, se aproxima de mim lentamente. Com dificuldade me levanto, apoiando todo o peso na perna boa.
Antes que ela possa chegar até mim, saco a pistola e tento atirar nela. Sei que não devo, ela ainda é a minha mãe. Mas nunca tivemos um relacionamento verdadeiro. Ela nunca se importou realmente comigo (como já disse) e agora, estou com mais raiva do que nunca dela. Não só por ela ser uma templária, mas também por ela ter matado o meu pai.
O primeiro tiro passa longe. Uns 90 centímetros pra direita. "Maldita perna" penso. Disparo novamente. Este acertaria ela, se não tivesse se esquivado. Ela continua se aproximando a passos lentos. Sem qualquer emoção no rosto ou qualquer vacilo. Percebo que eu não iria conseguir acerta-la de qualquer maneira com essa perna desestabilizando meus tiros, então simplesmente largo a arma e ativo a Hidden blade enquanto saco a espada com a outra mão.
Sei que Henri não vai poder me ajudar agora, principalmente porque ele deve estar ocupado com Bartholomeu e Artemus.
Minha mãe finalmente chega perto o bastante para desferir um golpe com sua espada sem mesmo hesitar. Coloco a Hidden blade na frente, aparando o golpe. Ela volta o braço e fica em uma posição de esgrimista e começa a andar a minha volta em círculos.
- Poderia ter sido diferente. - Diz enquanto tenta atacar minha outra perna em vão, pois defendo com a espada.
- Diferente como? - Tento atacar sua cintura com a espada, mas ela defende. - Eu ter virado uma templária?
- Isso seria o lado bom do "diferente". - Ela me ataca novamente, mas desta vez com sucesso. Ela consegue cortar o meu braço. Felizmente foi só superficialmente. Aproveitando a deixa, giro o corpo e enfio a Hidden blade eu sua mão, fazendo sua espada cair. Ela não demonstre sentir dor alguma. Pelo contrário: ela gira o corpo e com a mão esquerda, saca uma pequena pistola de seu coldre e mira em minha cabeça, porém não atira. - Você escolheu o lado errado, Alice. O lado perdedor. Embora não pareça, eu me importo com você. Estou lhe dando uma chance. Se junte aos templários que não precisarei puxar este gatilho. Por favor.
- É. Se importa comigo tanto quanto se importava com meu pai. - Ela abaixa a cabeça eu forma de desapontamento.
- Então eu não tenho outra escolha. Mas antes saiba que eu te amo. Adeus, Alice. - Ela diz isso, e sem mesmo hesitar puxa o gatilho.
Não tenho por onde me esgueirar, então simplesmente fecho os olhos esperando a morte. "Acho que vou me juntar a você antes do esperado, pai."
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Assassin's Creed - Liberdade
Historical FictionNunca havia passado pela cabeça de Alice que um dia ela se tornaria uma assassina. Bom, isso não teria acontecido com ela se uns agentes da Abstergo não tivessem invadido a sua casa naquelas férias de verão para roubar um documento de seu falecido p...